
Com um prejuízo líquido de R$ 562,9 milhões no segundo trimestre, mais de 30 vezes superior à perda de R$ 17,6 milhões do mesmo período de 2024, a Auren Energia reforçou nesta sexta-feira, 8 de agosto, o discurso de cautela, indicando que só deve voltar a avaliar aquisições se elas oferecerem retorno “excepcional”.
A prioridade segue sendo a redução do seu endividamento, que chegou a 4,8 vezes a relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado, 0,2 ponto abaixo da registrada no fim de março.
“A prioridade zero da companhia é desalavancar. Então, qualquer nova iniciativa de aquisição, o retorno precisa ser excepcionalmente bom”, disse Fábio Zanfelice, presidente da Auren, em teleconferência sobre os resultados do segundo trimestre de 2025.
Apesar do prejuízo, a administração classificou os resultados como “excelentes”, destacando o Ebitda ajustado recorde de R$ 2,2 bilhões no semestre e o avanço da estratégia comercial.
“O que faremos na companhia, que não afeta a alavancagem, é continuar avançando em duas frentes. A primeira é muita energia na comercialização agora, com a criação do ecossistema em trono da comercialização de energia, preparando a companhia para a evolução do mercado”, disse Zanfelice.
O outro ponto fundamental é manter a resiliência frente a flutuações ou alterações no mercado. “A companhia sempre busca estar numa posição de robustez e exiliência acima da média. Foi assim quando a gente construiu o portfólio ótimo, foi assim como a gente atuou em relação à expectativa de transferências para o mercado, é assim que a gente tem atuado em relação a captura de sinergias”, disse.
Receita em alta, despesa financeira também
No trimestre, a receita líquida da Auren cresceu 25%, a R$ 2,88 bilhões, e o Ebitda (sigla para resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) somou R$ 981 milhões, alta de 18,1%.
Parte desse desempenho se deve à consolidação dos ativos incorporados com a aquisição da AES Brasil, especialmente nos segmentos eólico e solar, além do ganho de R$ 40 milhões com modulação horária da geração hidrelétrica, que limitou os impactos do curtailment de R$ 76 milhões para um efeito líquido de R$ 35 milhões.
A aquisição da AES, porém, também é o motivo do aumento do endividamento da companhia. A dívida líquida chegou a R$ 18,7 bilhões no trimestre, alteração mínima em relação a março, quando estava em R$ 18,9 bilhões, sendo que o prazo de pagamento médio cresceu de 6,8 para 7 anos. A posição de caixa da empresa, de R$ 6,4 bilhões, é suficiente para cobrir a dívida por mais de quatro anos.
Com o aumento da dívida, o resultado financeiro líquido foi negativo em R$ 644,6 milhões, 64,2% maior que o saldo negativo de R$ 392,6 milhões registrado no segundo trimestre de 2024. O resultado financeiro refletiu um aumento de 44% nas despesas financeiras, principalmente por conta de juros, e isso impactou o resultado líquido da companhia, ajudando a explicar o prejuízo de mais de meio bilhão de reais.
Estratégia de comercialização da Auren
Outro destaque foi a estratégia de comercialização. Segundo Zanfelice, a empresa fechou contratos de autoprodução somando cerca de 200 MW médios com preços acima de R$ 220/MWh e prazo médio de 15 anos, reforçando a aposta da Auren em travar margens longas e rentabilizar o portfólio no ambiente de mercado livre.
Mesmo com alta nos volumes gerados, os ativos solares foram afetados por curtailment — quando a geração é interrompida por restrições na rede — e produziram apenas 69% do nível esperado no percentil P90. Já os ativos eólicos atingiram 102% do P90 pelo segundo trimestre consecutivo, com melhora na disponibilidade dos parques adquiridos da AES.
“Nossa meta é atingir 94% de P90 ao final desse ano, antecipando em um ano a nossa expectativa que tínhamos quando fizemos o plano de negócios da aquisição da AES”, afirmou.
A geração eólica cresceu 12% no trimestre, a 1.279 MW médios, e poderia ter sido maior se não fosse o curtailment, a 1.414 MW médios. A solar, por sua vez, subiu 29%, a 144 MW médios, e teria chegado a 208 MW médios se não fossem os cortes.