O Brasil precisa avançar para metodologias que considerem receitas por serviços de plataforma, mecanismos de ajuste de desempenho e maior flexibilização tarifária para as distribuidoras de energia. Segundo estudo da Thymos Energia, a mudança é necessária para atualizar os modelos tradicionais de remuneração das concessionárias, que se mostram inadequados diante das novas demandas trazidas pela eletrificação veicular.
As mudanças são fundamentais para acelerar a expansão da eletromobilidade no país, que registrou crescimento de 85% no setor automotivo em 2024 em relação a 2023. Apesar disso, menos de 7% dos veículos vendidos no Brasil no ano passado foram elétricos, um índice considerado baixo quando comparado a mercados como China e Europa.
“Se não houver ação decisiva, o país pode comprometer a competitividade de sua indústria, perder oportunidades de descarbonização urbana e deixar de usufruir dos benefícios econômicos e ambientais da eletromobilidade”, aponta a Thymos Energia.
A consultoria defende a criação de tarifas específicas, que considerem o horário de recarga e a autonomia dos veículos, como forma de garantir o uso eficiente da rede elétrica e estimular a adesão dos consumidores. Nesse cenário, distribuidoras e reguladores precisam se reposicionar estrategicamente.
Para Luiz Vianna, COO da Thymos Energia, soluções regulatórias devem incluir receitas por serviços de plataforma, mecanismos de ajuste de desempenho das distribuidoras e maior flexibilidade tarifária, criando condições mais adequadas para o avanço da mobilidade elétrica no Brasil.
Barreiras da eletromobilidade
Outro desafio apontado é a necessidade de digitalização das redes, descentralização da geração e adoção de novas tecnologias.
“É preciso investir em carregamento inteligente e no intercâmbio de energia entre veículos e a rede. A evolução da eletromobilidade exige planejamento, integração e investimentos coordenados de múltiplos atores — poder público, indústria automotiva, empresas de energia e consumidores. Trata-se de uma transformação profunda no setor elétrico nacional”, destaca a consultoria.
O estudo também elenca barreiras técnicas, econômicas e regulatórias. No campo técnico, os entraves incluem infraestrutura de recarga insuficiente, longos tempos de carregamento, baixa autonomia dos veículos, sobrecarga da rede, risco de incêndio, baixa durabilidade das baterias, indisponibilidade de modelos no mercado e ausência de uma cadeia de produção local.
Atualmente, o Brasil não produz baterias de íons de lítio, o que pode se tornar um obstáculo à medida que a mobilidade elétrica avança. Além disso, esses equipamentos representam alto custo, são mais pesados do que tanques de combustível convencionais e ainda enfrentam limitações de disponibilidade.
Entre as barreiras econômicas destacam-se o elevado preço de aquisição dos veículos, o custo das baterias, a alta tributação sobre elétricos, tarifas de energia mais caras, baixa rentabilidade na revenda e a ausência de políticas públicas robustas de incentivo. O estudo alerta que subsídios baseados em tarifas comerciais ou industriais, aplicados via “descontos”, não são sustentáveis. O caminho deve ser a criação de tarifas específicas para o setor.
Como possíveis alternativas, a Thymos destacou modelos tarifários já utilizados em outros mercados. O “Time of Use” incentiva o carregamento em horários de baixo consumo, reduzindo custos e aliviando a rede. O “Peak Time Rebate” permite previsibilidade, mas pode encarecer a recarga em horários de pico e não estimula o uso em outros períodos. Já o “Hourly Pricing” ajusta o preço conforme a demanda, refletindo as flutuações diárias.
No campo regulatório, a consultoria destaca a escassez de políticas de incentivo aos veículos elétricos no Brasil e chama atenção para possíveis impactos no uso do etanol, um biocombustível que já conta com infraestrutura consolidada no país.
A Lei 13.755/2018, que criou o Programa Rota 2030 e estabeleceu regras para o setor automotivo, é citada como barreira por impor alta tributação sobre eficiência veicular em massa, afetando principalmente veículos leves. Além disso, tarifas de importação e impostos sobre produtos industrializados também limitam a adoção dos elétricos.
Cenário global
Em 2023 e 2024, as vendas globais de veículos elétricos atingiram 14 milhões e 17 milhões de unidades, respectivamente. A China lidera o mercado, respondendo por cerca de 60% das vendas mundiais e 76% do mercado global de VEs em outubro de 2024. O país também está à frente em infraestrutura de recarga, produção de baterias e eletrificação de frotas pesadas, como ônibus e caminhões.
Na Europa, a Alemanha se destaca por adotar uma política nacional robusta para eletrificação do transporte coletivo, com subsídios, isenção de impostos e ampla rede pública de recarga com alta densidade e interoperabilidade. Segundo projeções da Agência Internacional de Energia (IEA), citadas pela Thymos, os ônibus elétricos devem representar 30% da frota vendida globalmente até 2035.
Na América Latina, o Chile lidera com a maior frota de ônibus elétricos, somando cerca de 2.600 unidades, seguido da Colômbia, com aproximadamente 1.700 veículos.