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Cemig revisa política de risco e age para mitigar exposição no mercado livre

Sérgio Cabral, vice-presidente de Comercialização da Cemig (Divulgação)
Sérgio Cabral, vice-presidente de Comercialização da Cemig (Divulgação)

A Cemig reduziu o “apetite ao risco” nas operações da comercializadora após contabilizar os impactos da exposição a diferenças de preços praticados entre os submercados, elevação do curtailment e ter problemas com a Gold Energia. Em entrevista à MegaWhat, Sérgio Cabral, vice-presidente de Comercialização da companhia, destacou que a estratégia após os problemas passa por uma revisão da política de risco.  

Para lidar com isso, a companhia tem buscado realizar operações com maior proteção, direcionando seus negócios a contrapartes com maior solidez patrimonial. 

“Estamos olhando solidez no patrimônio para poder fazer frente a esses solavancos do mercado que podem acontecer. Também estamos acompanhando discussões sobre mecanismos que tragam mais segurança e amadurecimento ao mercado”, afirmou o executivo. 

Diferença de preços de submercados

Em 2025, a Cemig tem cerca 700 a 800 MW médios contratados no Nordeste e Norte para entrega nas regiões Sudeste/Centro-Oeste, o que expõe os negócios às diferenças de preços entre os dois submercados.

No primeiro trimestre de 2025, a companhia registrou um impacto negativo de R$ 87,9 milhões no lucro da área de comercialização de energia. O prejuízo decorre da exposição de aproximadamente 570 MW médios à variação de preços entre as diferentes regiões, já que o PLD ficou consideravelmente mais baixo no Nordeste e alto no Sudeste.

Cabral explicou que essa exposição ocorreu após a empresa ter vendido algumas de suas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e diante do aumento do curtailment (cortes na geração renovável), especialmente no Nordeste.

“A diferença entre os submercados não nos pegou de surpresa, mas foi mais intensa do que o esperado. A venda das PCHs gerou um gap de energia, e compramos no Norte e Nordeste por conta de oportunidades nos preços. Hoje, 80% da energia que compro e vendo é do mercado, e 20% é [gerada pela] Cemig. Para o segundo semestre, prevemos diferenças mais equalizadas, por conta, principalmente, da expectativa de melhorias nas condições climáticas”, destacou. 

Mitigação do curtailment

No que diz respeito ao tratamento contratual do curtailment, a Cemig tem deixado alguns contratos de compra e venda com margem de risco transferida ao gerador, incluindo cláusulas de compensação quando a entrega é inferior ao contratado. Na visão de Cabral, esse cenário está longe do ideal. 

Além da estratégia para lidar com o curtailment, a Cemig cobriu algumas posições no mercado spot de energia e adotou algumas operações de swap como forma de proteção.  

O executivo também destacou que a Cemig prevê atender 10.150 unidades consumidoras no mercado livre em 2025, sendo aproximadamente 6 mil no mercado atacadista e 4 mil no varejista. Atualmente, a empresa atende 9.100 unidades consumidoras. 

A empresa também se prepara para atuar no varejo de baixa tensão, assim que essa modalidade for regulamentada e permitida. Dentro deste mercado, Cabral chama atenção para como será o modelo de preços do setor elétrico e sua adequabilidade ao cenário do dia a dia. 

“Hoje, a comercialização sofre com a volatilidade de preço e entendemos que faz parte do modelo atual do mercado. Mas, estamos caminhando para uma abertura de mercado com preço ainda matemático. Hoje, o sistema absorve, porque estamos falando de grandes consumidores, mas o próprio varejo já não é composto por grandes consumidores e vemos certa suscetibilidade aos preços. Isso, para a baixa tensão, será um item muito mais relevante”, falou em participação na última semana em evento do Lide.

Desistência de projetos em Minas Gerais 

Nos últimos meses, algumas empresas desistiram de projetos solares em Minas Gerais devido à falta de capacidade de escoamento de energia no curto e médio prazo. De acordo com Cabral, o problema é sistêmico e agravado, e precisa de uma solução urgente, já que pode impactar diretamente os preços da energia negociada. 

“Sabemos de casos de usinas que começaram a operar agora e têm 80% de curtailment, por exemplo, dependendo da hora do dia. Precisamos de soluções de médio e longo prazo, com reforço nas linhas de transmissão”, afirmou. 

Segundo ele, a Cemig tem participado ativamente de discussões sobre o aumento do intercâmbio entre o Nordeste e os submercados Sul e Sudeste, e vê com otimismo o indicativo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) de liberar 4 GW adicionais para escoamento, o que traria mais tranquilidade no longo prazo.

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