
A Cosan lançou uma oferta facultativa de recompra de até R$ 2 bilhões em debêntures emitidas em 2023, vincendas em 2028. Segundo comunicado ao mercado desta quarta-feira, 12 de março, a oferta tem por objetivo dar continuidade ao seu processo de gestão do perfil do endividamento consolidado.
O movimento acontece após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2024 da empresa na última semana, quando a Cosan registrou prejuízo de R$ 9,3 bilhões, ante um lucro de R$ 2,3 bilhões registrado nos últimos três meses de 2023. O desempenho foi afetado negativamente principalmente pelo impairment do investimento na Vale e pela provisão relacionada a expectativa de realização de Imposto de Renda e CSLL diferidos.
Em evento no início de fevereiro, O fundador e sócio controlador da Cosan, Rubens Ometto, disse que, após levar um “tombo” com a desistência de participação acionária na Vale, a empresa tem “apanhado” para reorganizar seus investimentos em etanol de segunda geração (E2G) na Raízen, joint-venture da companhia e da Shell. Conforme levantamento feito pela Elos Ayta Consultoria a pedido da coluna Painel S.A., da Folha de S. Paulo, o endividamento da Raízen atingiu seu pior patamar desde que a companhia abriu capital na Bolsa, em 2021. Hoje, seria preciso que a empresa fosse três vezes maior, em patrimônio, para o pagamento de sua dívida.
Cosan: Recompra de debêntures
Os papéis alvos da recompra foram ofertados em abril e junho de 2023, respectivamente com taxa equivalente a CDI mais 2,4%. Para os papéis da quinta emissão, a Cosan pretende pagar um prêmio máximo equivalente de 1,5%. Na compra da sexta emissão, o prêmio será de 1,4%.
A companhia pagaria juros aos debenturistas em abril, mas decidiu recomprar os títulos. A oferta de aquisição facultativa será concluída se ocorrer a compra de, no mínimo, 5% da quinta emissão e 5% da sexta emissão, sendo que o Itaú BBA vai intermediar a operação.
Os titulares das debêntures poderão manifestar sua intenção de alienação até 27 de março de 2025. A liquidação da aquisição dos papéis que aderirem à oferta será efetuada mediante o pagamento, pela companhia, à vista, em moeda corrente nacional, no dia 31 de março de 2025.
Segundo a empresa, após a aquisição, as debêntures serão canceladas.
O último trimestre da Cosan
“Nós tivemos ao longo do ano o reconhecimento de algo próximo de R$ 5 bilhões de resultados de equivalência patrimonial, porém, um impacto negativo no ano de 2024 pelo impairment do valor das ações da Vale que foram alienadas, refletindo uma expectativa de realização que o preço de venda acabou sendo inferior ao que nós tínhamos registrado em balanço”, disse Rodrigo Araujo Alves, diretor Vice-Presidente Financeiro e de Relações com Investidores da empresa, em teleconferência com investidores na última semana sobre os resultados de 2024.
Excluindo esses efeitos, o prejuízo do trimestre foi de R$ 1,6 bilhão, refletindo a piora dos resultados de Raízen e Compass.
O lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebtida, na sigla em inglês) ficou negativo em R$ 5,16 bilhões, ante o resultado positivo de R$ 2,63 bilhões um ano antes.
Sobre a Raízen, Araujo destacou que a Cosan tem uma agenda de simplificação, otimização de capex, de desinvestimentos e de melhoria de performance operacional, além de olhar para alternativas de entrada de eventuais sócios.
“Caso aconteça, é preciso aprovação do nosso outro sócio para eventuais parceiros em negócios da companhia. Avaliamos eventualmente a entrada de parceiros, não tem nada específico em andamento, mas obviamente é uma das coisas que a gente considera”, disse o executivo.
Em complemento, Marcelo Martins, diretor presidente da Cosan, disse que pode ser considerado, pela empresa, a necessidade de separação dos negócios.
“Há necessidade clara de uma revisão do nosso portfólio de usinas. Nós estamos nesse momento fazendo isso e há possibilidade também efetiva de, em algum momento, reduzir esse portfólio”, destacou Martins.