A Petrobras vai adotar medidas de redução de custos, simplificação e otimização de projetos para fazer frente à volatilidade do preço do petróleo e cenário inflacionário no setor. A estatal reafirmou a viabilidade de todos os seus projetos mesmo em cenários de brent mais baixo, mas pretende implementar uma política de austeridade frente ao cenário atual do mercado. Hoje, o brent está a US$ 65 por barril, contra cerca de US$ 80 há um ano e queda média de 14% desde o começo de 2024.
“A Petrobras está absolutamente ciente da sua obrigação de reagir a essas flutuações. Quando o preço sobe, nós temos mais conforto para largar as nossas ideias. Quando o preço desce, é hora de apertar os cintos. É um momento de austeridade e controle geral de custos”, disse a presidente da companhia, Magda Chambriard, durante teleconferência de resultados do primeiro trimestre, realizada nesta terça-feira, 13 de maio.
Segundo a companhia, o Plano Estratégico 2025-2029 está mantido, mas o próximo plano de negócios já deve refletir a nova conjuntura do mercado. Até lá, a Petrobras planeja reduzir gastos corporativos e simplificar projetos de engenharia – o que já estaria sendo implementado nos projetos de Sergipe Águas Profundas, segundo o diretor Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Fernando Melgarejo. Projetos que já passaram por licitação mas não tiveram boa atratividade, como Barracuda e Caratinga, devem ser revistos.
Além disso, a Petrobras deve priorizar projetos que tragam fluxo de caixa positivo em tempos mais curtos e reavaliar a estrutura de custos de projetos maduros, como campos terrestres.
“Aumentar a nossa eficiência operacional é uma forma da reduzir os custos das nossas áreas de offshore. E nas áreas onshore, realmente é uma redução significativa de todos os custos para que ele fique realmente rentável”, disse a diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia dos Anjos.
Fernando Melgarejo lembrou que os projetos da companhia são de longo prazo, o que também deverá ser considerado nas decisões da companhia. “Entre a exploração e o primeiro óleo, estamos falando de sete anos. Então não é [pensando em] um horizonte tão curto que a gente deve tomar uma decisão”, ponderou.
Perda do mercado de gás
Desde a abertura do mercado livre de gás natural, a Petrobras tem perdido posições para concorrentes. Entre os quarto trimestres de 2024 e o primeiro trimestre de 2025, as vendas de gás natural da companhia reduziram 16,7%.
Segundo a estatal, a queda ocorreu em função da menor demanda tanto no segmento termelétrico, o que reflete um cenário hidrológico mais equilibrado, quanto no segmento não termelétrico, diante da maior participação de outros agentes neste mercado.
“Em cerca de três anos, com a abertura, nós estamos com 19 supridores no mercado. Ou seja, 19 potenciais competidores”, disse o diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Mauricio Tolmasquim, que deve deixar o cargo em breve para assumir uma das três cadeiras do governo na Eletrobras.
Tolmasquim explica que a Petrobras tem reagido ao desafio de recuperar o mercado, por meio de uma política de preços “agressiva”. A estatal também acredita que a operação plena da unidade de processamento de gás natural (UPGN) do Complexo de Energias Boaventura (ex-Comperj e Gaslub), no Rio de Janeiro, deve aumentar o portfólio de produtos e aumentar a competitividade da companhia no mercado.
A estatal também espera melhorar suas tarifas de transporte de gás. “A gente está pleiteando aqui com uma isonomia entre os valores pagos pela Petrobras e os valores pagos pelos demais agentes. Então, as perspectivas para os próximos trimestres são justamente de uma melhora”, disse Tolmasquim.
Resultados
No primeiro trimestre de 2025, a Petrobras registrou lucro líquido de R$ 35,2 bilhões, um valor 48,6% superior ao do mesmo período de 2024. Assim, a estatal também reverteu o prejuízo de R$ 17 bilhões do quarto trimestre de 2024.
O Ebitda (lucros antes dos juros, tributos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ajustado foi de R$ 61 bilhões, com variação positiva de 1,7% em um ano.
No período, houve retração de 9,1% no preço do petróleo, que fechou o trimestre a US$ 75,66 contra US$ 83,24 há um ano. Também houve desvalorização cambial, e o dólar médio de venda aumentou de R$ 4,95 para R$ 5,84.
O segmento de exploração e produção registrou lucro operacional de R$ 44,2 bilhões no trimestre, com avanço de 0.9% em um ano. Em refino, transporte e comercialização, o lucro operacional foi de R$ 2,7 bilhões, contra R$ 6,8 bilhões há um ano, que representa retração de 59,4% no período.
O segmento de gás e energias de baixo carbono teve prejuízo operacional de R$ 244 milhões, contra lucro de R$ 1,7 bilhão há um ano. A receita fixa de leilões de energia caiu 46,9% em um ano, fechando o primeiro trimestre de 2025 a R$ 169 milhões. O preço médio de venda de energia elétrica também caiu, de R$ 312,62/MWh para R$ 247,43/MWh, o que representa retração de 20,9% no período. Em gás natural, o preço de venda caiu 16% no período.