A crise atual não é apenas energética, mas também econômica e social, consolidando-se em uma situação generalizada de crise global. Para Fatih Birol, diretor executivo da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a resposta imediata à crise deve contar com volumes adicionais de óleo e gás nos mercados, mas o mundo não pode “se prender” aos investimentos em combustíveis fósseis no longo prazo.
Segundo o executivo, essas fontes apresentam riscos tanto climáticos quanto econômicos, e a maior parte dessa resposta deve partir das energias renováveis, de forma que o mundo possa lidar com a crise energética e a crise climática de forma conjunta.
“Nós precisamos de combustíveis fósseis no curto prazo, mas não vamos prender o nosso futuro usando a situação atual como desculpa para justificar alguns dos investimentos que estão sendo feitos. Em termos de prazo isso não funciona e, moralmente, na minha opinião, não funciona também”, afirmou Birol.
O diretor da IEA explicou, ainda, que o momento atual é pior do que aquele vivido nos anos 1970 com os dois choques do petróleo, pois engloba mais do que a falta desse produto no mercado, incluindo rupturas relacionadas aos setores de óleo, gás e carvão, assim como alta nos preços dos combustíveis e ameaças à segurança energética global.
Hardeep Singh Puri, ministro de Petróleo e Gás Natural da Índia, concordou com o diretor da IEA sobre as múltiplas crises e ressaltou a necessidade de acelerar a transição energética para as energias renováveis. Além disso, Puri também avaliou que o problema atual não consiste na falta de energia, mas na administração do mercado.
“Eu não acredito que o mundo hoje esteja encarando uma falta de energia. Nós estamos enfrentando uma situação em que a quantidade de energia liberada no mercado global está aquém da demanda, produzindo a situação inflacionária”, afirmou o ministro.
Na contraparte da discussão, a presidente da Occidental Petroleum Corporation, Vicki Hollub, afirmou que a solução não deve focar na redução de óleo e gás nos mercados e na celeridade da transição energética, mas sim em como mitigar as emissões de gases de efeito estufa e em como diminuir a pegada de carbono do setor.
“Nós temos que fazer tudo o que pudermos para mitigar a mudança climática, então a conversa deve ser ‘como mitigamos as emissões?’ ao invés de sobre as fontes que utilizamos”, afirmou a executiva.
Os representantes participaram de painel sobre o panorama energético atual no Fórum Econômico Mundial, que acontece em Davos, na Suíça, entre os dias 23 e 26 de maio. Também estavam presentes Catherine MacGregor, chefe executiva do Grupo Engie, Robert Habeck, vice-chanceler da Alemanha e ministro de Finanças e Proteção Climática, e Jason Bordoff, co-reitor da Escola Climática da universidade de Columbia.