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GNA vê terminal próprio de GNL como trunfo para disputar o LRCap

Empresa, cujo complexo de geração tem 3 GW, avalia que compartilhamento de infraestruturas é trunfo para maior competitividade no leilão

Emmanuel Delfosse, CEO da GNA | Crédito da imagem: Leonardo Berenger
Emmanuel Delfosse, CEO da GNA | Crédito da imagem: Leonardo Berenger

A Gás Natural Açu (GNA) avalia que está bem posicionada para apresentar ofertas competitivas no leilão de reserva de capacidade (LRCap). A empresa acaba de iniciar a operação comercial da térmica GNA II, de 1,7 GW, e já operava a GNA I, de 1,3 GW. Ambas as plantas são abastecidas por FSRU (sigla em inglês para unidade flutuante de armazenamento e regaseificação) e terminal de GNL próprios, com capacidade de 21 milhões de m³ por dia, enquanto as duas usinas juntas consomem até 12 milhões de m³ por dia. O gás é fornecido pela BP, que é sócia dos empreendimentos.

A situação favorece o compartilhamento de infraestrutura, o que dá espaço para ofertas mais competitivas no leilão. “Estamos partilhando o custo desta infraestrutura com duas usinas, um dia três (usinas). Eu não preciso construir um FSRU para este leilão, a gente já tem. Isso permite ter um bid muito competitivo”, diz o presidente da GNA, Emmanuel Delfosse, em entrevista à MegaWhat.

Para ele, o risco de usar o mesmo FSRU é adequado, já que as usinas contratadas pelo LRCap não devem ser acionadas por períodos muito longos, mas apenas nos momentos de maior necessidade do sistema. “Não seria uma quantidade grande de gás, seriam algumas horas. A gente acredita que dá para ter uma usina do leilão de capacidade com essas características conectado no FSRU”, disse.

Demandas do leilão podem orientar a tecnologia das usinas

Além disso, Delfosse avalia que o atendimento rápido que deve ser exigido no leilão deve levar a ofertas de térmicas novas com potências menores do que a GNA I e II.

“Se você precisa de uma rampa muito rápida, não é possível com uma tecnologia de ciclo combinado, com uma eficiência alta. Se você desenha um leilão de capacidade só para ter uma rampa rápida, de uma certa forma você já está orientando a tecnologia dos competidores. As usinas de ciclo aberto costumam ser menores em termos de potência”, avalia.

“Agora, é leilão, cada um vai fazer conta. Eu acredito mais nessa tecnologia [ciclo aberto], mas pode ser que alguém entre com um ciclo combinado, se ele acha que é melhor para ele”, pondera.

Delfosse também entende que a exigência de flexibilidade leva, necessariamente, ao uso de GNL em vez de gás da rede. “Não tem possibilidade de entrar no leilão de capacidade se você não tem acesso a um gás flexível. E hoje o gás flexível é GNL. Isso é uma verdade. O gás doméstico não é flexível, ele é associado. O GNL e os terminais são indispensáveis hoje, porque é a única forma de endereçar essa questão de flexibilidade do sistema elétrico”, diz.

Ecossistema do Porto do Açu favorece expansão

Com a operação de GNA II, a GNA passa a responder pelo maior parque térmico da América Latina, com 3 GW – e que pode crescer ainda mais, já que a companhia tem licença ambiental para 3,4 GW adicionais, o que permitirá expandir a capacidade instalada de seu parque térmico para até 6,4 GW.

“Aí podem vir GNA 4, 5, porque é modular”, explica Delfosse, que considera as projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) de que haverá leilões regulares para o atendimento à potência.

A visão da empresa é criar um hub de gás alicerçado no setor termelétrico, mas o uso do terminal de GNL por outros consumidores também está no radar, assim como uma conexão à malha de gasodutos do país. “É claro que é melhor diversificar a possibilidade de conexão [além do FSRU]. E o FSRU tem um limite. Então, no longo prazo, uma conexão seria interessante ou até necessária para não arriscar demais”, diz.

Localizada no Porto do Açu, no Rio de Janeiro, a GNA está atenta às possibilidades que aquele ambiente pode proporcionar. “A EPE está trabalhando um plano integrado de gás, e a gente acredita que o nosso complexo tem tudo a ver com esse plano. Pode atrair novas usinas, novos usuários de gás para o Porto, embora não seja este o foco. A razão da GNA é gerar energia, mas a gente tem o ecossistema do Porto”, reconhece.

O ambiente de negócios do Porto do Açu também dá mais agilidade à companhia em pontos como importação de materiais e pode favorecer a futura adoção de hidrogênio para as plantas. “GNA II tem turbina de última geração, que pode funcionar com 50% de hidrogênio. E o hidrogênio é um dos pilares da estratégia, claro, de longo prazo, do Porto”, diz Delfosse.

Sobre as usinas GNA I e GNA II

A usina GNA II entrou em operação comercial em 31 de maio de 2025. A planta foi contratada no leilão de energia nova A-6 de 2017 e tem 40% de inflexibilidade, com operação inflexível prevista para os meses de julho a novembro, com o objetivo de compensar o período seco das hidrelétricas. No restante do ano, GNA II é flexível.

As sócias do empreendimento são as empresas BP, Siemens Energy e SPIC Brasil. Enquanto a BP fornece o gás para a usina, a Siemens Energy responde pela tecnologia das turbinas e a SPIC Brasil colabora com a experiência na geração de energia. 

A usina GNA I entrou em operação em 2021, com 1,3 GW de capacidade. A planta é 100% flexível e tem como sócias a BP, Siemens Energy, SPIC Brasil e o Grupo Prumo, controlador do Porto do Açu.