Geração

Com SAF, biometano e solar, Itaipu quer futuro além da hidreletricidade

Enio Verri, diretor-geral de Itaipu Binacional
Enio Verri, diretor-geral de Itaipu Binacional

A Itaipu Binacional tem investido em pesquisa e inovação tecnológica para pavimentar seu futuro além já reconhecida geração de energia hidrelétrica, com 14 GW de capacidade instalada, explica o diretor-geral do lado brasileiro de Itaipu, Enio Verri.

Na COP30, marcada para novembro, em Belém, a usina planeja apresentar um barco movido a hidrogênio verde. Segundo o pesquisador do Centro de Tecnologias de Hidrogênio do Itaipu Parquetec, Dan Yushin Miyaji, a embarcação é apenas para demonstração e foi desenvolvida para atuar na coleta de resíduos das ilhas na região de Belém, que hoje é feita com barcos movidos a óleo diesel.

A inovação é fruto de um projeto de pesquisas em hidrogênio que começou há 15 anos em Itaipu, como forma de desenvolver novas fontes de energia e de aproveitar o potencial energético da usina.

Energia solar para abastecer a própria usina

O hidrogênio verde não é a única frente de inovação de Itaipu, que deve concluir até o fim do ano a instalação de uma planta de energia solar flutuante, com capacidade de produção de 1 MWp.

A planta-piloto recebeu investimentos de US$ 850 mil e terá 1,5 mil placas em uma área de 1 hectare, explica o superintendente de Energias Renováveis de Itaipu, Rogério Meneghetti.

Segundo o especialista, Itaipu tem potencial para receber até 14 GW de potência solar flutuante, o que significaria dobrar a atual capacidade de geração hidrelétrica. Neste caso, as placas ocupariam cerca de 10% da área do reservatório da usina. Uma geração deste porte dependeria de mudanças no tratado da usina entre Brasil e Paraguai.

O projeto-piloto deverá investigar o impacto das placas flutuantes sobre a qualidade da água e do reservatório de Itaipu. A verificação é um dos itens a serem observados, assim como um comparativo do desempenho da usina flutuante com a geração solar em terra na própria Itaipu, os processos de manutenção, custos, entre outros fatores. Assim, o projeto deverá monitorar os efeitos das placas sobre a área por pelo menos um ano.

A energia gerada será destinada aos prédios administrativos de Itaipu. “Toda a energia que nós consumimos, a gente espera produzir através da energia solar. Com isso, sobra mais para oferecer à sociedade”, comentou Verri.

SAF a partir de biogás

O Itaipu Parquetec também desenvolve biosyncrude, uma substância equivalente a óleo cru, mas feito a partir de biogás e hidrogênio verde. A matéria-prima pode ser usada para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês).

Foi neste ambiente que começaram alguns dos primeiros testes com biometano para a substituição de gás natural. Hoje, o gás produzido ali abastece uma frota da própria usina. Segundo Itaipu, os resultados dos experimentos ali embasaram a regulação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) sobre a equivalência de biometano e gás natural.

Em outra frente de Itaipu junto ao CIBiogás, uma planta de biogás foi instalada no município de Toledo, no Paraná, para produção do gás a partir de dejetos agroindustriais e da suinocultura da região. A produção média é de 6,3 m³ de biogás por dia, que alimentam uma térmica de 0,5 MW de capacidade instalada.

A produção mínima, de 265 MWh por mês, é destinada à geração distribuída por autoconsumo. A unidade também estuda a comercialização de créditos de carbono e uma ampliação para a produção de biometano. “O texto da geração distribuída foi a partir dessa experiência que começou lá”, conta Verri.

No projeto de Toledo, Itaipu investiu cerca de R$ 19 milhões, sendo R$ 13 milhões apenas na planta, além de estudos na região. Ao oferecer uma destinação adequada aos dejetos agrícolas da área de entorno do reservatório, a usina preserva a qualidade da água e a longevidade do reservatório.

*A repórter viajou à usina a convite de Itaipu