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Por: Esmeraldino da Rosa**
A abertura do mercado de energia deixou de ser promessa e já está em prática.
Desde julho de 2025, com a entrada em vigor do PdC 1.8, consumidores passaram
a contar com um modelo simplificado para migrar ao mercado livre por meio de
agentes varejistas. Para as distribuidoras, o novo processo trouxe uma virada de
chave: o que antes era uma maratona burocrática hoje está mais ágil, tanto no
envio de dados quanto na aprovação das migrações.
Esse ganho só foi possível porque a simplificação veio acompanhada de
tecnologia. Ferramentas como o Integraflow, por exemplo, têm apoiado
distribuidoras nesse processo, trazendo mais agilidade e segurança às
integrações.
Ainda assim, os desafios se multiplicaram. A Consulta Pública 07/2025 da ANEEL
e a MP 1.300/2025 trouxeram novas camadas de obrigações: interoperabilidade
entre sistemas e com a CCEE, protocolos de segurança, modernização do parque
de medição e criação de equipes especializadas para lidar com milhões de dados
em tempo real.
Na visão de Araken Souza, especialista de mercado do Grupo Enel,
o cenário atual é de forte pressão. “As distribuidoras precisam prever o ritmo das
migrações para gerenciar riscos de sobrecontratação, ajustar contratos de compra de energia, desenvolver modelos de faturamento mais transparentes e dinâmicos e, ao mesmo tempo, enfrentar o desafio logístico e financeiro da modernização do parque de medição.”
Essa preocupação não é isolada. Segundo dados da ANEEL, o Brasil possui cerca
de 89,6 milhões de unidades consumidoras no Grupo B, potencial grupo a ser
migrado nos próximos anos. Apesar desse número expressivo, a quantidade de
medidores inteligentes instalados ainda é pequena. Não há, até o momento, uma
cobertura estatística oficial que indique a quantidade em operação. O que se sabe
é que os projetos em andamento são isolados, conduzidos individualmente por
algumas distribuidoras, e juntos não chegam a 10% do total de unidades do Grupo
B.
Devido a essa ampla escala, investir em tecnologias para a coleta massiva desses
dados torna-se não apenas estratégico, mas indispensável. Além disso,
tecnologias de estimativas de dados automatizadas fazem com que o processo
simplificado atual, baseado no conceito de melhor dado disponível, seja viável e
escalável. Esse recurso já vem sendo exigido pela CCEE e representa uma
mudança relevante: os dados de energia não precisam ser necessariamente
medidos, mas devem ser consistentes e confiáveis, podendo ser estimados a
partir de rotinas automáticas e regras pré-estabelecidas.
Essa automação é fundamental porque o modelo manual, utilizado hoje pelas
distribuidoras, não se sustenta diante do volume massivo de dados que a abertura
do Grupo B trará. Nesse sentido, as estimativas automáticas cumprem um papel
de fiadoras da confiabilidade do processo, permitindo que lacunas,
ultrapassagens de capacidade nominal e falhas em equipamentos sejam
rapidamente identificadas e tratadas. Ao mesmo tempo, essas tecnologias
aproximam o setor de uma abertura mais transparente e segura, mesmo em um
cenário em que a medição inteligente ainda não está disponível de forma
estruturante em todo o país.
Enquanto comercializadoras pedem mais velocidade na abertura e entidades de
consumidores solicitam salvaguardas contra desequilíbrios tarifários, as
distribuidoras são chamadas a garantir a estabilidade da transição. Sem rede
confiável, dados consistentes e medição íntegra, não há competição que se
sustente. Nesse contexto, ferramentas como a Plataforma Integrada de Medição
(PIM), já desempenham um papel importante na gestão da medição de clientes
livres e na interoperabilidade com sistemas e a CCEE, além de novas tecnologias
para a coleta massiva de dados e módulos de estimativas automáticas, apoiando
as distribuidoras em sua missão.
Olhando para frente, as perspectivas das distribuidoras incluem descontratação
programada, tarifas dinâmicas, expansão do uso da tecnologia, inteligência
artificial e automação avançada de processos. Mas o presente já mostra que a
abertura só será sustentável com apoio tecnológico. O futuro exige que a
distribuidora siga como guardiã da rede física, mas apoiada em empresas de
tecnologia capazes de oferecer soluções que conectem prática operacional e
exigências regulatórias.
A abertura do mercado é inevitável, mas só será bem-sucedida se essa
complexidade for traduzida em processos simples e transparentes para o
consumidor.
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** Esmeraldino da Rosa é analista Comercial na Way2 Technology
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