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Aeris acredita em retomada do mercado em até 3 GW a partir de 2027

Companhia também aposta no mercado externo e na divisão de serviços para atravessar período crítico

Aeris - Foto Tauan Alencar (MME)
Fabricante de pás Aeris/ Crédito: Tauan Alencar (MME)

A Aeris Energy, que tem tentado prorrogar os prazos de dívidas junto a credores, não acredita em uma retomada do mercado entre 2025 e 2026. Com a possibilidade de novas demandas de setores como hidrogênio verde e data centers, além das tratativas do setor junto ao governo por mais incentivos ao mercado, a companhia acredita em uma retomada a partir de 2027, mas com crescimento menor do que o observado anteriormente.

“Não acreditamos em um boom de 4 GW ou 5 GW como tivemos em 2022 e 2023, mas passando essa fase de baixa 25 e 26, talvez em 27 a gente possa voltar a um patamar de 2,5 GW ou 3 GW”, avaliou o presidente da Aeris Energy, Alexandre Negrão, durante teleconferência de resultados do quarto trimestre da companhia. 

Até lá, a Aeris Energy espera ter sucesso na negociação com credores, de forma a ganhar fôlego para atravessar o período de baixa. A alavancagem da companhia ficou em 8,6 vezes no fim do quarto trimestre de 2024, contra 3,2 vezes no terceiro trimestre de 2024 e 1,9 vezes no quarto trimestre de 2023.

Outras apostas estão no segmento de serviços, que cresceu 30% em relação a 2023 e surpreendeu com fluxo de receitas maior do que o esperado pela diretoria da companhia. “Nós imaginávamos que a divisão de Serviços seria cerca de 5% ou 6% da receita total, e ela foi 10% no ano e 26% no trimestre”, disse Negrão.

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Com uma base em Fortaleza, no Ceará, e outra em Houson, nos Estados Unidos, a Aeris Energy também avalia que pode crescer no mercado externo, especialmente nos Estados Unidos e na América Latina. Para a companhia, ainda que a eleição de Donald Trump traga incertezas ao setor eólico do país, o mercado norte-americano deve passar por forte recuperação nos próximos anos.

Alexandre Negrão também relata que a companhia está em “processo final” para projetos na Argentina, Guatemala e México, além dos Estados Unidos. Segundo o presidente da Aeris, há ainda conversas com o mercado europeu, embora reconheça que este é um mercado mais difícil em função das longas distâncias.

Apoio do governo ao setor

Apesar de planejar que boa parte do crescimento da Aeris virá das exportações, a companhia também tem trabalhado junto a associações como a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) e a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) pela retomada do segmento eólico no Brasil.

“São conversas longas, cujo resultado a gente não vê rápido. Mas o que a gente tem visto é sim o governo sensibilizado com a questão, e essa questão do Fundo Clima mostra isso”, disse Negrão. No fim de 2024, o Conselho Monetário Nacional reduziu a taxa de juros do Fundo Clima para empreendimentos eólicos de 8% para 6,5% e aumentou o custo para projetos solares, de 8% para 9,5%, por entender que não precisava de menos incentivos. 

“Precisamos trabalhar com isonomia, a solar é um forte concorrente da eólica. Os incentivos não estão sendo colocados de forma isonômica e a solar está tomando muito espaço do Brasil”, disse o presidente da Aeris.

Perda de contratos e resultados

No quarto trimestre de 2024, a Aeris Energy registrou prejuízo de R$ 833,1 milhões, contra prejuízo de R$ 63,9 milhões registrado um ano antes. Segundo a diretoria da companhia, o resultado de 2024 se deve a impairment (depreciação) em função do término dos contratos com a Siemens Gamesa, Nordex e WEG, que tiveram efeito negativo de R$ 751 milhões no balanço da companhia.

“Além disso, um dos nossos clientes desativou temporariamente três linhas em novembro do ano passado, consequência da baixa demanda no mercado nacional para o ano de 2025”, disse o diretor financeiro da Aeris, José Azevedo.

Alexandre Negrão avalia que o térmico dos contratos se deve a fatores externos e de mercado, e que a Aeris está bem-posicionada junto a estes clientes para o momento em que as demandas ressurgirem.

Como reflexo da perda de contratos, a Aeris encerrou o ano de 2024 com 1.616 MW entregues, contra 3.146 MW entregues em 2023. No quarto trimestre de 2024, a empresa tinha encomendas máximas de 9,7 GW, contra um montante de 10,8 GW no fim de 2023. A potência média dos aerogeradores também caiu, de 4,9 MW no quarto trimestre de 2023, para 4,1 MW no quarto trimestre de 2024.

A receita líquida no quarto trimestre de 2024 foi de R$ 211,4 milhões, contra R$ 702,7 milhões no fim de 2023. A venda de pás no mercado interno representou receitas de R$ 65,6 milhões, contra R$ 662,9 milhões há um ano. No mercado externo, a venda de pás trouxe receita de R$ 67,2 milhões no quarto trimestre de 2024.

A divisão de serviços registrou receita de R$ 54,9 milhões no quarto trimestre de 2024, com crescimento de 37,7% em relação ao quarto trimestre de 2023.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) da Aeris Energy no trimestre foi de R$ 1,6 milhão negativo, contra R4 34 milhões no mesmo período de 2023. Considerando todo o ano de 2024, o Ebitda foi de R$ 138,8 milhões, com recuo de 58% em um ano.

A alavancagem da Aeris ficou em 8,6 vezes no fim do quarto trimestre de 2024, contra 3,2 vezes no trimestre imediatamente anterior e 1,9 vezes no quarto trimestre de 2023.