A comercializadora Ideal Energia entrou com um pedido de recuperação judicial, depois de ser desligada da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) no início de julho, por não honrar com pagamentos de contratos no Mecanismo de Venda de Excedentes (MVE) da ordem de R$ 8,7 milhões. No total, a empresa estima que os passivos podem chegar a R$ 100 milhões, considerando o vencimento antecipado de seus contratos e as multas de rescisão aplicadas.
No pedido de recuperação judicial apresentado na Justiça de São Paulo, foram anexadas listas de débitos vencidos da ordem de R$ 14,2 milhões, além de dívidas que vão vencer que somam R$ 55 milhões. Os valores estão concentrados em grandes casas, como Enel, EDP, Shell e Copel, e incluem passivos de contratos bilaterais e também de negócios relacionados ao MVE. Segundo fontes, essas empresas terão condições de absorver os prejuízos sem gerar novas inadimplências em cascata no mercado de energia.
Além da proteção judicial contra credores, com suspensão de ações e execuções em curso, a Ideal Energia pediu à Justiça que reverta o desligamento da comercializadora na CCEE, sobretudo considerando que os valores inadimplidos que justificaram o desligamento estarão sujeitos à recuperação judicial.
Segundo o pedido de recuperação judicial, em julho de 2021, diante do cenário de escassez hídrica, a Ideal Energia comprou energia no MVE para janeiro a dezembro de 2022 para possuir lastro e evitar penalidades caso operasse em déficit. A comercializadora lembra que, na época do MVE, o PLD chegou ao teto de R$ 583,88/MWh, o que justificou a compra de energia pelo mecanismo a preços superiores ao PLD praticado atualmente, na faixa de R$ 60/MWh.
Em setembro do ano passado, a companhia negociou uma operação de venda de energia de longo prazo para um grande consumidor industrial, que chegou a ser aceita e escriturada no balanço da empresa, mas não foi concretizada. Isso culminou na crise financeira, de acordo com o documento, que não dá mais detalhes sobre os problemas da operação em questão.
A comercializadora foi fundada em 2018 por traders vindos da Capitale Energia. Thiago Silva, um dos sócios-diretores, teve uma passagem de mais de quatro anos pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Segundo fontes, desde o ano passado, a Ideal Energia vinha informando as contrapartes sobre conversas para entrada de um novo sócio, a Eco Partners Investimentos e Participações. “Eles tinham um bom balanço em 2020 e falaram desse novo sócio, induzindo o mercado a confiar”, disse uma fonte, que falou sob condição de anonimato.
A CCEE foi procurada e afirmou que determinou o desligamento da Ideal Energia em razão do descumprimento de obrigações financeiras na liquidação do MVE, com valores em aberto na ordem de R$12,7 milhões.
Além do processo de recuperação judicial, a Ideal Energia questionou a decisão da CCEE em um pedido de impugnação apresentado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), sob a justificativa de que está tomando as providências para que os débitos sejam quitados “o mais rápido possível”.
O processo está na pauta da próxima reunião da diretoria da Aneel, e o diretor Hélvio Guerra, relator do item, já disponibilizou seu voto, no qual comenta que a comercializadora não indicou os dispositivos normativos violados pela CCEE para justificar o pedido, e “sequer contestou o procedimento”. O voto do relator rejeita o pedido, mas ainda precisará ser submetido aos outros diretores na reunião da próxima semana.
A MegaWhat tentou falar com a Ideal Energia e seus executivos, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. A Eco Partners também não respondeu.