Empresas

Raízen suspende novos projetos e prioriza reestruturação financeira

Raízen (Divulgação)
Raízen (Divulgação)

A Raízen está trabalhando na reestruturação financeira e na revisão do seu portfólio de ativos, com a pausa no lançamento de novos projetos, com o intuito de reduzir o endividamento no próximo ano-safra, que começa em abril. Em teleconferência sobre os resultados do terceiro trimestre do ano safra 2024/2025, Nelson Gomes, presidente da Raízen, disse que a empresa vive “senso de urgência” depois de sete anos de movimentações com alto grau de “complexidade e distração”.

No trimestre, que foi de outubro a dezembro de 2024, a Raízen teve prejuízo líquido de R$ 2,57 bilhões, revertendo o lucro de R$ 793,3 milhões contabilizados no mesmo ciclo do ano anterior.

“Tudo neste ciclo trouxe muita complexidade e distração, além de um aumento da nossa estrutura organizacional e, por consequência, dos nossos custos e, no final, um crescimento da nossa dívida, que foi amplificada pelo cenário macro[econômico], com a ascensão muito rápida da taxa de juros”, disse Gomes, completando que as ações necessárias serão tomadas para trazer a companhia de volta ao equilíbrio.

Nelson Gomes assumiu a presidência da Raízen em novembro do ano passado, já em meio à reorganização da companhia. Antes disso, ocupou diferentes cargos no grupo Cosan desde 2008, incluindo as presidências da holding e da Compass Gás e Energia.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE Minuto Mega Minuto Mega

Segundo o executivo, a empresa já iniciou alguns passos da nova estratégia e realizou uma reestruturação do seu primeiro nível da organização, “trazendo as pessoas que precisava trazer”.

Entre as mudanças, a Raízen pretende se concentrar nos negócios de açúcar, etanol e na originação de derivados necessários para distribuição na rede de postos, além das atividades na Argentina.

Redução da queima de caixa e reavaliação de ativos

Com o início da nova safra, a empresa implementará uma mudança cultural, mediante simplificação de estrutura, de processos internos e do portfólio. Além disso, a Raízen buscará garantir a eficiência operacional e fará uma revisão do portfólio de ativos, com foco na otimização da estrutura de capital.

De acordo com Rafael Bergman, diretor financeiro da companhia, a venda de ativos pode acontecer, desde que os projetos tenham o “valor adequado” atribuído.

“Temos bons ativos no portfólio e vamos buscar o melhor valor para eles. Vemos para 2025 e 2026 o início desta jornada, com foco em diminuir a queima de caixa da companhia. Dentro da otimização das estruturas de capital, que envolve eficiência, redução de portfólio e não começar novos projetos de crescimento, teremos um ciclo em que não vamos priorizar distribuição para os acionistas, já que a gente está no momento de preservar a caixa e melhorar as estruturas de capital”, disse Bergman.

Eficiência dos investimentos

A Raízen também buscará a eficiência dos investimentos, de uma maneira “saudável” para manter a segurança e a produtividade dos ativos para todos os negócios (etanol, açúcar, bioenergia e mobilidade).

Para o próximo ano, Bergman destacou que a empresa tem discutido internamente os investimentos, considerando o patamar de juros e o acúmulo de caixa com desinvestimentos.

Em relação às plantas de etanol de segunda geração, o diretor afirmou que a empresa tem duas plantas em processo de comissionamento, com a expectativa de entrar em operação em breve, e outras duas em fase de construção, com investimentos estimados de R$1,6 bilhão.

“Olhando para essas duas plantas em construção, não seria uma decisão que geraria valor interromper a construção no meio do caminho, pois são ativos que, na maturidade, gerarão caixa. Também não é o momento de iniciar novos projetos, vamos ‘digerir’ o portfólio que herdamos e tomar as decisões de desinvestimento dos ativos que não tem sinergia com os nossos negócios”, falou.

Segundo Bergman, a empresa tem a apoio de conselho para todas as decisões anunciadas e deve focar suas ações para levantar caixa para 2026.

“Temos um desafio de caixa para o ano de 2026. Por isso, tomamos a decisão de intensificar a jornada de revisão de portfólio, que é isso que pode trazer, além das ações de eficiência, um alívio de caixa e de endividamento no curto prazo. Mas, tudo vai depender das decisões que tomaremos e o horizonte de tempo de implementação”, afirmou o diretor financeiro.

Sobre especulações recentes de um aumento de capital, o executivo ponderou que a empresa está focada em “organizar a casa antes de pensar em outras alternativas”.

Última Safra

Entre outubro e dezembro de 2024, a Raízen registrou prejuízo de R$ 2,57 bilhões, revertendo lucro de R$ 793,3 milhões no mesmo período do ano passado. Segundo a empresa, o prejuízo do trimestre é decorrente da menor contribuição de trading de açúcar e etanol, evidenciadas pelos menores preços praticados.

Também ocorreu uma menor diluição dos custos fixos de produção, dada a queda na moagem e efeitos inflacionários sobre insumos agrícolas, diesel, mão de obra e serviços. A Raízen destacou ainda os efeitos não-recorrentes e sem impacto caixa no montante de R$ 618 milhões reconhecidos na etapa, compostos pela reversão de ganhos com instrumentos financeiros vinculados a contratos futuros de açúcar e etanol e pela desmobilização de determinadas operações de trading.

O Ebitda (lucros antes dos juros, tributos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ajustado foi de R$ 1,5 bilhão, com redução de 36% na base anual. Em contraste, a receita líquida fechou o ciclo em R$ 66,9 bilhões, alta de 14%.

Já a alavancagem, medido pela dívida líquida ajustada/Ebitda ajustado, saiu de 1,9 vezes para 3 vezes, com alongamento do prazo médio das dívidas para seis anos.

Em sua apresentação, Phillipe Casale, diretor de Relações com Investidores, destacou o impacto do clima seco e das queimadas, que atingiram boa parte da região centro-sul, como atividades que afetaram o desenvolvimento e na produtividade dos canaviais da empresa.