A Engie, que reportou níveis de curtailment na casa de 15% no terceiro trimestre, acima dos 13% da média nacional, avalia que os cortes na geração renovável devem continuar em 2025 em níveis semelhantes aos de 2024.
Em teleconferência com investidores sobre o desempenho da companhia no terceiro trimestre de 2024, o diretor Financeiro da Engie, Eduardo Takamori, avaliou que a entrada em operação de novas linhas de transmissão e os novos requisitos de corte adotados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) “já ajudam”, mas não devem ser capazes de reduzir a intensidade do curtailment.
“No final das contas, a gente ainda tem uma sobreoferta muito expressiva, e cuja demanda não acompanhou. Então é esperado, sim, que que continue um nível bastante elevado de curtailment no ano que vem”, disse Takamori.
A geração das hidrelétricas da Engie, que aumentou 7,93% na base anual, a 5,1 GW médios, ajudou a compensar os efeitos do curtailment, segundo a empresa.
A companhia não vê os cortes como um problema em si, pois já devem ser considerados na decisão de investimento. “Naturalmente, ele reduz a energia, mas você tem uma energia a ser vendida ainda a preço remanescente. Acontece em todos os países, não é uma exclusividade do Brasil”, disse Takamori aos investidores.
Para ele, os principais desafios para novos projetos de geração no Brasil estão na sobreoferta de energia, no “desenho de mercado que não estimula uma competição mais clara” e nos subsídios que “injetam dinheiro por fora do ambiente de mercado”. “Não temos um problema técnico ou conceitual para lidar com o curtailment. Aqui o problema é que ele foi atenuado por fatores externos à competição”, disse.
Sem pressa para vender energia
A Engie reportou estar sem energia disponível em 2024. Entre 2025 e 2028, os percentuais de disponibilidade vão de 6% a 43%. A companhia adota uma estratégia de venda gradual da disponibilidade futura de energia, com preservação de reserva para proteção contra risco hidrológico. “Não temos nenhuma urgência para vender grandes blocos de energia, vamos escolher os momentos de mercado”, disse Rafael Bósio, gerente de Relações com Investidores da Engie.
Diante da melhora da hidrologia, a empresa avalia que os preços da energia devem continuar pressionados para baixo no médio-longo prazo, o que reduz o apetite da Engie para venda. “A gente vai continuar com a nossa estratégia de vender sempre, mas de forma gradual, não concentrada, para também não deixar dinheiro na mesa, não contratar com preço muito baixo. E, com isso, eliminando a disponibilidade de energia que a gente tem no nosso portfolio”, disse Bósio.
Leilões
A diretoria da Engie confirmou o interesse em participar do próximo leilão de transmissão, previsto para outubro de 2025, e disse não ter um teto para os investimentos, desde que os projetos sejam bons.
A companhia ainda adiantou que deve haver uma antecipação “significativa, acima do prazo estabelecido no edital” da entrega do Lote 1 do leilão de transmissão 02/2024 , realizado em setembro pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O Sistema de Transmissão de Graúna, como foi batizado, prevê a implantação de 780 quilômetros de linhas e a continuidade na prestação do serviço para mais 162,6 quilômetros de linhas e a duas subestações já existentes.
Já para o leilão de reserva de capacidade, a companhia disse aguardar as definições do edital. “Temos dois ativos em condições de contribuir, tanto o Salto Santiago quanto o Jaguara, mas de fato depende muito das condições do edital”, disse Takamori, se referindo a duas hidrelétricas da empresa.
Em relação às baterias, o executivo lembrou que a Engie já tem operações com baterias em outras regiões no mundo, tanto dando suporte para o sistema, quanto como stand-alone. “A gente sabe operar, conhece a tecnologia. Vamos olhar, sim. Na medida em que o governo e os órgãos de planejamento indicarem com mais clareza quais são as condições do edital, a gente vai poder ter uma visão pouco mais clara também da nossa participação”, disse Takamori.
“E é claro, como a gente detém esse conhecimento, já implementamos uma capacidade bastante expressiva de baterias no mundo, a gente pode contribuir com o desenho desse edital de forma que ele seja competitivo e que traga valor para a sociedade”, complementou o executivo.
A diretoria da Engie também comentou sobre a participação da empresa na Transportadora Associada de Gás (TAG). Em dezembro de 2023, a Engie Brasil vendeu fatia de 15% de participação na transportadora. Segundo Bósio e Takamori, a venda ocorreu porque o negócio da TAG não é o core business da Engie Brasil, mas resultou em uma “reciclagem” de capital vantajosa para a empresa. Segundo os executivos, a participação da Engie Brasil na TAG deve permanecer como está hoje, sem aumento ou venda do capital remanescente.
Resultados
No terceiro trimestre de 2024, a Engie Brasil registrou lucro líquido de R$ 658 milhões, com queda de 24,1% na comparação anual. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 1,65 milhões, o que representou uma queda de 3,1% em relação ao mesmo período do ano passado.
A venda de energia aumentou 4,3%, a 4.050 MW médios. A produção bruta de energia foi de 6.338 MW médios, com crescimento de 13,2% na base anual.
O curtailment eólico foi de 12% nos parques eólicos da Engie, enquanto a média nacional, segundo a empresa, foi de 11%. Na geração solar, 19% da produção da Engie foi cortada, contra 22% da média do Sistema Interligado Nacional (SIN). Assim, no total, o curtailment da Engie foi de 14% no trimestre, contra 12% da média do SIN, nos cálculos da empresa.