Combustíveis

Resíduos gerados pela produção de combustíveis verdes pela BBF virarão energia elétrica em Roraima

Resíduos gerados pela produção de combustíveis verdes pela BBF virarão energia elétrica em Roraima

O projeto anunciado pela Brasil BioFuels (BBF) para produção de HVO (diesel verde) e SAF (querosene verde de aviação) é verticalizado e todos os resíduos são aproveitados, na produção de outras matérias primas ou mesmo como insumo para geração de energia elétrica no local.

Segundo Dionisios Vossos, superintendente de Novos Negócios da BBF, é esse “ciclo fechado” que deixa o empreendimento mais competitivo no mercado. Durante evento realizado pela BBF com a Vibra em Roraima para anunciar a parceria de venda dos combustíveis produzidos, Vossos explicou que a refinaria vai processar 500 mil toneladas de óleo de palma por ano, produzindo cerca de 200 mil toneladas de HVO e mais 200 mil toneladas de SAF, além de nafta verde e outros resíduos, como off-gases, que serão todos usados na fabricação do hidrogênio verde necessário para a produção do HVO. 

Já os resíduos da palma esmagada para fabricação do óleo em Roraima, serão a biomassa utilizada na termelétrica em construção na região, que terá 17,6 MW de potência e deve entrar em operação comercial dentro de dois meses, segundo Milton Steagall, presidente da BBF. A usina foi contratada no leilão de energia para suprimento de Roraima, em 2019, e vai permitir que a unidade industrial da BBF na região desligue os geradores a diesel fóssil que a abastecem atualmente – de acordo com Steagall, os geradores são fundamentais por conta dos problemas de instabilidade da rede da distribuidora de energia de Roraima.

O diesel dos geradores, inclusive, é vendido pela própria Vibra à BBF. “A termelétrica lá é ruim porque deixamos de vender o diesel”, brincou Marcelo Bragança, vice-presidente executivo de Operações, Logística e Sourcing da Vibra, empresa que fechou um contrato para comprar e distribuir todo esse combustível verde que será gerado a partir de 2025. “Entendemos que essa transição vai acontecer, e estamos nos posicionando para isso”, explicou, justificando a parceria com a BBF, que, segundo o executivo, é a única a ter um projeto do tipo no Brasil até o momento.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE Minuto Mega Minuto Mega

As lagoas de efluentes da palma esmagada vão produzir biometano e biogás para a frota da BBF, completando a sustentabilidade da cadeia em construção na região. A termelétrica a biomassa vai funcionar 11 meses por ano, já que trata-se de uma cultura perene. No mês em que a usina ficará parada para manutenção, o motor de 10 MW de potência localizado na unidade vai funcionar com óleo vegetal de palma também produzido no local.

A BBF tem 70 mil hectares de palma plantada atualmente, divididos entre Roraima e Pará, acompanhados de usinas esmagadoras que produzem 200 mil toneladas por ano de óleo vegetal. Até 2026, serão mais de 120 mil hectares plantados, permitindo a produção das 500 mil toneladas do óleo.

O potencial da região vai muito além disso, segundo as empresas, com 31 milhões de hectares na região Norte em áreas desmatadas cujas regras do governo permitem o reflorestamento com palma, e que estão concentradas em Rondônia, Pará e Roraima – um “pré-sal verde”, de acordo com Vossos.

A planta da palma leva quatro anos para dar frutos, e produz por mais de 35 anos de forma perene, com produção de 5 toneladas de óleo de palma por hectare. Nas áreas adjacentes da produção que não podem receber a palma, a BBF pretende iniciar o cultivo de cacau, outra planta nativa com produção semelhante à da palma. Neste caso, o comprador do produto deve ser a Cargill, que também tinha executivos no evento em Roraima, que contou inclusive com um plantio simbólico de mudas de cacau.

“Essas questões são críticas para quem está preocupado em recuperar a floresta”, disse Milton Steagall, presidente da BBF, que defende que, sem o plantio de culturas que possam ser aproveitadas, como o caso das plantas nativas de palma e cacau, as áreas desmatadas só irão crescer pela falta de condições econômicas na região. “Em 2002, quando vim aqui pela primeira vez, não tinha nada, nem rodovia nem agencia bancária. Tinha um assentamento e uma vila de assentados. Os buracos na floresta só aumentam, não diminuem, e não adianta achar que o pasto vai ficar floresta com um passe de mágica”, afirmou.

*A repórter viajou a São José da Baliza (RR) a convite da BBF e da Vibra

Leia mais:

Vibra aposta em combustíveis verdes da BBF como alternativas para descarbonização