Transmissão

EPE deve finalizar estudo de bipolo de corrente contínua com nova tecnologia ainda em 2025

Tecnologia VSC consegue estabilizar a variação na geração de energia renovável, com investimentos estimados em R$ 20 bilhões

Contratos de transmissão / Crédito: Bipolo Belo Monte (Divulgação)
Bipolo Belo Monte da chinesa State Grid (Divulgação)

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) deve finalizar os estudos sobre a aplicação no sistema elétrico brasileiro da tecnologia de bipolo de corrente contínua Voltage Source Converter (VSC), que permite levar a energia a longas distâncias sem a necessidade de subestações intermediárias. A conversão em corrente contínua também possibilita acomodar a intermitência da geração renovável.

“O VSC transmite praticamente tudo o que é gerado. Então, se a geração está variando, ele consegue converter em corrente contínua e transmitir, sem perda na conversão da corrente alternada para a contínua”, disse o presidente da EPE, Thiago Prado, que participou de evento do Fórum Econômico Mundial sobre transição energética nesta segunda-feira, 2 de junho, no Rio de Janeiro.

O VSC tem um custo mais elevado que a tecnologia usada atualmente nos linhões de corrente contínua (LLC, Line Commutated Converter), por se tratar de uma tecnologia mais avançada e recente. Por isso, antes de tomar a decisão pela contratação de um linhão com a tecnologia, a EPE precisa concluir estudos para entender o comportamento do sistema elétrico em caso de falhas, por exemplo.

Segundo Prado, a EPE estuda a infraestrutura necessária para transmitir a energia renovável gerada no Nordeste para o Sul/Sudeste do país, em investimentos estimados em R$ 20 bilhões. “No ano passado, a EPE dialogou com os quatro fabricantes que detêm essa tecnologia para ter acesso a mais informações e a cases de sucesso. Estamos incorporando essa tecnologia no estudo de alternativas para ver, dentre todas, qual que vai trazer mais benefício na operação do sistema elétrico”, explicou.

State Grid já usa o sistema há cinco anos na China

A chinesa State Grid, que opera bipolos de corrente contínua no Brasil com a tecnologia LLC, já opera há cinco anos um sistema VSC na China. “É bastante efetivo em termos de reduzir a perda de linha. A perda é baixa e é mais confiável. E podemos acomodar mais renováveis para evitar o curtailment por causa da variação de pico”, disse o CEO da State Grid Brazil, Peng Sun, a jornalistas.

Na China, o sistema usa quatro terminais, sendo mais complexo do que aquele que está em estudo no Brasil, com apenas dois terminais. “Neste momento, é um VSC de dois pontos, em vez de múltiplos terminais. Mas, no futuro, ele pode ser convertido ou expandido para o múltiplo terminais. Então, isso dará uma boa base para a expansão no futuro”, explicou.

Sun também abordou o desafio das mudanças climáticas no setor da transmissão. “Nossos recursos estão expostos à chuva e aos demais eventos climáticos. O clima mudou e isso tem causado muito problemas para estes recursos”, disse ele.

Segundo o executivo, a regulação existente já é “robusta”, mas há oportunidades de melhoria na interpretação das normas. “Se conseguirem levar em conta que estes são eventos de força maior, isso seria ótimo para os investidores, para dar mais confiança para que façam mais investimentos no mercado”, disse.

Mesmo assim, para Sun, o Brasil tem um dos melhores arcabouços regulatórios da América Latina.  “O ambiente aqui é bem melhor do que em outros países, então os investimentos são muito promissores”, avaliou durante painel no evento.

Dona de Bipolos no Brasil

Operadora de duas linhas de transmissão HVDC que escoam energia de Belo Monte, a State Grid venceu também a disputa pelo Bipolo Graça Aranha – Silvania, de 1.468 km de extensão, que atravessa Maranhão, Tocantins e Goiás, no leilão realizado em dezembro de 2023.

O linhão em corrente contínua é essencial para aumentar a capacidade de interligação entre o Nordeste e o Sudeste/Centro-Oeste, e envolve R$ 18 bilhões em investimentos.