Combustíveis

Nova estratégia de preços vai testar governança e compromisso da Petrobras com rentabilidade

A nova estratégia comercial de preços da Petrobras, divulgada ontem, 16 de maio, pela estatal, surpreendeu positivamente especialistas que esperavam uma maior intervenção do governo na companhia. Num cenário de alta dos preços do petróleo, contudo, a governança da companhia e seu compromisso com a rentabilidade serão testados, e uma possível falta de transparência é o que deve mexer com o mercado de combustíveis brasileiros a partir de agora.

Nova estratégia de preços vai testar governança e compromisso da Petrobras com rentabilidade

A nova estratégia comercial de preços da Petrobras, divulgada ontem, 16 de maio, pela estatal, surpreendeu positivamente especialistas que esperavam uma maior intervenção do governo na companhia. Num cenário de alta dos preços do petróleo, contudo, a governança da companhia e seu compromisso com a rentabilidade serão testados, e uma possível falta de transparência é o que deve mexer com o mercado de combustíveis brasileiros a partir de agora.

A companhia não deixou de seguir a paridade com os preços de importação (PPI), mas vai considerar outros elementos, como a participação de mercado, a qualidade do consumidor, e suas vantagens competitivas no Brasil, onde é quase monopolista em refino. Os preços externos ainda farão parte da equação, assegurou Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, que garantiu que não se trata de interferência estatal e que a rentabilidade será levada em conta.

“A Petrobras realmente tem uma margem de refino que pode usar para ganhar mercado. Mas gasolina, diesel e GLP [gás liquefeito de petróleo] são commodities, com preços internacionais, então qual deve ser o preço que dê um retorno adequado ao acionista e permita a empresa ganhar mercado? É essa a interrogação. Qual será a margem?”, questionou Pedro Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Para o especialista, como há preços internacionais dados, se a empresa deixar isso de lado, a estratégia pode resultar em menos dinheiro no bolso do seu acionista. “A política anunciada tira a transparência e dá quase um cheque em branco na definição dos preços”, disse.

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A preocupação se justifica, segundo Rodrigues, pelo fato de a Petrobras não ser uma empresa privada inserida num ambiente de competição. “Ela é um agente dominante, com 80% do refino nacional”, lembrou.

No curto prazo, os efeitos dessa estratégia não devem ser relevantes, de acordo com Pedro Soares e Thiago Duarte, analistas do BTG Pactual, que estimam que, se o Brent continuar no nível de US$ 80 o barril, o Ebitda da companhia pode cair apenas 2% para cada redução de US$ 5 o barril no spread da venda dos derivados.

Os analistas Luiz Carvalho, Matheus Enfeldt e Tasso Vasconcellos, do UBS BB, também apontam que a empresa não deve sofrer pressão se os preços do petróleo continuarem nos patamares atuais. O problema pode surgir num cenário de alta do Brent, principalmente se combinado com a deterioração do real em relação ao dólar.

“Sob a nova política, vemos menos chance de aumento dos preços. Isso pode ser visto negativamente pelo mercado e pressionar as suas margens. Além disso, se os preços subirem e a Petrobras continuar vendendo a preços abaixo da paridade, a companhia vai precisar importar para assegurar a oferta ao mercado”, escreveram os analistas do UBS, em relatório enviado a clientes.

Para Pedro Rodrigues, com essa nova política, as distribuidoras vão deixar de importar, para comprar combustível da Petrobras, que acabará novamente dominando também a importação de combustíveis no país, o que reforça esse receio de que a empresa precise vender com subsídio, ou que ocorra desabastecimento em regiões do país.

“Me surpreendeu um pouco a Petrobras anunciar uma política comercial de empresa ao lado de um ministro de Estado. A política pública quem faz é o Estado, e não a Petrobras”, disse Rodrigues. Segundo ele, fica dificil saber como a empresa vai agir a partir de agora. “Ela pode subir os preços, não está congelando nada, mas a política como foi anunciada não dá transparência e nem previsibilidade”, afirmou.

Em entrevista à CNN, Jean Paul Prates, declarou que o país tem refinarias capazes de entregar mais de 80% de cada produto que precisa, seja combustível de aviação, gás de cozinha, diesel, gasolina, entre outros, além da capacidade de produzir e administrar os preços como empresa.

“Além de possibilidade de política de governo para defender o país de uma crise mais aguda, mas na oscilação dos preços de referência internacional, nós teremos que fazer os movimentos que forem cabíveis. Não vamos ficar completamente alienados da realidade mundial dos preços das comodities, do Brent, diesel, gasolina etc., mas vamos ter muito mais defesa contra a volatilidade que antes”, disse o presidente da Petrobras.

Os analistas do UBS BB também consideram a nova estratégia da Petrobras como um risco aos importadores privados, e concordam que esse papel vai acabar assumido exclusivamente pela estatal – retomando, assim, sua posição de monopólio no mercado.

Mesmo assim, a oferta de diesel da Rússia, com desconto em relação aos preços internacionais, pode ajudar a manter o suprimento por importadores privados.

“Diferente do que ocorreu em 2022, não existe hoje um risco de quebra de suprimento de diesel. Na verdade, com a abertura da arbitragem do produto russo, algumas regiões estão numa situação superavitária, o que pressiona os preços e até leva alguns participantes a deslocar diesel para países vizinhos”, disse Amance Boutin, especialista em combustível da Argus.

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