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Eletrobras ajusta estratégia de vendas diante de distorções de preços de energia entre submercados

Sede Eletrobras - Crédito: Divulgação
Eletrobras / Crédito: Fernando Frazão (Agência Brasil)

A Eletrobras espera uma maior participação de usinas hidrelétricas no leilão de reserva de capacidade, que pretende disputar e conseguir contratos para uma fração dos quase 6 GW de potências disponíveis em seu portfólio. A companhia também prevê uma redução no descolamento dos preços de energia entre os submercados brasileiros no segundo semestre de 2025.

As declarações foram feitas durante a teleconferência de apresentação dos resultados financeiros da Eletrobras no primeiro trimestre de 2025 (1T25), quando a empresa também reafirmou sua intenção de vender a participação de 35% na Eletronuclear.

Descolamento de preços e estratégias da Eletrobras

De acordo com Eduardo Haiama, vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores da Eletrobras, o foco da empresa no início do ano foi mitigar os impactos causados pelo descasamento de preços de energia elétrica entre os submercados. Para isso, a Eletrobras aumentou as vendas e deixou parte do volume de energia descontratada para o segundo semestre.

“Esperávamos que o PLD ficasse no piso, devido ao volume de chuvas expressivo até fevereiro, e fizemos um ‘hedge’. Vendemos geração do Nordeste e Norte no Sudeste e tínhamos expectativa de mitigar o preço mínimo. Mas, houve um deslocamento grande entre as regiões [a partir de março] e essa estratégia não zerou a exposição. Para o segundo trimestre em diante, não faremos isso”, disse o executivo.

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Em março, o PLD do Nordeste ficou quase o tempo todo no piso de R$ 58,60/MWh, e o preço do Sudeste chegou a R$ 400/MWh. No mercado de energia, o produtor recebe o PLD do submercado em que gerou a energia e paga o valor referente ao submercado onde efetuou a venda, o que gerou desequilíbrios para empresas como a Eletrobras, que vendeu geração do Nordeste a consumidores do Sudeste.

O cenário de preços foi um dos fatores que impactou a redução de 4,1% do Ebitda regulatório ajustado da companhia no período.

O custo de energia comprada para revenda subiu 111,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. As empresas do grupo que apresentaram uma exposição negativa (posição short) em volume de energia contabilizam a energia liquidada no mercado de curto prazo na rubrica energia comprada para revenda. Por outro lado, as empresas com exposição positiva (posição long) contabilizam a energia liquidada no mercado de curto prazo na receita.

Segundo a companhia, o trimestre teve aumento no volume de energia comercializada no mercado livre devido à sazonalização dos contratos. A energia vendida no mercado alcançou 23,2 TWh, alta de 67,9%. Já a venda no mercado de energia regulado foi de 10,1%, crescimento de 3%.

Estratégias de mitigação e perspectivas futuras

Para Rodrigo Limp, vice-presidente de Regulação, Institucional e Mercado na Eletrobras, o cenário de março trouxe um novo patamar de preços para o restante do ano e para os seguintes. Em sua opinião, o descolamento foi “extremo”, mas será presente, com menor impacto, no mercado, especialmente entre o Sudeste e o Nordeste, por conta da oferta grande de fontes intermitentes.

Com a chegada do fim do período úmido no Norte, a tendência apontada é de redução do descasamento em relação ao Sudeste até o final do ano.

“Para mitigar o risco, temos algumas formas, como aumentar as vendas Norte e Nordeste, o que não é simples. Também fizemos operações swap ainda no primeiro trimestre para mitigar um pouco do impacto. No segundo semestre, geralmente entre junho e novembro, são esperados valores colados de preço ou muito próximos entre as regiões, o que naturalmente traz benefícios para a Eletrobras, dado que temos uma grande quantidade de recursos no Norte”, afirmou

Leilão de Reserva de Capacidade e desinvestimentos

Segundo Elio Wolff, vice-presidente de Estratégia e Desenvolvimento de Negócios, a Eletrobras está preparada para participar do leilão de reserva de capacidade, com potencial de oferecer parte dos 6 GW disponíveis.

“Esperamos um aumento da participação de hidrelétricas com a evolução das regras. Habilitaremos uma fração dessa potência para este ano e poderemos ampliar nossa contribuição em futuros leilões”, afirmou Wolff.

O CEO da Eletrobras, Ivan Monteiro, confirmou que a empresa continuará com o plano de desinvestimento na Eletronuclear, processo que começou em 2023 e avançará depois da Eletrobras assinar termo de conciliação sobre o aumento de vagas do governo no seu conselho de administração e de desinvestimento da companhia na usina nuclear de Angra 3, planta da Eletronuclear.

O acordo busca encerrar a judicialização iniciada pelo governo em 2023 cumprindo uma promessa da campanha eleitoral de Lula em 2022, quando foram feitas muitas críticas à privatização da companhia.

Desempenho Financeiro da Eletrobras no 1T25

A empresa registrou prejuízo líquido de R$ 354 milhões no primeiro trimestre, revertendo o lucro de R$ 331 milhões do mesmo período em 2024.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) regulatório ajustado totalizou R$ 5,3 bilhões no período, queda de 4,1%.

A receita operacional líquida regulatória ficou estável em relação aos meses de janeiro a março de 2024, em R$9,71 bilhões.

A dívida líquida totalizou R$ 39,27 bilhões, redução de R$ 1,56 bilhão comparada ao 1T24.

Segundo a empresa, o desempenho é reflexo da menor receita de transmissão, dos maiores custos com energia comprada para revenda e da menor contribuição dos resultados das participações societárias, que foram parcialmente compensados pelo aumento da receita de geração, redução dos custos e despesas com PMSO e menor volume de provisões reconhecidas no trimestre.

Ivan Monteiro também achou atenção para o valor da provisão líquida de R$ 77 milhões, reflexo da redução da inadimplência com a energia vendida para Amazonas Energia, de R$ 432 milhões no primeiro trimestre de 2024 para R$ 56 milhões no primeiro trimestre de 2025.