(com Camila Maia)
O resultado da Petrobras no terceiro trimestre do ano foi bem recebido por analistas do setor e pelo mercado. Apesar do prejuízo líquido, os especialistas destacam que a gestão da estatal conseguiu entregar uma forte geração de fluxo de caixa no período, ao mesmo tempo em que obteve redução do endividamento, mesmo com um cenário macroeconômico prejudicado pela crise global do covid-19 e pelos preços reduzidos do petróleo no mercado internacional.
“A administração da companhia, apesar das suas limitações, está fazendo o melhor para atenuar esses fatores negativos. Ainda acreditamos que a Petrobras está avançando na direção correta, se tornando mais eficiente e competitiva em escala global”, diz o relatório do UBS, assinado pelos analistas Luiz Carvalho e Gabriel Barra.
Relatórios dos bancos Credit Suisse e UBS, além do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), destacam como positivo o Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado da companhia, de R$ 33,44 bilhões, que superou as expectativas do mercado, diante da redução dos custos de extração e ganhos com estoques.
De acordo com o CBIE, o Ebitda reportado pela petroleira refletiu o efeito combinado do aumento do fator de utilização das refinarias, que ficou acima de 80%, e o crescimento das vendas de combustíveis, reportado no resultado operacional da empresa na semana passada.
O CBIE também destacou a geração de caixa da companhia e a redução da dívida bruta da empresa, de US$ 91,2 bilhões, no segundo trimestre, para US$ 79,58 bilhões, no trimestre terminado em setembro. O nível de endividamento, medido pela relação dívida líquida/Ebitda, ficou praticamente estável, passando de 2,34 vezes para 2,33 vezes, na mesma comparação.
Com relação ao resultado na última linha, um prejuízo de R$ 1,546 bilhão, o efeito já era esperado, na avaliação do CBIE. A perda, no entendimento da consultoria, deve-se a uma combinação do percentual de dívida da Petrobras com o câmbio médio de R$ 5,38, o que gerou um impacto negativo.
O Credit Suisse também enxergou que a variação cambial afetou o resultado financeiro da Petrobras. Para a casa de análise, ainda assim, o resultado reportado pela petroleira foi melhor do que o esperado.
Para outro analista do setor, em condição de anonimato, o resultado da Petrobras veio em linha com o esperado, mas a expectativa do consenso do mercado estava mais baixa.
O Credit Suisse, que também reforçou os pontos positivos operacionais e da geração de caixa da Petrobras, destacou ainda a mudança da política de distribuição de dividendos, que possibilita a remuneração aos acionistas com base na redução da dívida líquida em 12 meses, mesmo sem haver lucro contábil. Para o banco, a alteração faz sentido devido à diferença entre a rápida desalavancagem da companhia e os seus resultados contábeis. No acumulado do ano, a Petrobras registra um prejuízo de R$ 52,8 bilhões.
O UBS também viu com bons olhos na nova política de dividendos da companhia, já que vai melhorar o retorno do capital aos investidores. Neste ano, os analistas apontam que a estatal deve fechar com prejuízo, mas esperam uma redução da sua dívida líquida de US$ 8,5 bilhões, montante que seria o máximo a ser distribuído neste ano. Esse volume seria suficiente para remunerar tanto os acionistas preferencialistas quanto os ordinárias, já que o pagamento mínimo para as ações preferenciais estimado pelo UBS é de R$ 4,4 bilhões.
O CBIE, porém, alerta que, para o quarto trimestre, o preço do petróleo deverá ficar entre US$ 40 e US$ 45 o barril, ante US$ 64 em igual período do ano passado. Devido a essa diferençam, a Petrobras pode se ver obrigada a realizar um efeito de atualização de suas reservas, podendo afetar de forma negativa o lucro da empresa.