A Aeris conseguiu aval de credores para flexibilizar critérios de endividamento e prorrogar por 60 dias a amortização e o pagamento de juros remuneratórios de uma das emissões de debêntures feita pela companhia, suspendendo temporariamente o vencimento antecipado de instrumentos ou dívidas da companhia, em virtude de inadimplência contratual.
Aprovado nesta quarta-feira, 8 de janeiro, o acordo recebeu voto favorável das gestoras JGP, Icatu Vanguarda, Itaú Asset, XP Vista, Exploritas e Galápagos – representantes dos debenturistas -, desde que seja feita uma entrega, até 20 de janeiro, de um novo acordo de confidencialidade e à obtenção de standstill com os bancos Santander, BB e Votorantim sobre determinados contratos financeiros existentes. O standstill é um acordo formal que visa evitar o pedido de recuperação judicial ou a interposição de ações individuais, em busca da satisfação de um crédito.
Os representantes dos credores também concordaram que, até 28 de fevereiro de 2025, a Aeris não dê novas garantias a terceiros.
As aprovações foram necessárias porque, pelo contrato das debêntures, ao não pagar as obrigações no prazo, a dívida da Aeris poderia ter o vencimento antecipado, inviabilizando a continuidade da operação da companhia, que não tem recursos em caixa para fazer frente aos valores devidos.
O fim de 2024 da Aeris: dívida aumentando
A fabricante de pás eólicas registrou prejuízo líquido de R$ 56,7 milhões no terceiro trimestre de 2024, alta de 15,4% ante o prejuízo reportado no mesmo período de 2023, de R$ 49,1 milhões.
A dívida líquida era de R$ 552,5 milhões e a alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda, alcançou 3,2 vezes, maior que as 3 vezes verificadas na mesma fase de 2023. Considerando a dívida bruta de R$ 1,45 bilhão do fim de setembro, a empresa tinha R$ 813,5 milhões em amortizações previstas para este ano.
Com problemas relacionados à falta de novos contratos de geração eólica e previsões de dois anos desafiadores para o mercado eólico brasileiro, Alexandre Negrão, CEO da Aeris, declarou, em outubro de 2024, que a fabricante tem implementado ajustes estruturais para se adaptar à redução da demanda, um processo que se intensificou ao longo do ano.
Entre as estratégias elaboradas, a empresa tenta focar as atividades na prestação de serviços aos clientes e aposta na volta de Donald Trump à Casa Branca dos Estados Unidos para aumentar o número de pedidos, devido ao desmonte dos pacotes de incentivos às renováveis por Trump, o que poderia gerar uma corrida de empresas por subsídios antes do fim. Nesta semana, o republicano, que assume o cargo em menos de duas semanas, prometeu um decreto para suspender a implementação de parques eólicos offshore no país.
Em 9 de dezembro de 2024, a fabricante de pás informou que estava adotando medidas para aprimorar sua estrutura de capital, visando contribuir para a otimização da sua situação financeira e operacional.
Reestrutura de capital
Dentre outras medidas, a companhia iniciou tratativas com alguns de seus principais credores, e convocou os seus debenturistas (1° e 2° emissão) para renegociar termos e condições das debêntures.
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Dois dias após o anúncio, a empresa confirmou que seus acionistas controladores estavam em tratativa com a chinesa Sinoma Blade para uma potencial aquisição de parte das ações. Segundo reportagem do Pipeline, site de negócios do jornal Valor Econômico, a oferta inicial e não vinculante foi considerada pouco factível pela empresa, dadas determinadas pré-condições e exigências, que foram questionadas pelos sócios.
No momento, a Estáter atua na assessoria financeira da Aeris para avaliar sua atual situação econômica financeira e a viabilidade de uma possível reestruturação.