Fluxo para o SIN

ONS amplia exportação de energia do Nordeste em até 1,5 GW

Transmissão
Linha de transmissão / Crédito: Tauan Alencar (MME)

Novas diretrizes do Sistema Especial de Proteção (SEP) devem viabilizar o aumento na exportação de energia do Nordeste em até 1,5 GW, a partir da zero hora deste sábado, 27 de junho, e mitigar o curtailment, sendo 900 MW no fluxo para o Sudeste e 600 MW para o Norte. A maior flexibilização foi constatada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) na parte da noite e madrugada, beneficiando principalmente a geração eólica.

Os SEPs são esquemas automatizados que atuam em situações críticas da operação do sistema elétrico, ou seja, são proteções adicionais que permitem que a operação dê um passo além do que seria julgado como seguro no cenário anterior. Com os aprimoramentos, devem liberar mais espaço para envio de energia renovável ao consumidor do Sudeste.

O diretor de planejamento do ONS, Alexandre Zucarato, explicou que os ganhos do SEP ocorrem quando há perdas duplas na transmissão e, durante o dia, há uma perda simples no recebimento do Sudeste, na linha de transmissão Fernão Dias-Estreito, que provoca falha de comutação.

“No auge do miolo do dia, quando tem muita geração solar, a gente tem uma perda simples e não tem SEP que possa ser usado para perda simples. No caso diurno, o limite da perda simples e da perda dupla estão iguais”, disse.

Alexandre Zucarato e o diretor de Operação do ONS, Christiano Vieira, falaram a jornalistas nesta quinta-feira, 26 de junho, após o primeiro dia da Programação Mensal da Operação (PMO) de junho, em formato híbrido, o que não ocorria desde o início da pandemia de covid-19.

A flexibilização do volume de 1,5 GW da transmissão é a estimativa máxima do operador, e os efeitos práticos dependerão do ponto de operação dos fluxos e da geração que estiver acontecendo a cada instante, explicou Christiano Vieira.

Os benefícios ocorrem com a operação em N-2, ou seja, com redundância para suportar até duas perturbações simultâneas no sistema. Esta é a norma do procedimento de rede que deve ser seguido pelo ONS. “A gente conseguiu atualizar limites em N-2, com o uso do SEP, que geram resultados com limites que não adianta ir além deles, porque você bate no critério N-1”, explicou Zucarato. “Os limites novos que a gente estabeleceu a partir da zero hora de sábado são limites novos dentro do critério normal, utilizando medidas de engenharia para extrair mais valor dos ativos existentes”, complementou.

Por estarem dentro da operação normal do ONS, as novas medidas não dependiam da aprovação do CMSE. Caso diferente ocorreu em 2021, quando houve mudança nos critérios da operação para possibilitar melhor atendimento da carga em meio à crise hídrica.

ONS busca solução para ampliar período diurno

Enquanto implementa novos limites para escoar a geração à noite, o ONS deverá continuar buscando soluções que permitam ampliar a exportação de energia também durante o dia.

“O período diurno tem uma complexidade muito maior que o período noturno. E agora a gente volta para a bancada, volta a fazer novos estudos, tentando encontrar alternativas para também propor algum ganho no período diurno, se ele existir”, garantiu Zucarato, reforçando que os estudos são sofisticados e demandam horas de engenharia e simulação.

“A gente reconhece que é importantíssimo avançar com esses estudos para explorar as condições de diurno. Agora, o que a gente não podia era ficar esperando terminar o estudo do diurno para liberar o noturno”, justificou.

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Novos critérios não devem refletir em preços

Apesar do volume adicional de 1,5 GW na exportação total do Nordeste, os novos critérios do SEP não devem se refletir no PMO nem nos preços da energia, avaliam os diretores de Operação e Planejamento do ONS.

“O nível de detalhamento ou de sofisticação do equacionamento matemático para desenhar essa região de segurança com esse SEP, demanda uma matemática que a gente não consegue representar de forma precisa nesse ambiente energético onde a transmissão é simplificada. Por isso esses números não têm impacto no PMO”, explicou Zucarato. “Vale para fins de aumentar a região de segurança na vida real. Mas no ambiente de estudos e simulação ele precisa ser simplificado”, concluiu.

A mesma questão deve ocorrer na formação de preços, segundo Vieira. “A formação do preço se dá por uma cadeia de modelos que não enxerga nesse nível de detalhe. Então, na prática eu vou ter a mesma estrutura de preço, o mesmo sinal de preço. Mas no tempo real eu vou ter uma maior disponibilidade de alocar geração renovável na carga, porque eu vou ter menos restrição”, disse.