O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), defendeu na última semana a adoção de etanol pela frota nacional de veículos, frente ao uso de carros elétricos no país, ao mesmo tempo que celebrou a exportação de lítio verde, uma das principais matérias-primas para produção de baterias. Segundo o governador mineiro, a adoção dos elétricos pode gerar migração de empregos e demissões no país.
As declarações de Zema foram mal-recebidas no setor de veículos elétricos, que não poupou críticas ao governador mineiro, considerado “surpreendentemente hostil” à pauta da eletromobilidade.
Elétricos X etanol
“O elétrico é uma ameaça aos nossos empregos. A transição para o carro elétrico envolve a importação de baterias que pouquíssimos países produzem. Envolve destruirmos uma cadeia [produtiva nacional] que não sentindo. Peças de motor a combustão, escapamento, uma série de itens que não são utilizados nos carros elétricos. Vai significar a migração de empregos, sem contar postos de gasolina, concessionárias etc.”, declarou Zema em participação na terceira reunião do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud) em São Paulo.
Zema destacou ainda em seu discurso que o trabalho do Cosud é mostrar ao Brasil soluções não consideradas como, por exemplo, a maior adoção do etanol, que é “esquecido” e é mais sustentável do que os elétricos, na sua opinião.
“O Brasil tem hoje a condição de mostrar que tem alternativa para o carro elétrico. O nosso carro a etanol, que muitas vezes é esquecido, é tão sustentável quanto o elétrico ou até melhor. Muitas vezes o que nós estamos assistindo é um carro elétrico na tomada, sendo carregado por usina termelétrica altamente poluente, então precisamos mostrar que o brasil já tem uma frota considerável movida à combustível renovável”, continuou o governador.
Ao mesmo tempo que criticou a maior adoção de veículos elétricos, Romeu Zema celebrou as três exportações do lítio verde do estado para outros países, afirmando que Minas Gerais tem participado ativamente da transição energética mundial.
O ministério de Minas e Energia (MME) calcula que a produção de lítio e seus derivados deve receber investimentos de cerca de R$ 15 bilhões até 2030 apenas no Vale do Jequitinhonha.
Posicionamento ABVE
Por meio de nota, a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) se disse surpresa pelas afirmações do governador mineiro, já que os carros elétricos estão “transformando a indústria nacional”, através de investimentos em novas tecnologias, em linhas de produção e na aquisição de plantas industriais desativadas.
“Não faz sentido autoridades dos principais estados do país criarem insegurança a empresas que já se comprometeram a gerar empregos de qualidade e trazer inovação tecnológica à indústria brasileira”, disse o presidente da ABVE, Ricardo Bastos.
Para Bastos, a eletromobilidade inclui não apenas automóveis, mas toda uma cadeia de ônibus elétricos, infraestrutura de recarga elétrica e o setor de mineração, que conta com projetos importantes no Vale do Lítio, em Minas.
Além disso, a Associação defendeu que a mobilidade elétrica deve ser complementar aos biocombustíveis. Na avaliação da entidade, o crescente número de emplacamentos de veículos leves elétricos e híbridos nos últimos anos prova que o consumidor brasileiro aposta cada vez mais em produtos modernos e sustentáveis.
Cosud
Criado em 2019, o Cosud visa a consolidação da agenda de cooperação entre os governos que compõem o grupo, em temas que atendem às demandas econômicas, sociais e ambientais.
Fazem parte do Consórcio os governadores de Minas Gerais; São Paulo, Tarcísio de Freitas; Espírito Santo, Renato Casagrande; Paraná; Carlos Massa Ratinho Junior; Rio de Janeiro, Claúdio Castro; Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; e de Santa Catarina, Jorginho Mello.
A programação prevê a realização de 21 grupos temáticos (GTs), com debates e elaboração conjunta de propostas por secretários estaduais e gestores de cada administração.
No último sábado, 21 de outubro, o consórcio assinou dois documentos com intenções relacionadas às áreas de cultura e meio ambiente, com medidas propostas pelos grupos de trabalhos formados por representantes dos sete estados. Entre as propostas está o compromisso dos estados em substituir “paulatinamente” os combustíveis fósseis por fontes renováveis, no âmbito da transição energética.
“Os Estados estão comprometidos com a substituição paulatina dos combustíveis fósseis. Várias iniciativas serão estudadas como adoção de veículos movidos a etanol, biometano ou híbrido nas frotas estaduais, bem como medidas de incentivo a indústrias verdes. Além disso, será estudada a aquisição de energia elétrica a partir de fontes renováveis pelos governos dos estados”, diz carta de intenção.
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