O grande número de projetos de geração renovável que entrará em operação nos próximos três anos, com o intuito de garantir o desconto pelo uso do fio, pode exercer uma pressão momentânea sobre os preços de energia no período. A AES Brasil, já prevendo o fenômeno, perseguiu uma estratégia de contratação no longo prazo do seu portfólio.
“Lá em 2020, quando começamos a executar essa estratégia, já tínhamos a expectativa de pressão no preço em função da oferta entre 2024 e 2025, e, por isso, trabalhamos com energia toda contratada para não sofrer os impactos”, disse Clarissa Sadock, presidente da AES Brasil, durante teleconferência sobre os resultados de 2021.
A companhia tem 83% do seu portfólio contratado em 2024, e 66% em 2025, aos preços médios de R$ 185/MWh nos dois anos.
A executiva destacou que, quando a estratégia foi pensada, a expectativa era de que a hidrologia fosse normal, sem o despacho das termelétricas caras que foram acionadas em 2021 e que ajudaram a subir as tarifas de energia no mercado regulado.
Além disso, o custo marginal da expansão está em trajetória de alta, principalmente devido ao custo mais elevado dos projetos de eólica e solar.
“Na prática, aquilo que pressionaria o preço para baixo, que seria o preço do regulado e o custo da expansão, não vão acontecer, então essa régua subiu”, disse Sadock. Segundo ela, não é mais “óbvio” que haverá pressão de preços, mas, caso ocorra, os contratos de longo prazo são todos com “ótimos retornos” garantidos para a companhia.
A companhia tem cerca de 1 GW em projetos em construção, sendo 322 MW no parque eólico Tucano, que deve ser concluído ainda neste ano, e 684 MW no parque eólico de Cajuína, que deve entrar em operação em 2023.
Segundo Sadock, a expectativa da companhia é terminar de explorar Cajuína, que ainda não está 100% contratado, antes do fim do desconto da energia incentivada, que valerá para projetos outorgados que entrem em operação até 2025.
Ainda que a AES busque muitos contratos de energia incentivada, para os grandes consumidores, alguns contratos tem sido de energia convencional, com lastro nas hidrelétricas do grupo. Segundo Rogério Jorge, vice-presidente comercial da companhia, o desconto da incentivada é mais representativo na conta de luz do consumidor livre de menor porte.
“Temos a flexibilidade justamente em razão de nosso portfólio de adequar convencional aos clientes conectados em alta tensão, e direcionar a incentivada dos greenfields aos clientes que tenham tarifa mais cara, em função do nível de tensão em que estão conectados. Assim, conseguimos criar valor para os dois”, disse Jorge.