O aumento das dificuldades de implementação de projetos eólicos e solares no médio e longo prazo, devido aos desafios envolvendo a modulação dos preços e o curtailment, trazem um viés de volatilidade aos preços de energia no Brasil, segundo o vice-presidente de comercialização e soluções em energia da Eletrobras, Ítalo Freitas.
“As renováveis variáveis estão com mais dificuldade de serem implantadas, isso pressiona o preço para cima, sem dúvida nenhuma. Não temos a mesma quantidade de projetos feitos nos últimos dez anos planejados para os próximos seis anos. Por quê? Temos a questão da modulação, outros desafios, como curtailment, e os custos de implantação. Tudo isso pressiona o preço como um todo no mercado, trazendo um viés de alta”, falou o executivo durante teleconferência de resultados do terceiro trimestre do ano.
Em sua apresentação, o vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores, Eduardo Haiama, destacou que a “volatilidade de preços veio para ficar” e que a Eletrobras tem se posicionado para aproveitar as oportunidades. Segundo ele, a Eletrobras, que tem portfólio de geração quase integralmente composto por hidrelétricas, tem oportunidades resultantes do tema da modulação dos preços horários de energia ao longo dos dias. Isso acontece porque as usinas são despachadas em horários em que os preços de energia são mais altos do que a média diária, nos horários de pico de demanda.
>> Depois do curtailment, modulação pressiona projetos de geração solar.
Haiama mostrou um exemplo de outubro, quando o PLD médio ficou aos R$ 663/MWh e a geração média da Eletrobras em 26,5 GW médios. Sem a modulação, este cenário geraria uma receita no dia de R$ 421,6 milhões. Por outro lado, a modulação gerou uma receita de R$ 431 milhões, efeito positivo de R$ 9,4 milhões para MRE no subsistema do Sudeste.
“Quanto seria esse prêmio para as hidrelétricas? No terceiro trimestre, quando a oscilação de preços era relativamente pequena, a diferença entre o horário de venda seria de R$ 3,00 a R $ 6,00 a mais para as hidrelétricas. Em outubro, o ganho já foi quase seis vezes o valor do trimestre inteiro. A volatilidade veio para ficar e vai aparecer nos nossos resultados futuros”, destacou.
Capacidade produtiva
Por sua vez, Renato Costa Santos Carreira, vice-presidente de Suprimentos e Serviços, destacou a tendência de aumento nos preços devido à pressão da matéria-prima, alta da demanda pelos equipamentos e a falta de capacidade produtiva.
Segundo ele, apesar de os fornecedores terem planos de expansão nas suas fábricas ao redor do mundo, não conseguem reagir e investir rápido, pois esperam confirmações de tendência no longo prazo para expandir.
“Temos ações de mitigação voltadas para a economia de escala, pelo fato de termos consolidado as demandas de todo o grupo. Estamos implementando contratos de longo prazo para os equipamentos. Temos um mix entre acordos de longo prazo e spot, dependendo da situação, e conseguimos mitigar e controlar melhor esses custos, que pressionam o capex”, disse.
Mercado livre de energia
Com uma quantidade considerável de energia disponível para ser negociada no mercado livre, a Eletrobras busca contrapartes saudáveis e não está exposta a comercializadoras que enfrentam dificuldades financeiras devido à inadimplência contratual no mercado livre de energia elétrica, segundo Ivan Monteiro, presidente da empresa.
De acordo com executivo, a volatilidade do mercado levou algumas comercializadoras passarem por situações mais “críticas nos balanços”, assunto que pode levar o mercado a amadurecer.
Em complemento, Ítalo Freitas destacou que é necessário pautar a segurança do mercado, que já apresentou avanços significativos desde a abertura no início do ano.
PMSO e ACT
Monteiro disse ainda que a Eletrobras está focada na redução de seus custos operacionais e buscará atingir um patamar de R$ 5,5 bilhões anuais em 2026 para a linha de pessoal, Material, Serviços e Outro (PMSO). Para 2024, a empresa espera encerrar com custos de PMSO abaixo de R$ 7 bilhões.
“Essa é a trajetória, que vai estar nas peças orçamentárias que a companhia vai submeter na diretoria executiva e no conselho de administração, é um compromisso inabalável da companhia e achamos absolutamente factível de atingirmos esses números e essa performance”, afirmou.
As reduções do PMSO ocorrem em meio às negociações com sindicatos dos trabalhadores da Eletrobras sobre o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT). No momento, ainda não assinaram o acordo a base da empresa no Rio de Janeiro e os profissionais de Furnas.
“Fizemos uma proposta nos mesmos termos, uma proposta muito vantajosa, para adesão desse grupo, esse grupo resolveu não aderir. Seguimos com as conversas, com mediação do TST, mas para o momento atual estamos seguindo a nossa vida normal, de reposição dos funcionários, de otimização dos recursos”, afirmou Renato Carreira, responsável pela vice-presidência de Gente, Gestão e Cultura.
>> Eletrobras destitui VP de RH após decisão do TST sobre demissões em massa
Resultados Eletrobras
A Eletrobras reportou lucro líquido de R$ 7,195 bilhões no terceiro trimestre de 2024, alta de 387,3% na comparação anual.
Houve crescimento também na receita operacional líquida, que atingiu R$ 11,04 bilhões, elevação de 25,8%. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado somou R$ 11,96 bilhões, alta de 164%.
O indicador de alavancagem financeira, medido pela dívida líquida ajustada/Ebitda ajustado, ficou em 1,7 vezes em setembro de 2024.
As empresas Eletrobras venderam 38,7 TWh de energia no 3T24, aumento de 18% em relação aos 32,8 TWh negociados no 3T23. Os volumes vendidos incluem a energia das usinas sob o regime de cotas, renovadas pela Lei 12.783/2013, bem como das usinas sob regime de exploração (Ambiente de Contratação Livre e Ambiente de Contratação Regulado) e das SPEs consolidadas (UHEs Teles Pires, a partir de out/23; Baguari, a partir de out/23; Retiro Baixo, a partir de nov/23; e Santo Antonio, a partir de nov/23).