O Brasil aumentou suas importações de gás natural liquefeito (GNL) em 2,4 bilhões de m³ em 2024. A maior procura se deu para geração térmica, em um cenário de baixa hidrologia no país.
Apenas em setembro e outubro do ano passado, o país importou o mesmo volume que em todo o ano de 2023, diz relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
Para 2025, a IEA espera um aumento nas importações de gás boliviano pelo Brasil, com a redução dos fluxos para a Argentina. Inicialmente, as remessas devem ser de 2 milhões de m³ de gás por dia, diz o relatório.
O levantamento também aponta que, enquanto o uso nas atividades de exploração e produção de petróleo elevaram o consumo de gás em 3,7%, o uso industrial caiu 3% entre janeiro e setembro de 2024 no Brasil.
Eventos extremos elevam demanda para geração elétrica
Globalmente, a maior demanda para gás natural em 2024 veio da indústria. Para geração elétrica, o estudo destaca que o principal fator para uso de gás natural foram eventos climáticos extremos, como a seca severa que levou à redução nos níveis das hidrelétricas no Brasil, com compensação pela geração térmica – situação parecida ocorreu na Colômbia.
O relatório também aponta ondas de calor na Índia e a tempestade Heather nos Estados Unidos como fatores importantes para o aumento no consumo de gás nos dois países.
“Estes eventos destacam a necessidade de uma análise cuidadosa para o investimento em ativos que possibilitam a entrega segura de gás, incluindo armazenamento de gás, assim como o desenvolvimento de mecanismos que permitam uma melhor flexibilidade no fornecimento”, diz o estudo.
Gás substitui derivados de petróleo – e o avanço de moléculas que podem substituir o gás
Além do aumento no consumo industrial, a IEA destaca que o gás natural vem substituindo cada vez mais derivados de petróleo em diferentes setores. No Oriente Médio, há políticas que incentivam a troca de óleo por gás para geração de energia, enquanto na China há rápida escalada no uso de caminhões movidos a GNL, com recorde de venda destes veículos em 2024. A agência menciona ainda que deve haver aumento no uso de GNL como bunker marítimo.
Enquanto o gás natural substitui fontes mais poluentes, moléculas renováveis também vêm aumentando sua participação. A produção global de biometano aumentou 15% em 2024, para mais de 10 bilhões de m³, puxada por plantas nos Estados Unidos e na Europa.
No Brasil, o relatório da IEA menciona a aprovação da lei do Combustível do Futuro, com o mandato para biometano. Na Índia, um mandato de 1% para biometano aprovado em 2023 passará a valer neste ano de 2025, com aumento gradual para 5% entre 2028 e 2029.
O estudo também menciona a aprovação, no Brasil, da regulação para hidrogênio verde, que deve destinar R$ 18,3 bilhões em incentivos fiscais para produtores de hidrogênio de baixo carbono.
“A lei estabeleceu um limite de intensidade de carbono relativamente alto (7 quilos de CO2 equivalente por quilo de hidrogênio) para acomodar métodos de produção baseados em biocombustíveis, como a reforma a vapor de etanol, mas o incentivo será proporcional à economia de gases de efeito estufa (GEE), recompensando assim caminhos menos intensivos em GEE”, registra o estudo.
Alta na demanda e oferta restrita devem tensionar mercado em 2025
A demanda global por gás natural aumentou 2,8% em 2024, o equivalente a 115 bilhões de m³, superando a taxa de crescimento na casa de 2% entre 2010 e 2020. O consumo foi puxado pelo uso industrial e pela forte expansão econômica de países asiáticos, que responderam por cerca de 45% do aumento da demanda.
Ao mesmo tempo, a produção de gás natural liquefeito ficou abaixo do esperado – aumentou 2,5% em 2024, ou 13 bilhões de m³, contra uma média de 8% de aumento entre 2016 e 2020. A razão para a desaceleração está em atrasos de projetos e em problemas de insumos de gás em alguns mercados. Para 2025, a IEA espera um aumento na oferta na casa de 5% com o ramp-up de projetos de GNL, especialmente nos Estados Unidos.
Outro fator que tende a tensionar o mercado em 2025 é a redução do alcance do gás russo, após fim do contrato que possibilitava o trânsito das moléculas por gasoduto que passava pela Ucrânia – o acordo tinha validade até 31 de dezembro de 2024 e não foi renovado pelo governo ucraniano. Com isso, a agência avalia que cerca de 15 bilhões de m³ de gás russo devem deixar de abastecer a Europa neste ano.
A situação não deve ameaçar a segurança energética da Europa, mas tende a aumentar as tensões sobre o mercado de GNL, avalia a agência internacional. Para suprir a falta do gás russo e o crescimento da demanda, a Europa deve aumentar suas importações de GNL em 15% neste ano, segundo as projeções da IEA.
Com as condições de mercado mais severas, o estudo calcula que a demanda global de gás deve aumentar menos de 2% em 2025, novamente com forte participação da Ásia, que deve responder por 45% do incremento neste ano.