O lucro líquido da AES Brasil recuou 14,9% no primeiro trimestre deste ano, a R$ 60,4 milhões, devido ao aumento do resultado financeiro negativo, que cresceu 52,4%, a R$ 144,8 milhões.
O resultado financeiro negativo reflete o aumento das taxas de juros da dívida da companhia, um impacto pontual devido à estratégia da AES de fazer captações de curto prazo suficientes para concluir as obras em andamento, em meio às incertezas no mercado de capitais.
“Preferimos tomar dívidas mais curtas, de dois anos, e garantir que vamos ter tempo razoável para rolar a dívida ou captar no longo prazo”, disse Alessandro Gregori, diretor vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores da AES Brasil. A ideia é evitar que a empresa fique “presa” no longo prazo com uma dívida mais cara, devido ao momento conjuntural da economia e do mercado de capitais. Assim, o custo sobe momentaneamente, mas deve recuar gradualmente nos próximos anos, levando a empresa a uma posição de endividamento mais confortável.
Segundo ele, ainda que isso penalize conjunturalmente o lucro neste momento, dá “previsibilidade e tranquilidade” para que a AES possa concluir as obras dos complexos Tucano e Cajuína, ao mesmo tempo em que negocia novos contratos de longo prazo (PPAs, na sigla em inglês) com grandes consumidores, para viabilizar a expansão desses empreendimentos.
A companhia está concluindo as obras de 322 MW do Complexo Tucano, na Bahia, e 695 MW do complexo de Cajuína, no Rio Grande do Norte. Segundo Gregori, em Cajuína, há 14 máquinas operacionais do primeiro cluster, de 55 num total, enquanto 28 operando em Tucano, de um total de 50 máquinas.
Com a entrada em operação desses empreendimentos, a tendência é que a geração de caixa cresça, ajudando a reduzir a alavancagem, que até 2025 deve estar “compatível com uma empresa madura” de geração.
A AES informou, na divulgação dos resultados, que fechou mais um grande PPA para 153,9 MW de Cajuína, sem a necessidade de expansão do projeto em construção. “Fechamos com um preço muito interessante, o contrato tem 15 anos. Com essa venda, garantimos nosso índice de contratação de portfólio de 100% em 2023, e aumenta em 7 pontos percentuais no período de 2024 a 2027”, explicou. A empresa não divulgou o nome do comprador, mas informou que se trata de uma “contraparte de excelente perfil de crédito”.
A estratégia é contratar o portfólio a preços atrativos em PPAs de longo prazo, com preços acima de R$ 190/MWh, chegando a R$ 200/MWh em 2027. “Temos um portfólio com preços bons, apesar de toda a discussão em andamento sobre a hidrologia”, disse Gregori, se referindo ao preço do mercado de curto prazo, que está no piso de R$ 69,04/MWh.
Em paralelo, a AES continua com a estratégia de negociar novos contratos com consumidores varejistas, de olho na abertura do mercado para toda a alta tensão a partir de 2024. Neste primeiro trimestre, foram vendidos 18 MW médios, chegando a um portfólio de 62 MW médios em consumidores desta categoria. Os contratos são de prazos menores, indexados a inflação, já que os consumidores deste perfil ainda preferem ter a opção de retornar às distribuidoras caso os preços do mercado cativo fiquem mais atrativos.
“Esses contratos tendem a ser mais curtos, não usamos para viabilizar investimentos, mas temos lastro de energia incentivada para comercializar neles”, explicou Gregori.
A companhia tem ainda negociações para cerca de 2 GW em projetos com grandes consumidores, de um pipeline desenvolvido de 1,5 GW, enquadrado ainda em geração incentvada, com direito ao desconto na tarifa pelo uso da rede.
Números da AES
No primeiro trimestre do ano, a receita operacional líquida da companhia cresceu 16,2%, a R$ 786,3 milhões, e os custos com energia recuaram 7,7%, a R$ 226,4 milhões.
O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado para reversões de contingência e baixas de ativos cesceu 30,6%, a R$ 409,3 milhões.
A energia gerada pelas hidrelétricas do grupo cresceu 29,5% no trimestre, a 3.427,6 GWh. Na fonte eólica, houve incremento da geração de quase todos os ativos, além da entrada de novos projetos e aqueles adquiridos no fim do ano passado. Com isso, houve aumento geral de 136,5%, a 964,9 GWh.
Já a geração solar fotovoltaica foi castigada pelas chuvas, que resultaram em menor insolação, e caiu 5,7%, a 144,9 GWh.