Gasoduto

Plano para transporte de biometano e gás argentino soma R$ 29,3 bi, avalia EPE

Foto: Free Images
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O Plano Indicativo de Gasodutos de Transporte (PIG) 2024, publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) nesta semana avaliou oito alternativas para transporte de biometano, interiorização do gás natural e da importação argentina, totalizando 2.336 quilômetros de projetos de gasodutos de transporte e R$ 29,3 bilhões de investimentos.

A EPE ainda calcula que os projetos resultariam em mais de 81 mil empregos e um impacto no Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de R$ 16,6 bilhões.

Se a edição de 2022 trouxe a priorização de atendimento a regiões metropolitana e capacidade de exportação do Sudeste para o Sul, o estudo de 2024 avalia a expansão da infraestrutura de gás natural e biometano, a integração gasífera na América Latina, a interiorização do gás e a conexão do biometano à malha integrada.

As alternativas para Brasil e Argentina

Durante os encontros da Cúpula do G20 em 2024, Brasil e Argentina assinaram um memorando de entendimento (MoU) para viabilizar a exportação do gás da reserva de Vaca Muerta ao Brasil.

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A estimativa é de uma movimentação de gás argentino de 2 milhões de m³/dia no curto prazo, aumentando nos próximos três anos para 10 milhões de m³/dia, até atingir 30 milhões de m³/dia em 2030.

Para a EPE, houve avanço nas explorações da reserva de Vaca Muerta, com possibilidade de preços competitivos na Argentina, e tendo o Brasil como interessado na compra do seu excedente.

Entre as rotas para viabilizar a oferta de gás natural argentino, o estudo destaca as rotas: via Bolívia com a inversão do fluxo de gás natural do gasoduto entre Bolívia e Argentina; via Paraguai, por meio da construção de gasoduto pelo Chaco Paraguaio; direto pelo Rio Grande do Sul, com conexão em Uruguaiana; via Uruguai, com interconexão no Rio Grande do Sul pelo território uruguaio, e importação de gás natural liquefeito (GNL).

“A opção mais rápida dentre as citadas é a inversão do fluxo do Gasoduto do Norte na Argentina para ofertar gás natural para o Brasil via Bolívia. Esta possibilidade de reverter o fluxo, atualmente no sentido da Bolívia para a Argentina, já foi também apresentada pela Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), empresa que opera o Sistema Integrado Boliviano de Transporte de Gás Natural”, diz trecho do PIG.

Com a reversão do fluxo, a YPFB passaria a transportar o gás argentino e o próprio gás boliviano, fornecendo-os para o mercado do Brasil, via conexão com o Gasbol no município de Corumbá, no Mato Grosso do Sul.

Adicionalmente, as incertezas quanto à capacidade de fornecimento de gás pela Bolívia podem vir a ser solucionadas por ofertas oriundas da Argentina. No entanto, a EPE destaca que, para que ogás argentino de Vaca Muerta seja exportado ao Brasil ainda seriam necessários investimentos na malha de gasodutos argentina.

A integração do biometano na malha de gasodutos

A intercambialidade do biometano com o gás natural o qualifica como um substituto ou complemento drop-in, que pode compartilhar as infraestruturas logísticas e equipamentos do gás de origem fóssil.

Para a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as atividades agropecuárias, junto aos resíduos urbanos, compõem um potencial de produção de biometano significativo que pode contribuir para diversificar e aumentar a oferta de gás de forma renovável no Brasil.

Até a publicação do plano indicativo, levantamento do Cibiogás (2024), apontava que o país tinha mais de mil plantas de biogás em operação, incluindo diversas matérias-primas e formas de aproveitamento energético, como a geração de energia elétrica, térmica, mecânica e a produção de biometano. 

Até a data de elaboração deste documento, havia oito produtores de biometano com autorização de operação da ANP, somando 615 mil m3/dia de capacidade instalada. Dessas instalações, seis obtêm o biometano de aterros sanitários, enquanto duas são ligadas a usinas do setor sucroenergético e realizam o aproveitamento de resíduos do processamento de cana-de-açúcar como principal matéria-prima.

Para a avaliação de gasodutos como alternativas de transporte do biometano e conexão com a malha, a EPE identificou uma concentração de usina próximas ao município de Sertãozinho, em São Paulo.

