Depois de perder participação de mercado (market share) no quarto trimestre de 2023, a Vibra busca recuperar sua posição, mas sem pressa. “Vamos retomar esse market share muito gradualmente”, disse o presidente da Vibra, Ernesto Pousada, em teleconferência de resultados nesta terça-feira, 5 de março. A marca ideal, chamada pela companhia de “fair share”, estaria em torno do patamar de 28% atingido no final de 2022.
Nos últimos três meses do ano passado, a fatia da Vibra recuou 3,5%, atingindo 24,8% das vendas de combustíveis no país, com volume de 9,1 milhões de m³. A receita líquida ajustada também reduziu 3,1% na comparação anual, atingindo R$ 43,8 bilhões no trimestre.
Até retomar a posição ideal, a companhia prefere perseguir boa rentabilidade, como avalia ter feito no último trimestre, com margem Ebitda ajustada (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 254 por m³, montante 69,2% superior do que o do mesmo período de 2022. Este valor não considera recuperação tributária extraordinária de R$ 2,5 bilhões observada no período.
Parceiros fiéis e rentáveis
Na estratégia de perseguir rentabilidade, entrou a redução no número de postos embandeirados. A Vibra fechou 2023 com 8.198 postos, uma diminuição de 126 estabelecimentos, abandonando aqueles com menor volume de venda. A companhia prefere permanecer com parceiros mais fiéis.
“A parceria que temos com a revenda é muito grande e pedimos recíproca, que eles trabalhem nossa bandeira, produtos e levem nossos serviços aos clientes. Essa redução no número se deve a isso: quem de fato é nosso parceiro, e quem não é”, disse Pousada, que avalia, inclusive, que pode haver mais redução. “Nosso número deve rodar em torno de 8 mil postos”, disse.
Com os parceiros mais rentáveis, 25,3% do lucro bruto da rede de postos em 2023 veio de produtos aditivados e premium, contra 22,9% em 2022.
Outro segmento com alta rentabilidade é o B2B (para empresas), cuja margem bruta ajustada no trimestre foi de R$ 302 por m³, montante 40,5% maior do que no mesmo período de 2022. Assim, o lucro bruto aumentou 28,2% no trimestre, a R$ 1 bilhão. Não é por acaso que o segmento B2B e a rede embandeirada devem ser os focos da Vibra em 2024.
No B2B, a empresa avalia que, nos últimos anos, esteve muito direcionada a clientes grandes, e agora pretende aumentar sua fatia em clientes médios – como distribuidoras regionais e, sobretudo, agronegócio. O crescimento também deverá ser recuperado na parte de diesel, que sofreu impacto da entrada do combustível russo.
Outra via de crescimento está em lubrificantes. No segundo semestre, está prevista a inauguração de mais de 50% da capacidade de uma nova fábrica, que deve ter produção total de 300 milhões de litros por ano.
‘Tesouro’ escondido
A Comerc Energia, na qual a Vibra tem 48,7% de participação, é vista como um “tesouro escondido” por Pousada. Mesmo que ainda não represente fatia significativa nos resultados da Vibra, a diretoria avalia que os resultados são “ótimos”. No trimestre, a divisão rendeu para a Vibra receita de R$ 633 milhões e lucro bruto corrente de R$ 123 milhões, o que representa aumento de 23,1% e 89,2%, respectivamente, na base anual.
“É realmente um ativo muito interessante, que cada vez mais se consolida como uma das avenidas de crescimento da Vibra”, disse Pousada. A boa avaliação do negócio está no posicionamento em geração renovável e transição energética, e na plataforma de comercialização da Comerc.
“A gente participa muito mais ativamente de comitês, da gestão da companhia. E a gente acredita que essa, sem dúvida alguma, será uma plataforma de crescimento futuro, com a geração de caixa a partir da Comerc”, disse o presidente da Vibra.
A Vibra tem uma opção de compra do restante da Comerc a partir de 2026, mas não descarta antecipar seu exercício, segundo Pousada. “Se ao longo desse caminho aparecer alguma oportunidade boa para ambos os lados de antecipação [da opção], vamos buscar”, disse.
Resultados
No quarto trimestre de 2023, a Vibra alcançou lucro líquido de R$ 3,2 bilhões, valor 482,5% maior do que em 2022. A grande diferença se deve a recuperação tributária extraordinária de R$ 2,5 bilhões observada no período mas, mesmo desconsiderando o ganho atípico, o Ebitda ajustado aumentou 54,5% na comparação anual, a R$ 2,3 bilhões.
As receitas, entretanto, caíram 3,1% no trimestre, atingindo R$ 43,8 bilhões. O volume de vendas foi 8,7% menor do que no quarto trimestre de 2022, atingindo 9,1 milhões de m³. Segundo a empresa, a redução no volume foi sentida sobretudo no diesel, que teve redução de 8,2% e no combustível para aviação, que caiu 9%.
Sobre o diesel, a Vibra explica a perda de mercado pela forte entrada do diesel russo no mercado brasileiro, que chega aqui a preços muito competitivos desde o início das sanções à Rússia por causa da guerra na Ucrânia. A Vibra alega ter estabelecido uma política de compliance rigorosa para este combustível. Agora, esta política estaria pronta e a Vibra deve praticar margens maiores de importação de diesel, incluindo o russo.