O Conselho de Administração da Petrobras aprovou a inclusão de novas diretrizes sobre distribuição no plano estratégico da companhia. A mudança inclui a atuação da estatal na distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha que também tem uma variação industrial.
Segundo a presidente da companhia, Magda Chambriard, a volta ao mercado de GLP se explica pela maior produção da Petrobras após a entrada em operação de novas plataformas, do gasoduto Rota 3 e das estruturas de processamento de gás do Complexo de Energias Boaventura (ex-Gaslub e Comperj). Assim, entre o primeiro semestre de 2024 e o mesmo período de 2025, a produção de óleo e gás da companhia aumentou 4%.
“Temos aqui um produto que vai ter uma produção crescente e, se for um bom negócio para a companhia, por que não exercer mais essa sinergia?”, disse a executiva, lembrando que o país é importador de GLP.
Outro fator relevante é que as margens do GLP são mais elevadas, disse o diretor de Logística, Comercialização e Mercados da Petrobras, Claudio Schlosser. Segundo ele, “nos últimos anos”, a margem do GLP cresceu praticamente 188% no mercado. “Qual foi o mercado e o negócio que em curto prazo aumentou sua atratividade a 188%?”, reforçou a presidente Magda Chambriard.
Vendas diretas a grandes consumidores
Chambriard mencionou que a Petrobras não tem, por enquanto, nenhum projeto de aquisição de distribuição GLP, mas pode avaliar oportunidades. “Nós garantimos que as portas estão abertas para uma eventual possibilidade caso o projeto seja bom, rentável e caso a atratividade desse projeto esteja em linha com o que a Petrobras demanda”, disse a presidente da empresa.
Por enquanto, a companhia deve tomar o caminho de vendas diretas, disse Schlosser. “Estamos avançando sim na venda direta, inclusive de GLP. Onde temos infraestrutura disponível, estamos conversando com grandes consumidores para fornecer para eles o GLP de forma direta, capturando uma margem”, disse o diretor. A Petrobras já atua na venda direta de combustíveis para clientes finais desde 2024.
Segundo Schlosser, o objetivo da Petrobras, nesse momento, é conseguir acessar o mercado e desenvolver uma logística eficiente para a distribuição, levando combustíveis mais próximo dos locais de consumo. Assim, a companhia tem buscado abrir frentes no Centro-Oeste, com o agronegócio. Outra área atraente é a região conhecida como Matopiba (acrônimo dos estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
“A gente vê uma oportunidade muito interessante de fornecer e vender direto para grandes consumidores. A gente tem buscado a parceria com a Vale, com a J&F. Tudo isso exige que a gente avance na cadeia e possa criar estruturas de distribuição que sejam eficientes do ponto de vista logístico para atender a todas essas frentes, que muitas vezes estão distribuídas em consumidores menores”, disse o executivo.
As declarações de executivos foram dadas nesta sexta-feira, 7 de agosto, em coletiva de imprensa e teleconferência com acinistas sobre os resultados da companhia no segundo trimestre de 2025.
Volta ao GLP após venda da Liquigas
A Petrobras não atuava na distribuição de GLP desde que vendeu a Liquigás, em 2019, para consórcio formado pela Copagaz, Itaúsa e Nacional Gás Butano. Antes, em 2017, a Petrobras vendeu sua distribuidora de combustíveis líquidos, a BR Distribuidora, que hoje é a Vibra Energia. Pelo acordo de venda da BR Distribuidora, a Petrobras fica impedida de voltar ao mercado de distribuição de combustíveis até 2029, mas a restrição não vale para GLP.
O diretor Financeiro da Petrobras, Fernando Melgarejo, garantiu que os acordos serão respeitados. “Todos os contratos em relação a distribuição serão cumpridos. Temos contratos de non-compete, nós vamos cumprir até o final”, assegurou.
Em comunicado ao mercado divulgado na noite desta quinta-feira, 7 de agosto, a Petrobras informa que atuará em “negócios rentáveis e de parcerias nas atividades de distribuição”. Além do GLP, a companhia pretende fazer integração com “demais negócios no Brasil e no mundo” e oferecer soluções de baixo carbono aos clientes.
Governo federal critica os preços do gás
Embora as declarações de executivos da empresa indiquem uma orientação a grandes consumidores industriais, a decisão da Petrobras vem em meio a esforços do governo federal para baixar o preço do gás de cozinha.
Em eventos no mês de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionou a diferença entre os preços de botijão de gás praticados pela Petrobras e na revenda final ao consumidor.
Atualmente, segundo a Petrobras, o preço médio do botijão de 13 kg é de R$ 107,89, sendo que a parcela da estatal é de R$ 34,74, ou 32,2% do preço total. Segundo os cálculos da companhia, a fatia de distribuição e revenda responde por R$ 51,1% do preço final, que atualmente corresponde a R$ 55,08.
O governo também prepara uma Medida Provisória (MP) para subsidiar o gás de cozinha a famílias de baixa renda. O programa se chamará Gás para Todos e deve substituir o atual Auxílio Gás.
*Matéria editada às 16h31