A entrada de Wilson Ferreira Junior no comando da Petrobras Distribuidora (BR) está colocando a companhia no caminho de ser “o posto da energia limpa”, de olho nas oportunidades trazidas pelo cenário de transição energética.
“Temos clareza absoluta de que a energia elétrica é o combustível do futuro. Vamos passar por uma transição, e não tenho dúvida de que o energético da transição é o gás natural. Precisamos nos posicionar para o que vem pela frente”, disse Ferreira Junior, em teleconferência sobre os resultados da BR no primeiro trimestre do ano – a primeira desde que o executivo assumiu, de fato, a cadeira de presidente, há um mês e meio aproximadamente.
Para determinar a estratégia de longo prazo do grupo, foi contratado o Boston Consulting Group, que vai desenhar uma visão que deve ser apresentada aos investidores e analistas no BR Day, no segundo semestre do ano.
Segundo Ferreira, serão colocados planos para todas as tendências, incluindo quais os cenários, em função da transição energética, podem afetar os negócios do setor de combustíveis no Brasil e no mundo. “Precisamos orientar nossa visão de varejo, qual a velocidade do impacto”, disse o executivo.
O mesmo vale para o tema de lojas de conveniência. O planejamento estratégico vá apontar os formatos vencedores desse modelo de negócio, a fim de capturar as oportunidades de crescimento de forma competitiva.
A mobilidade também será discutida, a partir das tendências de uso de veículos e transporte multimodal. “Todas essas tendências vão impactar de alguma maneira nosso mercado, potencializado vantagens competitivas da BR”, explicou.
A posição da BR, de contato frequente com clientes comerciais e também finais (B2B e B2C), deve ser uma vantagem competitiva na entrada da companhia no mundo da energia elétrica e também de gás natural. “O setor elétrico tem 30% do volume de energia vendida aos clientes finais pelas comercializadoras. Entramos nesse negócio e entendemos que seremos fornecedores importantes de energia elétrica para suportar a transição nesses clientes, também com gás natural”, afirmou.
“Temos a intenção de ser o posto da energia limpa”, disse Ferreira. Segundo ele, a companhia já oferece essa condição aos revendedores, e há a possibilidade de os postos parceiros serem atendidos com energia renovável, por exemplo, com vantagem no preço de energia.
A BR também está de olho em ativos de distribuição de gás natural que possam ser privatizados. “O movimento de privatização das distribuidoras de energia também vai acontecer no gás, e queremos estar preparados. Claro que, olhando na essência da nossa missão, era mais óbvio imaginar que olharíamos compradores de combustíveis. O mercado de gás ainda precisa se desenvolver, mas ainda não temos decisão estratégica”, disse o presidente da companhia.
Resultados, dividendos e investimentos
A BR Distribuidora terminou o primeiro trimestre do ano com lucro líquido de R$ 492 milhões, aumento de 110,3% na comparação anual. A receita líquida subiu 23,3%, para R$ 26,1 bilhões, enquanto o volume de vendas teve leve alta de 1,6%, para 9,3 milhões de m³. O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado somou R$ 1,2 bilhão, aumento de 116,9%.
Ao fim do trimestre, a relação entre dívida líquida e Ebitda da companhia estava em 1,2 vez, mesmo nível do quarto trimestre do ano passado e inferior a alavancagem de 1,4 vez do fim de março de 2020.
Ao longo do trimestre, a companhia fez captações de R$ 2,8 bilhões em instrumentos bilaterais, fez o pagamento de R$ 498,3 milhões em juros sobre capital próprio (JCP) e, em abril, fez a distribuição de R$ 1,1 bilhão em dividendos, com anuncio de outros R$ 700 milhões a serem distribuídos até o fim do ano, o que representa um dividend yield de aproximadamente 10%, considerando o preço médio da ação em 2020.
Segundo André Natal, diretor financeiro da companhia, de fato, a BR tem conseguido crescer com baixa intensidade de capital, o que gera uma combinação forte de cada vez mais caixa. “Dentro da banda mais alta de alavancagem que temos autorizada, isso de fato cria um potencial bastante forte de alocação de capital adicional”, disse.
Mesmo com a distribuição desses proventos, a BR ainda tem cerca de R$ 5 bilhões em “poder de fogo” para este ano, segundo Natal. Ao fim de março, a empresa tinha saldo de R$ 3,9 bilhões em caixa.
“O ponto ótimo vai ser uma combinação de tentar achar oportunidades de alocação de capital orgânicas e inorgânicas”, disse Natal. As respostas devem vir dessa revisão da estratégia de longo prazo.
Caso a empresa não encontre oportunidades atrativas para investir em crescimento, pode fazer novas distribuições de proventos. “Não queremos ter uma política de dividendos engessada e deixar de alocar capital no futuro porque nos comprometemos com isso, mas os dividendos sempre serão fortes. Não queremos reter caixa à toa, queremos ter eficiência na gestão, mas queremos reservar parte da alavancagem para fazer alocações interessantes que vislumbrarmos pela frente”, afirmou Natal.
“O driver principal da BR é a criação sustentável de valor. Você não verá ansiedade de fazer algo só pra aumentar a alavancagem. Sabemos que há potencial de criação de valor e vamos fazer de forma absolutamente consciente e sem pressa”, disse Ferreira Junior.