Opinião da Comunidade

Emissões de escopo 3: a nova fronteira na sustentabilidade de data centers

Luis Cuevas,
Luis Cuevas (Divulgação)

por Luis Cuevas*

O segmento de infraestrutura digital alcançou um feito notável nos últimos 15 anos. Desde 2010, o número de usuários de internet no mundo mais que dobrou, e o tráfego aumentou 25 vezes. Apesar da demanda crescente por data centers e outros recursos digitais, o setor evitou um aumento proporcional nas emissões de carbono graças a avanços em energia eficiente e renovável, além dos esforços de descarbonização. Contudo, a indústria ainda representa apenas 1% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) e enfrenta um crescimento exponencial impulsionado por tecnologias emergentes, como inteligência artificial (AI), aprendizado de máquina e criptomoedas.   

Essa expansão precisa ser acompanhada pela queda do carbono incorporado nos data centers e, para isso, a coleta de informações sobre resíduos atmosféricos é essencial. Embora alguns fornecedores já produzam Declarações Ambientais de Produto (EPDs) com conteúdo detalhado sobre o impacto ambiental, sua adesão ainda é limitada, dificultando a priorização de materiais de baixo carbono no design e na aquisição. Isso compromete a precisão no relato das efluências incorporadas para partes interessadas, como reguladores, e pode afetar contratos com clientes. O iMasons Climate Accord Governing Body — que inclui líderes como AWS, Google, Meta, Microsoft, Digital Realty e Schneider Electric — destacou a necessidade de maior adoção de EPDs para atingir as metas de redução de carbono.   

Os EPDs são documentos padronizados que fornecem insumos a respeito dos efeitos ambientais dos produtos, abrangendo emissões de Escopo 3 – o carbono incorporado. Com eles, proprietários e operadores de data centers podem estimar melhor a pegada de carbono total de suas infraestruturas, já que, atualmente, têm visibilidade somente sobre os escopos 1 e 2. Essa padronização é importante para facilitar comparações e avaliações consistentes, evitando estimativas imprecisas.    

A Avaliação do Ciclo de Vida (Lifecycle Assessment – LCA) é parte crucial dos EPDs, uma vez que observa os desafios ambientais de um produto desde a extração de matérias-primas até o descarte ou a reciclagem. Essa análise permite que proprietários e operadores escolham equipamentos e serviços alinhados aos objetivos de sustentabilidade, incentivando fornecedores a inovar por meio da concorrência.   

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O crescimento do mercado de data centers é inevitável e traz benefícios, como suporte a iniciativas ecológicas em outros nichos, redes elétricas otimizadas e redução do uso de mídia física. Pesquisadores da McKinsey estimam que a IA generativa pode adicionar até US$ 4,4 trilhões por ano à economia global. A capacidade de armazenamento de dados também deve crescer de 10,1 zettabytes (ZB) em 2023 para 21,0 ZB em 2027, com uma taxa de crescimento anual composta de 18,5%.   

Os escopos de emissões possuem as seguintes características:   

  • Escopo 1: diretas de fontes controladas pelo data center, como geradores e caldeiras, representando menos de 1% das emissões totais;  
  • Escopo 2: indiretas da compra de eletricidade, que podem ser reduzidas com energia renovável;   
  • Escopo 3: da cadeia de valor, englobando materiais de construção e equipamentos adquiridos que oferecem a maior oportunidade de diminuição de carbono. 

Embora muitos operadores já declarem escapes líquidos zero em suas operações diárias por meio de energia renovável e créditos de carbono, as emissões de escopo 3 ainda representam um desafio devido à falta de dados sobre fabricação e transporte. Os EPDs são fundamentais para oferecer visibilidade sobre esses lançamentos de gases e permitir cálculos mais precisos.   

Além de quantificar os obstáculos de produtos específicos, os EPDs são parte de um esforço maior para avaliar o efeito em edifícios inteiros por meio da LCA, que ajuda os operadores a minimizar o abalo ambiental ao longo do ciclo de vida de suas instalações – do design ao descomissionamento. Cumprir o propósito de mitigar as emissões de carbono é tanto uma responsabilidade quanto uma oportunidade de inovar no setor.  

*Luis Gabriel Cuevas Eslava é diretor de Secure Power e Negócios de Data Centers da Schneider Electric no Brasil 

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