
O uso de baterias atrás do medidor (para consumidores finais) não se mostra financeiramente atrativo no período até 2035, especialmente se o objetivo for apenas reduzir a conta de luz, conforme cenário base analisado no Plano Decenal de Energia (PDE) 2035.
O caderno MMGD e Baterias do PDE 2035 foi publicado na última sexta-feira, 1º de agosto, pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O estudo prospectivo do planejamento apresenta uma visão integrada da evolução da micro e minigeração distribuída (MMGD) e do papel crescente das baterias em unidades consumidoras, refletindo a importância dos recursos energéticos distribuídos (RED) para a modernização e a descentralização do sistema elétrico nacional.
O levantamento considerou três aplicações principais de uso de baterias para consumidores residenciais e comerciais: deslocar consumo da ponta para fora da ponta; armazenar excedentes de geração solar para consumo posterior, evitando injeção na rede, e gestão de demanda da rede, para adiar aumento de infraestrutura ou custos relacionados.
Para consumidores com alto fator de carga na ponta, foi identificada viabilidade econômica se o custo das baterias for da ordem de R$ 1.000/kWh, podendo competir com geradores a diesel como alternativa para suprir períodos de ponta. Contudo, para a maioria dos consumidores — com baixo fator de carga — os sistemas ficam ociosos boa parte do tempo, o que reduz a atratividade econômica.
“A diferença entre a tarifa de consumo e a remuneração pela energia injetada na rede ainda é baixa sob a Lei 14.300/2022. Logo, há pouco ganho financeiro com armazenamento atualmente”, explica o caderno do PDE.
A Lei nº 14.300/2022, conhecida como o Marco Legal da GD, mudou as regras de compensação para novos geradores (via tarifa de uso do sistema de distribuição – Tusd e encargos) e estabelecerá novos modelos de valoração a partir de 2029.
Com incertezas regulatórias, a diferença entre tarifa de consumo e crédito pela energia injetada continua reduzida. Assim, a EPE aponta que o investimento ainda não retorna dentro da vida útil esperada do sistema, devido à subutilização ou baixa tarifa de injeção de crédito.
O mercado de baterias alcançou capacidade de 685 MWh em 2024, cerca de 29% de alta na comparação com o ano anterior. Até 2035, são previstos investimentos de até 44 bilhões em diferentes aplicações.
As baterias e a MMGD
No cenário de referência do PDE 2035, estima-se que a capacidade instalada da micro e minigeração distribuída (MMGD) atingirá 78,1 GW até 2035, com aproximadamente 12,1 GW médios de geração anual e adesão de cerca de 9,5 milhões de consumidores ao modelo distribuído.
As estimativas consideram o impacto do Marco Legal da GD, que estabelece uma transição gradual até 2029 para as novas condições de compensação da energia. A maior parte da expansão continuará sendo dominada pela geração solar fotovoltaica, especialmente em unidades residenciais e comerciais.
Segundo a EPE, a MMGD também tem ganhado importância na contribuição energética, representando 5,6% da geração total de eletricidade no Brasil e cerca de 13% do consumo cativo nacional.
Estima-se que a região Sudeste seja líder na expansão, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A região deve ter um incremento de 20,3 GW no horizonte de 2025 a 2035, alcançando um crescimento de 172%.
O Nordeste teve ter um incremento de 133% no horizonte de dez anos, adicionando mais 9,2 GW. Na sequência, o Sul deve crescer 73%, com incremento de 5,8 GW, o Norte, de 143% (+3,8 GW), e o Centro-Oeste de 63% (+3,8 GW).