A demanda por energia elétrica de data centers dedicados à inteligência artificial (IA) nos Estados Unidos pode crescer mais de 30 vezes nos próximos dez anos, atingindo 123 GW em 2035, ante os atuais 4 GW registrados em 2024. Apesar do avanço esperado, o crescimento acelerado do setor enfrenta desafios críticos, como o descasamento entre os cronogramas de construção dos centros de dados e o gargalo no suprimento energético, o que pode comprometer o atendimento da demanda projetada.
Os dados são de um relatório divulgado nesta semana pela Deloitte, com base em pesquisa realizada em abril de 2025 com 120 executivos dos setores de energia e data centers sediadas nos EUA. O levantamento identificou sete obstáculos para o avanço sustentável do setor no país.
O principal entrave apontado por 72% dos entrevistados é a incompatibilidade entre os cronogramas dos projetos de infraestrutura energética e a rápida implementação dos data centers. Outras preocupações estão relacionadas a interrupções na cadeia de suprimentos (65%) e à segurança (64%).
Demora para conexão e pressão sobre o gás natural
Segundo o estudo, há uma fila de espera de até sete anos para conexão de novos projetos de geração renovável e armazenamento à rede elétrica. A morosidade estaria levando muitos empreendimentos a recorrerem à geração por usinas a gás natural, que, por sua vez, também enfrentam limitações operacionais.
A construção de data centers pode ser concluída em até dois anos, enquanto novos projetos termelétricos enfrentam atrasos na entrega de equipamentos, por exemplo. De acordo com dados da consultoria Wood Mackenzie, publicados em maio, a indústria global de turbinas a gás deve passar por desafios relativos a restrições na capacidade de fabricação e aumento dos custos, o que pode atrasar a entrega de novas usinas até 2030.
Além disso, há entraves logísticos no transporte e distribuição de gás para suprir esses centros.
Já os projetos de energia renovável com baterias de armazenamento enfrentam barreiras, como demora na liberação de licenças ambientais e restrições de espaço físico, especialmente em áreas urbanas.
De acordo com a Deloitte, o desenvolvimento da infraestrutura de Inteligência Artificial está se espalhando para mais estados e se descentralizando à medida que projetos são implantados próximo aos usuários para fornecer respostas mais rápidas.
Licenciamento trava expansão
Outro ponto crítico é a obtenção de licenças ambientais para construção de usinas e linhas de transmissão. Nos EUA, essa responsabilidade é estadual, e o relatório aponta que as restrições locais para projetos de energia renovável cresceram 73% em 2024.
Em alguns estados, os prazos para licenciamento variam de meses a anos, impactando diretamente o cronograma e os custos dos projetos.
Gargalos na cadeia de suprimentos
O estudo também ressalta que a forte concentração de data centers nos EUA, principal polo de hyperscale, pode pressionar ainda mais a cadeia de suprimentos.
Componentes críticos ainda são majoritariamente importados e sujeitos a tarifas comerciais. Há expectativa de aumento nos custos de insumos como aço, alumínio, cobre, madeira e cimento. Nos últimos cinco anos, os custos com materiais de construção subiram 40%, segundo documento.
Mão de obra e segurança também preocupam
A escassez de mão de obra qualificada foi destacada por executivos de data centers, enquanto empresas do setor elétrico chamaram atenção para a alta rotatividade de profissionais técnicos.
Outro ponto de atenção crescente é a segurança cibernética. Os entrevistados ressaltaram vulnerabilidades em servidores, sistemas de armazenamento, redes, equipamentos de refrigeração e outros dispositivos digitais.
