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Engie vê piora em cenário hídrico e maior volatilidade nos preços de energia

Para a companhia, pode haver antecipação do fim do período úmido

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Sede Engie Brasil/ Divulgação

A Engie avalia que as previsões de um cenário hídrico “extremamente positivo”, com consequente queda nos preços de energia, estão se revertendo diante da redução das chuvas, e projeta a possibilidade de uma antecipação do fim do período úmido. A empresa já vê aumento nos preços de energia e calcula que outros fatores além da hidrologia devem contribuir com maior variação nos preços.

“Nosso modelo de formação de preço está mais avesso a risco, está despachando mais termelétricas, antecipando termelétricas do segundo semestre ao primeiro. [Por isso] você tende a gerar preços bastante interessantes”, avaliou o diretor Financeiro da Engie, Eduardo Takamori, durante teleconferência sobre os resultados de 2024. “Você tem muito mais volatilidade também em função do maior impacto da afluência, combinada com a nossa matriz energética, que agora está fortemente dependente de recursos eólicos e solares”, complementou.

A Engie explica que sua estratégia é ter menor espaço de contratação para o curto prazo, então se dedica a entender os impactos desta volatilidade nos médio e longo prazos.

“Naturalmente, a gente fala muito pouca energia no curto prazo, considerando que a gente tem toda uma reserva hidrelétrica, uma reserva estratégica aqui, para fazer frente ao cenário de menos água, de hidrologia desfavorável. A gente está realmente protegido e monitorando o mercado para encontrar bons momentos de venda”, disse o gerente de Relações com Investidores, Rafael Bosio.

Critérios mais rigorosos com contrapartes de comercializadoras

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Takamori também comentou que o mercado tem sido mais rigoroso na relação com comercializadoras independentes e na análise de risco de contraparte, diante dos eventos que aconteceram no fim de 2024.

“Teve alguma perda de liquidez no final do ano, em função do estresse com as comercializadoras, mas parece que já tem estabelecido um mercado com maior critério na hora de fazer contratos com contraparte”, disse o executivo.

No começo de novembro, veio à tona as dificuldades da Gold Energia de honrar seus contratos, após aumento nos preços em meio a alta contratação, e ontem a empresa obteve uma medida cautelar para proteger contra execução de dívidas.

Engie vê curtailment em níveis semelhantes a 2024

No ano de 2024, a Engie teve uma média de 9% de curtailment em seus parques eólicos e solares, o que ficou acima da média de 8% do sistema interligado nacional (SIN) e dos 2% de cortes que a empresa teve em 2023.

O maior curtailment veio nos parques solares da empresa, com cortes de 16% da geração. Nos ativos eólicos, a restrição foi de 8%.

Na comparação com a carteira total de geração, considerando as hidrelétricas, entretanto, a empresa explica que os cortes de 2024 significaram apenas 1% de sua geração total.

Para 2025, a Engie espera níveis parecidos de cortes em geração renovável, por não haver previsão de grandes linhas de transmissão que possam escoar a energia das regiões onde estão seus empreendimentos, além do aumento na oferta de energia “compensado pela demanda”.

“Vamos continuar tendo 10% em média no ano, eventualmente piorando um pouco até 2028 quando entram as linhas de transmissão principais que vão permitir escoar a energia do Nordeste para o centro Sudeste – Sul”, prevê Takamori.

No quarto trimestre, os cortes foram de 8% da geração da companhia, mesmo nível do ano anterior.

Benefícios da venda de fatia da TAG

A diretoria da Engie também comentou sobre os benefícios da venda de 15% da Transportadora Associada de Gás (TAG), no fim de 2023.

Os executivos avaliam que alguns dos frutos da transação são a antecipação na operação comercial do parque eólico Serra do Assuruá, na Bahia, que atualmente está com 74% de operação, e o solar Assu Sol, no Rio Grande do Norte, que hoje tem 25% de sua capacidade instalada em operação comercial, além da aquisição dos ativos solares da Atlas, que somam 545 MWac de capacidade instalada.

“A gente viu, por exemplo, nesse trimestre, uma redução da necessidade de compra de energia de terceiros. Isso é a geração de valor desses novos investimentos, agora se materializando”, avaliou Rafael Bosio.

Resultados

No quarto trimestre de 2024, a Engie registrou lucro líquido de R$ 1,09 bilhão, com aumento de 15% na base anual. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) foi de R$ 1,97 bilhão, 9,4% superior do que no mesmo período do ano anterior.

A produção bruta de energia atingiu 6.110 MW médios, com retração de 8,7% em relação ao quarto trimestre de 2023. No ano, entretanto, a geração bruta aumentou 23,9%, a 6.173 MW médios. A fonte hídrica foi a responsável pela maior parte da geração, a 4,903 MW médios no trimestre e 5.211 MW médios no ano.