Geração

Geradores assumem riscos de curtailment em contratos de autoprodução 

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Curtailment em renováveis / Crédito: ThinkStock

O mercado de energia presenciou no último ano uma mudança no perfil dos clientes de autoprodução, saindo dos eletrointensivos para os consumidores varejistas, ao mesmo tempo em que os geradores, que sofreram um aumento curtailment no período, mudaram a dinâmica dos seus contratos na modalidade, segundo Marília Rabassa, head de consultoria da Clean Energy Latin America (Cela).

De acordo com Rabassa, após anos importantes para fechamento de contratos com eletrointensivos, a modalidade, assim como o mercado energético, aproveitou da ‘enxurrada’ de migração de consumidores varejistas para contratar sua energia, dividindo um mesmo projeto em vários para atender clientes menores.

“O número de grandes clientes eletrointensivos reduziu significamente, pois eles já se posicionaram em grande parte na autoprodução com contratos de longo prazo. Em contrapartida, uma enxurrada de migração aconteceu e muitas empresas já conseguiram fazer mudança na estratégia. Por exemplo, um projeto de 1 GW tinha três consumidores há alguns anos, agora essa usina é dividida para vários clientes menores, que preferem contratos de curto prazo”, disse à jornalistas depois da apresentação de um estudo da Cela sobre autoprodução em 2024.

Para ela, a mudança no período dos contratos, que podem chegar a menos de cinco anos, é uma consequência da entrada destes consumidores, que não estão acostumados a “travar” o preço da energia por muito tempo e querem entender o benefício da modalidade.

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Os consumidores citados pela executiva podem migrar para o mercado livre de energia se tiverem demanda inferior a 500 kW. Em janeiro de 2024, entrou em vigência a liberação pela Portaria 50/2022 do Ministério de Minas e Energia (MME) que todos os consumidores de alta e média tensão poderiam aderir ao mercado livre de energia. Aqueles com demanda inferior a 500 kW, porém, precisam ser representados na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) por um agente varejista. Antes da portaria, apenas os consumidores com demanda superior a 500 kW podiam escolher o fornecedor de energia elétrica.

Curtailment na autoprodução

Ela também afirmou que os geradores têm buscado três caminhos para lidar com os cortes em seus parques renováveis nos contratos de autoprodução de energia, em meio às conversas sobre alternativas de ressarcimento aos cortes de geração com o governo. 

De acordo com Rabassa, as empresas têm buscado alocar o risco junto aos consumidores, fazer uma divisão ou assumir o risco em nome de cliente.

“Em 2023, era um burburinho. Em 2024, foi materializado e precisa estar contratualmente endereçado. Não tem uma ‘receita de bolo para lidar’, mas, hoje, na minha opinião, o mercado precifica ou considera que vai acontecer um curtailment, ninguém está a salvo”, disse Rabassa em evento da consultoria para apresentação de estudo sobre autoprodução no último ano.

Cortes no último mês

Os impactos dos cortes de geração (curtailment) por razões elétricas foram extremamente representativos em fevereiro, saltando de 6% em janeiro para 20%. Os dados são do Itaú BBA, em relatório que acompanha o fenômeno dos cortes de geração a cada mês. Segundo os analistas do banco, o aumento expressivo se deu por conta da indisponibilidade da linha de transmissão 800 kV Xingu/Terminal Rio.  No mês, 84% e 56% do curtailment para eólica e solar, respectivamente, aconteceu até o dia 13.

Um grupo de trabalho (GT) foi criado pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) para discutir soluções para mitigar os impactos do curtailment e teve sua primeira reunião na última semana, quando deliberaram pela formulação de um plano de trabalho e um nivelamento sobre as regras e procedimentos atualmente utilizados para o corte de geração.