
Os países que compõem o Brics Expandido têm papel fundamental na segurança alimentar mundial, e podem desenvolver ainda mais suas atividades agrícolas com maior intercâmbio dentro do bloco. Estas são algumas das conclusões do painel “Alcançando a segurança alimentar e a resiliência climática”, durante o evento Construindo Coalizões para a Ação Climática no Brics Expandido, que aconteceu em 3 de julho no Rio de Janeiro.
O evento foi organizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) em parceria com a Siemens Energy, com o objetivo de fomentar discussões relevantes em prol de ações efetivas antes da COP30 para que a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima seja um espaço voltado para negociações finais e implementação.
Para o diretor acadêmico do CEBRI e professor da Universidade de São Paulo (USP) Feliciano de Sá Guimarães, as discussões sobre segurança alimentar que acontecem dentro dos Brics são importantes para toda a ordem mundial e para a agenda do futuro, em razão do posicionamento dos países do bloco como produtores, exportadores e importadores de alimentos. Nesta discussão entra, também, o papel da produção agrícola com a resiliência climática do planeta.
Segundo o especialista, o Brasil é responsável por 10% a 20% das exportações agrícolas do planeta. “Portanto, um país fundamental para a manutenção da segurança alimentar planetária”. Apesar de ser o maior produtor agrícola do planeta, a China também é um grande importador, pois sua produção não é suficiente para atender a própria demanda interna.
Maior intercâmbio para mais competitividade e inovação
Segundo a head de Relações Institucionais e Governamentais na BRF e Marfrig, e líder do Grupo de Trabalho (GT) do Agronegócio nos Brics, Helena Araújo, os produtores dos países do grupo podem se beneficiar do compartilhamento de conhecimento e tecnologia.
“Veio muita discussão relacionada à tecnologia, como os grandes também poderiam apoiar os pequenos produtores, compartilhando tecnologia e conhecimento, e reconhecendo também o papel de quem tem mais dinheiro, tem papel importante, mas a sua responsabilidade é igualmente importante”, disse.
O pesquisador do Insper Agro Global Alberto Pfeifer comentou um estudo de seu grupo que conclui que os países do Brics Expandido podem traçar uma agenda agrícola comum. “Apesar de toda a diversidade entre os países, dá para pensar em políticas ou em iniciativas conjuntas na pauta agrícola dos Brics, que se comunica com a pauta ambiental”, disse.
Como um dos desafios comuns aos pequenos produtores do bloco está no financiamento, o pesquisador sênior do Instituto Sul Africano de Relações Internacionais (Saiia, na sigla em inglês), Gustavo de Carvalho, propõe empréstimos em moedas locais e o uso do New Development Bank, também conhecido como “banco dos Brics”, como formas de aumentar a competitividade dos países.
“Essas são, a princípio, formas ideais de se utilizar e trabalhar, por exemplo, com a agricultura familiar. Se para grandes empresas a flutuação de câmbio é extremamente problemática, para pequenos produtores é ainda mais”, disse o especialista.
“Revolução verde” brasileira
Em relação ao Brasil, Alberto Pfeifer lembrou que o país é um bom exemplo de “revolução verde” no campo, ao integrar os recursos naturais, a tecnologia, a inovação e o “capital humano do produtor brasileiro e seu modo de produzir, que é único”.
Com técnicas locais, o Brasil desenvolveu um regime agrícola de até quatro safras por ano, o que faz o país produzir de duas a quatro vezes mais do que em “qualquer concorrente não tropical”, diz o pesquisador. Dessa forma, também a fixação de carbono no solo tende a ser maior, o que ainda não é contabilizado por limitações técnicas, segundo Pfeifer.
Bolsa de commodities e alternativas de financiamento
Além do intercâmbio de conhecimento e tecnologia entre os países do Brics, outra possibilidade para impulsionar o setor agrícola é a criação de uma bolsa de commodities própria.
Alberto Pfeifer explicou que a ideia veio da Rússia, “premida por circunstâncias políticas e econômicas, embargos, restrições”. Para o pesquisador, a proposta poderá permitir a apresentação de produtos adaptados às necessidades dos países do Brics e oferecer uma alternativa às bolsas tradicionais. O assunto, entretanto, ainda está longe de sua concretização.
“Pode ser interessante, mas tem trabalho pela frente. Precisa padronizar, estabelecer o consenso entre os participantes. E você vai ingressar num mundo competitivo, em que já existem players estabelecidos, bolsas estabelecidas, existem meios de transação, moedas predominam sobre as que podem ser apresentadas como alternativas”, enumera.
Compõem o Brics Expandido: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.