A CPFL Energia vê 2022 como um ano de “bastante turbulência”, tanto pela conjuntura internacional, com a guerra na Ucrânia, como pelo contexto doméstico de eleições no final deste ano. Ao mesmo tempo em que a elétrica planeja participar dos leilões de transmissão previstos para este ano, e avalia oportunidades de aquisição no mercado, também busca antecipar todos os refinanciamentos necessários ainda no primeiro semestre.
“Temos visto um mercado de M&A [sigla em inglês para fusões e aquisições] ativo, com vários ativos brownfield [operacionais] vindo ao mercado, com várias oportunidades que podem surgir ao longo do ano, e monitoramos isso constantemente”, disse Gustavo Estrella, presidente da CPFL, durante teleconferência sobre os resultados de 2021.
A CPFL Energia não pretende participar do leilão de privatização dos ativos de geração da CEEE, mas Estrella lembrou que a companhia tem direito de preferência de compra de algumas usinas nas quais são sócias. “Passado o leilão, podemos ou não exercer o direito de compra, mas não de venda”, explicou.
Segundo o executivo, a companhia está se preparando para participar dos leilões de transmissão previstos para este ano, principalmente o de junho, que será de maior porte. “A ideia é avaliar quais lotes fazem sentido para nossa estratégia, buscando sinergias com nossos negócios atuais”, disse.
A competição, contudo, promete ser acirrada, segundo Estrella. O presidente da CPFL lembrou outros desafios, como o aumento expressivo dos custos das commodities, mão de obra e escassez de materiais. “Isso já tem acontecido, mas a expectativa é que seja ainda mais grave, as cadeias logísticas serão mais afetadas”, afirmou.
Com o cenário de maior volatilidade, a CPFL deve revisar seu custo de capital para que seja aderente aos níveis de risco e retorno dos ativos no mercado.
“Temos expectativa de bastante turbulência, seja na guerra, que não sabemos quanto vai durar nem o quanto pode afetar o mercado, seja aqui dentro, olhando o tema de eleição. Nosso plano é refinanciar tudo que a gente precisa até maio ou junho no máximo”, disse Estrella. A dívida da CPFL Transmissão, novo nome dos ativos de transmissão da CEEE que foram comprados pela companhia em leilão de privatização, também entrará nesse esforço.
A recuperação da CPFL Transmissão envolve ainda investimentos da ordem de R$ 1,5 bilhão na empresa, a fim de maximizar seu valor.
Os investimentos nos ativos da companhia são outra prioridade para maximizar seus resultados. No período de 2022 a 2026, a CPFL pretende investir R$ 21 bilhões, sendo 17,6 bilhões nas distribuidoras do grupo, R$ 1,9 bilhão em transmissão, R$ 1,2 bilhão em geração e R$ 262 milhões em comercialização e serviços.
“Temos um capex desafiador para execução, mas que garante crescimento contínuo de resultados da companhia no longo prazo”, afirmou Estrella.
Em distribuição, o cenário é desafiador também por conta da questão da inadimplência, que já foi um problema entre 2020 e 2021. O executivo comentou a aprovação da Conta Escassez Hídrica pela Aneel, com limite de até R$ 5,3 bilhões. “Isso ajuda, mitiga, mas continuaremos tendo reajustes possivelmente de dois dígitos para a maioria das distribuidoras. É um cenário desafiador que agrava ainda mais a situação de inadimplência”, disse.
Resultados
No quarto trimestre do ano passado, a CPFL teve lucro líquido de R$ 1,3 bilhão, aumento de 34,5% na comparação anual. A receita líquida subiu 17,7%, a R$ 10,9 bilhões, apesar da queda de 0,8% nas vendas de energia em suas áreas de concessão de distribuição, para 17.363 GWh. O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) subiu 32,4%, a R$ 2,5 bilhões.
As provisões para créditos de liquidação duvidosa recuaram 30,2% no quarto trimestre do ano na comparação com o trimestre anterior, para R$ 75 milhões, mas tiveram aumento de 42,9% em relação aos R$ 52,5 milhões do último trimestre de 2020.
