Opinião da Comunidade

No setor elétrico, a transformação pede passagem para a expansão

A extensão e a complexidade geográfica do Brasil trouxeram inúmeros desafios para a estruturação e ampliação do sistema elétrico e interligações regionais.

No setor elétrico, a transformação pede passagem para a expansão

Por: Luísa Blandy*

Fascinada pelo setor elétrico, modelos de negócio e pelo comportamento das pessoas e empresas, após mais de 16 anos de experiência, escrevi sobre a nova fase que se inicia, sob a luz do rico histórico do setor em paralelo às mudanças em curso.

A extensão e a complexidade geográfica do Brasil trouxeram inúmeros desafios para a estruturação e ampliação do sistema elétrico e interligações regionais e dentro do contexto histórico industrial e político do nosso país, é incrível observar toda a tecnologia desenvolvida para utilizar a água como principal recurso natural para gerar energia elétrica no território nacional, juntamente as termelétricas como fonte complementar. Além disso, como resultado da reforma do setor elétrico da década de 1990, foram instituídos os principais órgãos, ocorreram as primeiras privatizações, houve a desverticalização das atividades de GTD e o surgimento do mercado livre.

Como profissional atuante no setor desde 2008, vivenciei na prática a fase do setor que, particularmente, denomino como expansão. Como um breve exemplo, contribuí para a implantação de uma das maiores hidrelétricas do passado recente, UHE Jirau, que ampliou nosso parque gerador hidrelétrico e atuei com gestão de energia para geradores e consumidores em fase de crescimento e consolidação do mercado livre. Em paralelo, a fonte eólica ganhou protagonismo, iniciando a inserção de fontes intermitentes no sistema originalmente hidrotérmico.

Em meados de 2015, tomei uma decisão de transição de carreira e passei a ter a oportunidade de enxergar o setor de uma forma bastante peculiar: a visão do headhunter. De 2015 a 2022, em torno de 70% dos processos seletivos conduzidos pela nossa equipe se referiam a cargos novos nas companhias de energia, mais um indicador do movimento de expansão.

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Independentemente das crises econômicas, hídricas, movimentações políticas, pandemia, variação de moeda estrangeira, guerras e demais acontecimentos nacionais ou globais, a força do setor prosperou. A energia solar atraiu muitos investidores, a geração distribuída teve uma intensa aceleração e a transmissão chamou a atenção de companhias que decidiram estrear neste segmento. Acontece que este movimento está mudando.

A base da minha atuação profissional é conversar com líderes das companhias de energia e respectivas áreas de RH sobre seus desafios e estratégias no negócio e como isso se relaciona com o tema “pessoas”. E é interessante observar como as mudanças recentes no setor de energia vêm exigindo algo diferente das companhias, que vai muito além de um capex maior.                   

Por um lado, muitas oportunidades novas, como o surgimento do agente comercializador varejista e a abertura total do mercado livre, a expansão da eletromobilidade e toda a sua estrutura de carregamento, e, principalmente, a força da descarbonização em carácter global, convergindo grande parte das soluções para o Brasil, coroada pelo recente lançamento da Política Nacional de Transição Energética, juntamente com a Lei do Combustível do Futuro e o Marco Legal do Hidrogênio Verde.

Por outro, temos enfrentado desafios relevantes e desanimadores: cenário de preços baixos de energia, corte de receita dos geradores devido ao curtailment, prejuízos inesperados pela quebra de comercializadoras e os indesejados “jabutis” no âmbito regulatório.

Estes e outros fatos estão exigindo do mercado uma real transformação. Sob a perspectiva das companhias, a transformação tem acontecido em todas as camadas, desde a diversificação de portfólio de soluções e produtos, passando por eficiência de processos, até a reavaliação da estrutura organizacional e mudanças no perfil desejado de colaboradores.  

Durante 2024, principalmente no segundo semestre, houve uma grande consolidação e foi impressionante a quantidade de movimentos de aquisição de companhias e de formação de parcerias no setor elétrico, como, por exemplo, Comerc com Itaú, Eletrobras com Tim e Auren com Vivo.

No meio de tantas oportunidades novas, desafios que impactam negativamente os negócios e a falta de um direcionamento claro do governo em um contexto em que cada player defende seus próprios interesses, observo que é como se as companhias de energia estivessem dirigindo em uma estrada durante um nevoeiro denso. A boa notícia é que esta TRANSFORMAÇÃO atual é o caminho certo e imprescindível para realizar os ajustes necessários e então impulsionar EXPANSÃO ainda mais relevante e acelerada logo em seguida. Há muito a ser realizado para atender o “boom” dos data centers, solucionar os gargalos estruturais do nosso sistema, através, por exemplo, do armazenamento de energia e maximizar as oportunidades decorrentes da descarbonização (biocombustíveis, eletromobilidade, entre outros.

*Luísa Blandy é formada em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), atual sócia e VP da FESA Group e trabalha com Executive Search para o setor de energia. 

Cada vez mais ligada na Comunidade, a MegaWhat abriu um espaço para que especialistas publiquem artigos de opinião relacionados ao setor de energia. Os textos passarão pela análise do time editorial da plataforma, que definirá sobre a possibilidade e data da publicação.

As opiniões publicadas não refletem necessariamente a opinião da MegaWhat