
O Brasil emitiu R$ 11 bilhões em debêntures no setor de data centers desde 2021. A expectativa é que com as novas políticas propostas pelo governo, o montante aumente ainda mais a atratividade do país para investimentos em infraestrutura digital, segundo relatório da Fitch Ratings.
Segundo a análise, o Brasil tem se consolidado como o principal hub de data centers da América Latina, devido à combinação de conectividade via redes de fibra óptica neutras e ampla oferta de energia renovável, fatores considerados como atraentes para empresas comprometidas com a redução de suas pegadas de carbono.
Contudo, o ambiente de negócios enfrenta desafios relevantes, como as altas taxas de juros, a carga tributária sobre a importação de equipamentos e a escassez de mão de obra qualificada no setor de tecnologia.
Atualmente, o governo federal está em vias de lançar uma medida provisória chamada de Política Nacional de Data Centers (Redata), que pode atrair aproximadamente R$ 2 trilhões em investimentos nos próximos dez anos, conforme estimativa do governo, a partir de três eixos principais.
Um dos principais fundamento da iniciativa é a redução do imposto de importação para equipamentos de tecnologia da informação que não são fabricados no Brasil, ponto principal da análise da Fitch Ratings.
Atualmente, para instalar seus centros de dados no Brasil, as companhias precisam importar equipamentos que estão sujeitos a 100% de impostos. Segundo cálculos dos analistas Ricardo Junqueira, Alexandre Garcia e Yee Man Chin, cada MW de capacidade instalada exige cerca de US$ 10 milhões em investimentos de capital por parte das operadoras de data centers, enquanto os clientes investem entre US$ 40 milhões e US$ 50 milhões adicionais em equipamentos.
“O equilíbrio entre expansão de capacidade e manutenção de uma estrutura de capital e liquidez saudáveis é uma consideração fundamental de crédito para o setor de data centers. Isso é particularmente crucial no Brasil devido às altas taxas de juros, com a taxa Selic de referência agora em 14,75%”, diz trecho da análise.
Na avaliação dos analistas, a isenção fiscal proposta pode se traduzir em bilhões de dólares em economia de custos para hiperescaladores como Oracle, AWS (Amazon), Alphabet (Google) e Meta, cujos data centers podem atingir 50 MW a 70 MW cada.
Operadoras locais
A Fitch ainda citou o uso de operadoras locais, como a Scala Data Centers, Elea Data Centers e Ascenty Data Centers, pelas big techs no Brasil devido à expertise em lidar com a estrutura regulatória e o licenciamento local.
A Elea, por exemplo, anunciou no início de maio o desenvolvimento de um projeto envolvendo aplicações de Inteligência Artificial (IA) e computação em nuvem no Rio de Janeiro. O ativo está dentro da iniciativa da empresa com a prefeitura do Rio de Janeiro, chamada de Rio AI City, uma cidade de data centers localizada na região do Parque Olímpico.
O Rio AI City prevê instalação de data centers com capacidade inicial de 1,8 GW até 2027, com previsão de expansão para 3,2 GW até 2032, por meio de fontes renováveis. Para a Fitch, as políticas estudada pelo Brasil podem ajudar a empresa a atingir seu objetivo estratégico de garantir grandes contratos take-or-pay com empresas multinacionais para reduzir o risco de futuros projetos de expansão.
A aquisição desses contratos seria positiva para o crédito da Elea, pois abordaria preocupações com escala, visibilidade da receita e taxas de ocupação relativamente baixas. Contratos com clientes internacionais, precificados em dólares americanos, poderiam abrir caminho para a emissão de dívida denominada em dólares americanos, o que melhoraria o acesso da Elea a financiamento e, ao mesmo tempo, reduziria seu custo de juros.