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Alupar vê geração pesar no resultado, mas mantém expansão em transmissão

Linhas de transmissão da Alupar
Empresa está de olho no leilão de transmissão e busca oportunidades de crescimento com rentabilidade. Foto: André Prietsch

Com R$ 8 bilhões em investimentos previstos em obras de transmissão nos próximos anos, no Brasil e na América Latina, a Alupar teve o resultado do primeiro trimestre de 2025 pressionado pela performance do segmento de geração, que tem menor representatividade no seu portfólio.

Segundo o diretor de Relações com Investidores da Alupar, Luiz Coimbra, os cortes de geração renovável (curtailment) e a diferença de preços de submercados afetaram as despesas da empresa no período, assim como uma baixa contábil relacionada à descontinuação de projetos de geração renovável no Rio Grande do Norte.

A estratégia para mitigar esses efeitos passa pela comercializadora do grupo, que opera com o portfólio no curto a médio prazo. Diante dos desafios, que se somam à taxa de juros elevada, a Alupar não deve investir em geração tão cedo, pois “a conta não fecha”, segundo Coimbra.

A empresa também aguarda uma solução do governo para o problema dos cortes de geração, já que é uma questão que afeta todo o setor.

Oportunidades de crescimento em transmissão

Em transmissão, por sua vez, a empresa avalia as oportunidades e está de olho no leilão de transmissão de outubro. “Vamos onde há oportunidade. O cenário de Brasil é complexo, juros alto, inflação, vamos ver como será a concorrência do leilão”, disse o diretor.

“Acabamos estudando todos os lotes e bidando em quase todos, mesmo que sem ganhar. Nunca tivemos métrica de crescimento, o objetivo sempre foi gerar valor”, afirmou.

Mesmo com os desafios operacionais e o aumento da taxa de juros, a dívida líquida da companhia calculada na contabilização regulatória subiu apenas 2% no trimestre, a R$ 8,9 bilhões, e a relação entre dívida líquida e Ebitda subiu de 3,3 vezes para 3,5 vezes.

Segundo Coimbra, há liquidez no mercado para novas captações, mas o custo subiu muito, então a empresa aguarda uma melhora do cenário antes de tomar dívida de longo prazo para executar suas obras.

Dos R$ 8 bilhões em investimentos previstos, metade é dívida fora do Brasil, onde não houve aumento do custo. “No Brasil, hoje meu custo de captação estaria um pouco acima dos meus modelos, mas não tenho necessidade de captar nesse momento dívida de longo prazo”, explicou. Se não houver melhora até o próximo ano, a Alupar pode alongar empréstimos ponte antes de um compromisso de longo prazo.

Lucro afetado por geração

No trimestre, a Alupar teve lucro líquido regulatório de R$ 140,1 milhões no primeiro trimestre deste ano, queda de 9% na comparação com o resultado do mesmo período do ano passado.

O resultado foi afetado negativamente pelo segmento de geração, devido aos cortes de geração renovável em seus ativos das fontes eólica e solar, e também pelo descolamento de preços entre subsistemas, que se acentuou em março e chegou a R$ 268/MWh de diferença entre Nordeste – onde fica a geração – e Sudeste/Centro-Oeste – onde foi feita a venda da energia e os contratos foram liquidados.

Outro impacto veio da descontinuação de projetos de geração renovável desenvolvidos pela empresa (EAP III, EAP IV, EAP V, EAP VI, EAP VII e Iracema), com baixa contábil de R$ 8,6 milhões registrada como despesa.

A piora do resultado financeiro, devido à parte da dívida indexada ao CDI, também pressionou os resultados. O resultado financeiro veio negativo em R$ 274 milhões no trimestre, montante 8,3% maior na comparação com o primeiro trimestre de 2024.

Segundo Coimbra, o impacto do resultado financeiro não foi maior porque a empresa tem a maior parte da sua dívida atrelada ao IPCA, com uma parte importante também indexada a uma cesta de moedas, por conta dos projetos no Peru, Chile e Colômbia.

Estabilidade na transmissão

O segmento de transmissão, que representa cerca de 80% do caixa da empresa, teve estabilidade no lucro em R$ 250,6 milhões, e uma alta de 4,6% na receita, a R$ 634,8 milhões.

No período, a receita líquida regulatória da companhia cresceu 8,3%, a R$ 857,5 milhões, e o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) teve avanço de 2,5%, a R$ 685,6 milhões.

O resultado regulatório é considerado pelas empresas de transmissão e pelos analistas de mercado como fiel ao retrato do segmento, por mostrar a situação de caixa daquele momento. Nesse tipo de contabilização, a receita representa os recebimentos da companhia, refletindo no seu fluxo de caixa, e os investimentos são reconhecidos no balanço patrimonial como ativo imobilizado.

Resultado IFRS

As transmissoras também reportam os resultados financeiros de acordo com as regras contábeis internacionais, conhecidas pela sigla em inglês IFRS. Nessa contabilização, os investimentos são reconhecidos no balanço patrimonial como ativo financeiro.

No critério contábil IFRS, o lucro líquido subiu 17,2%, a R$ 298,8 milhões, muito em cima da receita de atualização monetária, que subiu 47,5%, a R$ 359,8 milhões, refletindo o aumento da taxa de juros.

A receita líquida IFRS somou R$ 1,22 bilhão, alta de 22,8%, e o Ebtida chegou a R$ 932,5 milhões, alta de 14,9%.

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