Economia e Política

Cadeia global de minerais para renováveis pode estar vulnerável a choques de oferta

Minerais / Crédito: Freepik
Minerais / Crédito: Freepik

A concentração da cadeia de suprimento de minerais estratégicos torna o mercado “altamente vulnerável” ao choque de oferta. Para Fatih Birol, diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (IEA), o modelo atual do mercado pode torná-lo suscetível a questões ligadas às condições climáticas extremas, falhas técnicas ou interrupções comerciais.

“O impacto de um choque de oferta pode ser abrangente, elevando os preços para os consumidores e reduzindo a competitividade industrial”, destacou o diretor-executivo da IEA em relatório sobre o setor.

A adoção de minerais estratégicos cresceu ao longo dos últimos anos devido à ampliação de projetos de energia renovável, veículos elétricos e armazenamento de baterias, levando a reduções do custo. O lítio, matéria-prima principal das baterias de carros elétricos e para a geração renovável, aumentou quase 30% em 2024, superando a taxa de crescimento anual de 10% observada em 2010.

No entanto, a IEA acredita numa combinação da crescente concentração de oferta e das restrições à exportação podem aumentar “o risco de interrupções dolorosas”. De acordo com a agência, dos minerais estratégicos relacionados à energia analisados, 55% estão agora sujeitos a alguma forma de controle de exportação.

“Em um mundo de altas tensões geopolíticas, os minerais essenciais emergiram como uma questão de primeira linha na proteção da segurança energética e econômica global. Precisamos olhar para a diversidade das cadeias de suprimentos de minerais. É uma preocupação fundamental para garantir a confiabilidade, a acessibilidade e a sustentabilidade da energia no século XXI”, disse Birol.

China e a concentração de mercado

Principal alvo do tarifaço anunciado por Donald Trump no início do ano, a China tem desempenhado um papel relevante em cada etapa da cadeia de suprimentos de baterias.

Segundo relatório divulgado nesta quarta-feira, 21 de maio, pela Energy Information Administration dos Estados Unidos (EIA), em 2023, o país importou quase 12 milhões de toneladas de minerais brutos e processados ​​para baterias e exportou quase 11 milhões de toneladas, sendo responsável por 46% do comércio mundial.

De acordo com o Projeto Tearline da Agência Nacional de Inteligência Geoespacial (GNIA), empresas chinesas têm realizado investimentos expressivos em projetos de mineração e extração na Argentina, dando ao país acesso ao Triângulo do Lítio, uma área na Argentina, Bolívia e Chile que contém 50% do lítio mundial.

Em visita recente ao país, o Brasil assinou 36 acordos de cooperação bilateral, dos quais sete estão relacionados aos setores de inteligência artificial (IA), renováveis, transmissão, mineração, nucleares e de biocombustíveis. 

Processo de desconcentração será lento

A liderança da China no segmento também é apontada no relatório da IEA, que destacou que, para cobre, lítio, níquel, cobalto, grafite e elementos de terras raras, a participação média de mercado dos três principais produtores aumentou de cerca de 82% em 2020 para 86% em 2024, com quase todo o crescimento da oferta vindo de um único fornecedor principal: Indonésia, para níquel, e China, para todos os outros minerais.

Em sua avaliação, os países já perceberam os desafios a serem enfrentados devido ao cenário, mas a “diversificação deverá ser lenta”, com a participação dos principais fornecedores reduzindo marginalmente na próxima década.

Platô dos minerais

Ao analisar os equilíbrios de oferta e demanda da próxima década, o relatório também apontou riscos, com investimentos enfraquecidos nos últimos anos. Os gastos do setor cresceram 5% em 2024, ante um aumento de 14% em 2023, já a atividade de exploração atingiu um platô no último ano, marcando uma pausa na tendência de alta observada desde 2020, e o financiamento de startups mostrou sinais de desaceleração.

O relatório ainda destacou riscos maiores no mercado de cobre, que tem uma demanda prevista para aumentar conforme os países buscam expandir suas redes elétricas. O atual pipeline de projetos de mineração de cobre aponta para um déficit de oferta de 30% até 2035.