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Eletrobras disponibilizará informações demandadas caso privatização seja questionada, diz Wilson Ferreira Junior

O possível questionamento da privatização da Eletrobras pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrará uma empresa disposta a compartilhar todas as informações necessárias. Em teleconferência sobre os resultados da companhia no primeiro trimestre do ano, o presidente da companhia, Wilson Ferreira Junior, reiterou que a maior vantagem do seu modelo de privatização, por meio de uma capitalização, foi manter a empresa no Brasil, e com um potencial muito maior de investimentos.

Wilson Pinto Ferreira Júnior, Chief Executive Officer, Eletrobras, Brazil, speaking at the World Economic Forum on Latin America 2018 in Sao Paulo, Brazil. Copyright by World Economic Forum / Benedikt von Loebell
Wilson Pinto Ferreira Júnior, Chief Executive Officer, Eletrobras, Brazil, speaking at the World Economic Forum on Latin America 2018 in Sao Paulo, Brazil. Copyright by World Economic Forum / Benedikt von Loebell

O possível questionamento da privatização da Eletrobras pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrará uma empresa disposta a compartilhar todas as informações necessárias. Em teleconferência sobre os resultados da companhia no primeiro trimestre do ano, o presidente da companhia, Wilson Ferreira Junior, reiterou que a maior vantagem do seu modelo de privatização, por meio de uma capitalização, foi manter a empresa no Brasil, e com um potencial muito maior de investimentos.

Segundo ele, os resultados operacionais divulgados agora mostram que a decisão foi acertada, uma vez que os investimentos estão crescendo, ao mesmo tempo em que a elétrica está reduzindo custos e reestruturando suas atividades. 

“Eu tenho acompanhado o presidente Lula em seu interesse de aumentar investimentos no Brasil, e a Eletrobras tem sido um exemplo para ele usar, investindo três vezes o que fazia no passado, cumprindo o objetivo da privatização”, afirmou, repetindo por diversas ocasiões que a empresa hoje tem capacidade de investir mais de R$ 12 bilhões por ano, contra os R$ 4 bilhões do passado.

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O executivo foi questionado a respeito de uma reportagem publicada no jornal Folha de S. Paulo na tarde desta sexta-feira, 5 de maio, afirmando que o presidente Lula “mandou dizer” para o comando da Eletrobras que o governo “não se senta para negociar os novos rumos da companhia enquanto não houver substituições no conselho de administração e na diretoria-executiva”, incluindo o cargo de Wilson.

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“Não fui procurado”, afirmou o executivo, reiterando que a empresa sempre se colocou à disposição do Ministério de Minas e Energia para prestar as informações necessárias. “Reconheço aqui que a Justiça abre espaço para qualquer tipo de questionamento, não tenho como tolher, ou opinar, ou qualificar o desejo desse ou daquele”, afirmou.

Até o momento, segundo Ferreira Junior, foram ajuizadas quatro ações diretas de inconstitucionalidade questionando a validade da privatização no Supremo Tribunal Federal (STF), mas nenhum pedido de medida cautelar foi concedido, o que mostra que os processos vão correr no seu devido tempo.

Enquanto isso, a empresa continua conduzindo seus negócios, certa de que o processo de privatização foi aprovado pelo Congresso Nacional, além de ter aval de órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU) e o próprio STF.

“Não tenho como comentar o desejo de mexer nesse ou naquele. O conselho é eleito em assembleia geral de acionistas, não tenho nenhuma participação nisso”, disse o presidente da Eletrobras.

A maior crítica do governo é que, pelo modelo de privatização usado, a União continuou como a maior acionista da empresa, mas sem poder de voto correspondente, uma vez que foram impostas pelo seu estatuto travas para que nenhum acionista tenha poder superior a 10%. Assim, fica garantido que a empresa seja uma corporation, uma empresa sem controlador definido. 

A União não vendeu ações da empresa, mas abriu mão do direito de subscrição de uma oferta de ações feita pela empresa na bolsa, e foi diluída a menos de 50% do capital votante. Em contrapartida, a Eletrobras pagou cerca de R$ 27 bilhões em outorga pelos novos contratos de concessão das suas hidrelétricasl, e se comprometeu com aportes anuais na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e em programas de revitalização de bacias hidrográficas e na região da Amazonia Legal que chegam a quase R$ 30 bilhões, uma forma encontrada para compartilhar com a sociedade os ganhos da privatização.

Segundo Ferreira Junior, além disso, a privatização está sendo positiva para o país ao permitir o aumento de investimentos, já que a empresa passou anos sem novas aquisições ou vitórias em leilões, nem novos projetos relevantes, em meio a uma grave crise financeira. Em 2016, quando Ferreira assumiu o comando da empresa pela primeira vez, a Eletrobras não tinha um indicador de endividamento adequado, os dados não eram transparentes e as ações não eram acompanhadas por quase nenhuma casa de análises no mercado financeiro – como não havia informações, não era possível fazer modelos financeiros sobre o desempenho da empresa. A empresa quase chegou a ser deslistada pela Bolsa de Nova York, quando atrasou a entrega de documentos necessários, e os investidores foram penalizados com a desvalorização dos papéis.

Com a privatização, havia expectativa no mercado que o menor custo de capital e a agilidade da empresa fossem destravar valor, fazendo com que as ações pudessem chegar a faixa dos R$ 70. Contudo, depois de um pico na faixa de R$ 50 por ação, elas são negociadas hoje na faixa de R$ 30, em meio à pressão exercida pelo governo Lula pela sua reestatização.

Segundo Ferreira Junior, a depreciação do valor das ações sofre o impacto das falas do governo, mas o desempenho operacional da companhia indica um caminho oposto. “O que criamos é a Embraer ou a Vale do setor elétrico brasileiro, com acionistas brasileiros, administradores brasileiros, e decisões tomadas no Brasil”, disse.

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