O papel dos biocombustíveis na transição energética teve destaque nos pronunciamentos do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e do diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), Fatih Birol, durante a assinatura do Plano de Trabalho Conjunto para a Aceleração da Transição Energética, ocorrida nesta quarta-feira, 31 de dezembro.
Na cerimônia, Silveira voltou a falar na criação de uma agência internacional de biocombustíveis e destacou o papel de liderança do país neste tema, dizendo que “o Brasil está pronto e tem dado a sua contribuição pelo apoio, liderança, cases de sucesso”.
Fatih Birol destacou que a atenção do mercado financeiro global está no Brasil, já que o país preside o G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) em 2024 e, no ano seguinte, será sede da COP30. “O G20 deve identificar e criar novos mercado para biocombustíveis”, disse Birol.
Para ele, o país está muito bem-posicionado para responder ao desafio da transição energética global e tem novas oportunidades com o hidrogênio verde por conta da matriz renovável do país e os custos competitivos para a produção do hidrogênio renovável. “Acredito que ao longo dos próximos dois anos, o Brasil estará entrando em um período sem precedentes de sua histórica econômica e política”, disse o diretor-executivo da AIE.
Oportunidades e transição justa
Birol reconheceu a posição de destaque brasileira no contexto das energias renováveis, sobretudo entre os países em desenvolvimento. “O tempo do Brasil chegou. O Brasil tem que liderar os países emergentes na questão das energias renováveis. A transmissão de energia limpa no mundo não está acontecendo, mas o Brasil tem músculos e lideranças para conduzir um desenvolvimento justo e inclusivo”, afirmou Fatih Birol.
O diretor-executivo da IEA também destacou a importância cada vez maior que os chamados “minerais críticos” terão no contexto de transição energética. Segundo ele, o Brasil e outros países latino-americanos podem ser fornecedores globais destes recursos e devem receber propostas para exportação. Tais propostas, entretanto, precisam ser analisadas com cautela para que os minerais não sejam vendidos como materiais brutos, mas refinados e processados nos países de origem. Para Birol, vender os minerais de forma bruta pode ser “mais rápido e fácil”, mas o processamento e refino serão “bons para a economia do país” e poderão gerar empregos.
Em relação à transição justa, o ministro Alexandre Silveira destacou a experiência brasileira no acesso a eletricidade, como o programa Luz para Todos. Segundo ele, a contribuição do país pode ir “além da transição energética”, entrando também no combate à pobreza energética. “Estamos juntos com nossa EPE [Empresa de Pesquisa Energética], colaborando com países que ainda enfrentam números preocupantes de famílias sem energia”, disse.
Silveira ainda afirmou que o Brasil utilizará a presidência do G20 para acelerar a transição energética justa e “fazer da transição energética um instrumento de combate às desigualdades”. O ministro defendeu a monetização da “indústria verde” pelos países industrializados como chave para a geração de mais emprego e renda nos países em desenvolvimento.
Transição energética e desaceleração da China impulsionam a redução na demanda por óleo
Fatih Birol e Alexandre Silveira foram claros ao afirmar que a transição energética não significa o fim da era do petróleo.
Para Birol, a demanda por petróleo deve atingir o pico antes de 2030, por conta do crescimento das fontes renováveis e da desaceleração do crescimento econômico da China. Mesmo assim, ele pontua que, em qualquer cenário analítico, a demanda por petróleo não chega a zero.
Para o diretor-executivo da IEA, hoje a energia gerada por fontes renováveis já é mais barata do que a gerada por fontes fósseis, sendo necessários apenas mais avanços regulatórios.
Sobre o Plano de Trabalho Conjunto para a Aceleração da Transição Energética
Segundo o ministério de Minas e Energia, o plano orientará a cooperação e as atividades bilaterais entre a IEA e o Brasil no período de 2024 a 2025, fortalecendo o apoio à presidência brasileira da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em 2025.
O documento descreve as áreas prioritárias para cooperação na área da transição energética justa e inclusiva. A parceria também inclui intercâmbio de base de dados sobre setor de energia e estudos para fortalecer segurança e transição energética.