
Por: Wenderson Rezende*
A fiscalização de obras no setor elétrico é um processo estratégico para garantir que construções, ampliações ou manutenções em infraestruturas críticas — como subestações, linhas de transmissão e usinas — sejam executadas conforme os padrões de qualidade, normas técnicas, segurança e conformidade legal. Esse acompanhamento ocorre em todas as etapas do projeto e depende de registros documentais rigorosos, que comprovem a aderência aos requisitos definidos.
Entretanto, apesar da importância desse processo, muitas empresas ainda se apoiam em métodos convencionais para conduzir a fiscalização, o que gera uma série de desafios. A ausência de ferramentas tecnológicas adequadas dificulta o monitoramento em tempo real, reduz a rastreabilidade dos processos e eleva o risco de atrasos, falhas construtivas e desvios de orçamento.
Historicamente, a rotina de fiscalização se apoia no uso do Registro Diário de Obras (RDO), feito manualmente por meio de anotações em pranchetas, planilhas e registros fotográficos. Ao final do dia — ou mesmo da semana — essas informações são consolidadas e encaminhadas para análise e tomada de decisões. Esse modelo tradicional, embora ainda comum, apresenta limitações significativas.
Entre os principais problemas enfrentados estão a falta de rastreabilidade — causada por documentos descentralizados e pouco padronizados —, a lentidão na comunicação entre campo e escritório, uma gestão ineficiente de custos e insumos, baixa transparência nos processos, imprevisibilidade de riscos e falhas estruturais. Sem dados estruturados e acessíveis, a gestão das obras se torna menos ágil e mais suscetível a erros.
Diante desse cenário, cresce a adoção de soluções digitais e inteligentes, que vêm revolucionando a forma como as obras do setor elétrico são fiscalizadas. Novas tecnologias têm se mostrado capazes de transformar a coleta, o processamento e a análise de dados em campo, garantindo mais eficiência, segurança e assertividade nas decisões.
As plataformas digitais de RDO são um bom exemplo dessa evolução. Utilizando celulares ou tablets, é possível digitalizar registros diretamente no canteiro de obras, com fotos georreferenciadas e informações centralizadas em nuvem. Esses dados são processados em tempo real, fornecendo aos gestores uma visão clara e imediata do andamento do projeto.
Dashboards integrados com ferramentas de Business Intelligence (BI) permitem acompanhar indicadores-chave e reduzir erros operacionais. Ao mesmo tempo, tecnologias como o BIM 4D e 5D — que integram modelos 3D à linha do tempo e aos custos da obra — viabilizam o controle visual e preciso sobre cronogramas e orçamentos.
Em grandes empreendimentos, drones vêm sendo amplamente utilizados para realizar inspeções aéreas detalhadas, monitorar o progresso da obra e acessar locais de difícil alcance, como as estruturas elevadas de linhas de transmissão. Já soluções baseadas em inteligência artificial e big data possibilitam análises preditivas de riscos, identificação de padrões de produtividade e otimização do uso de recursos.
A visão computacional, aliada a câmeras inteligentes, permite a detecção automática de não conformidades, classificando problemas estruturais sem a necessidade de inspeção manual constante. Em paralelo, a integração com tecnologias de realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR) oferece aos engenheiros a possibilidade de realizar inspeções virtuais imersivas, como se estivessem caminhando pela obra remotamente.
Outra inovação promissora é o uso de gêmeos digitais (digital twins), que criam réplicas virtuais das construções em andamento. Com isso, é possível comparar a execução real com o projeto original, detectando divergências de forma proativa.
A adoção dessas tecnologias traz benefícios diretos e mensuráveis para concessionárias e empresas do setor elétrico. E à medida que essas soluções ganham espaço, a digitalização da fiscalização deixa de ser uma tendência para se consolidar como o novo padrão global em engenharia elétrica.
Investir em tecnologias avançadas não é apenas uma escolha estratégica — é um passo fundamental para garantir a modernização da infraestrutura energética brasileira, com mais segurança, transparência e eficiência.
*Wenderson Rezende é CEO da Concert Engenharia
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