Assim, a região foi escolhida para a implementação de um ponto de recebimento do volume de biometano produzido pelo aglomerado de usinas (cluster).  A projeção da vazão de biometano das usinas disponibilizada no cluster de Sertãozinho foi de entre 600 mil m3/dia e 1 milhão m3/dia.

Considerando o biometano produzido a partir do biogás de aterros sanitários, o estudo selecionou a planta de produção de biometano no aterro sanitário em Seropédica, no Rio de Janeiro, a partir da qual será avaliado o transporte por duto até um ponto de interconexão na malha integrada. A vazão de biometano disponível no ponto de recebimento do duto proposto foi considerada igual à capacidade autorizada de 204 mil m³/dia junto à ANP.

Traçados avaliados pelo plano

  • Porto Murtindo/MS – Campo Grande/MS: alternativa que representa o trecho brasileiro do gasoduto de interligação entre Argentina e Brasil via Paraguai. Extensão de 392 quilômetros, capex de R$ 6,1 bilhões, impacto no PIB de R$ 3 bilhões e 14,9 mil empregos.
  • Uruguaiana/RS – Triunfo/RS: alternativa do PIG 2019 em reavaliação neste ciclo diante da possibilidade de aumento da integração gasífera entre Brasil e Argentina. Extensão de 593 km; capex R$ 6,8 bilhões; impacto no PIB de R$ 3,7 bilhões, e 18,2 mil empregos.
  • Siderópolis/SC – Porto Alegre/RS: também estudado anteriormente, a alternativa se caracteriza como uma duplicação do trecho extremo sul do Gasbol e busca ampliar a capacidade de atendimento de demandas em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, e do escoamento do gás argentino para outros estados. Extensão de 249 km; capex R$ 2,2 bilhões; impacto no PIB de R$ 1,6 bilhão, e 7,9 mil empregos.
  • Duque de Caxias/RJ – Taubaté/SP: alternativa que está sendo reavaliada diante dos desdobramentos recentes visando à construção da Ecomp Japeri, etapa predecessora à construção do gasoduto e ampliações das existentes Campos Elíseos/RJ, Vale do Paraíba/SP e Taubaté/SP.  Extensão 295 km, capex R$ 7,1 bilhões; impacto no PIB de R$ 3,8 bilhões, e 18,9 mil empregos.
  • Gasoduto Sertãozinho/SP – São Carlos/SP: alternativa para movimentar o biometano que venha a ser produzido pelo setor sucroenergético no interior do estado de São Paulo, permitindo que chegue até a malha integrada de gasodutos de transporte. Extensão 100 km; capex R$ 600 milhões; impacto no PIB R$ 400 milhões, e 2 mil empregos.
  • Gasoduto Seropédica/RJ – Japeri/RJ: início a planta de produção de biometano no aterro sanitário em Seropédica/RJ, que já está em operação, movimentando o biometano produzido na planta até a malha integrada de gasodutos de transporte, conectando-se à Estação de Transferência de Custódia (ETC) da NTS. Extensão 23 km; capex R$ 200 milhões; impacto no PIB de R$ 140 milhões e 680 empregos.
  • Iacanga/SP – Uberaba/MG: interiorização do gás natural em direção a Minas Gerais, abastecendo municípios no norte do estado de São Paulo e na região do Triângulo Mineiro, atendendo os setores agroindustrial, fertilizantes, siderúrgico, além de demandas não industriais e de municípios próximos à diretriz do duto. Adicionalmente, aliado à implantação de outros gasodutos, poderia interiorizar ainda mais a infraestrutura de gás natural no país. Extensão 260 km; capex R$ 2,9 bilhões; impacto no PIB de R$ 2,1 bilhões e 10,5 mil empregos.
  • Santo Antônio dos Lopes/MA – Imperatriz/MA: consiste em uma nova infraestrutura de transporte de gás natural tendo como origem a produção na Bacia do Parnaíba e dois novos pontos de entrega, em Açailândia e Imperatriz/MA. Extensão 422 km; capex R$ 3,4 bilhões; impacto no PIB R$ 1,8 bilhão e 9 mil empregos.