A Eletrobras reconheceu que os preços baixos de energia, se mantidos, poderão colocar em risco a performance da companhia nos próximos anos, quando as 17 hidrelétricas do grupo passarão pela “descotização”, saindo do regime de cotas, na qual recebem uma receita regulada, para a livre negociação no mercado com consumidores livres ou cativos.
O alerta consta nos riscos elencados pela companhia em seu formulário 20-F arquivado na Securities and Exchange Commission (SEC), o órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos. Como a companhia tem recibos de ações (ADRs) negociados no mercado americano, é obrigada a prestar contas aos investidores, o que inclui a publicação anual deste relatório, que reúne todas as informações relevantes para os investidores.
Entre os riscos, a companhia destacou que a maior dependência do mercado livre de energia pode levar a efeitos adversos nas receitas e, consequentemente, nos seus resultados financeiros e operacionais.
“Ao contrario do mercado regulado, onde as tarifas são fixas e as receitas tendem a ser relativamente estáveis, a comercialização de energia no mercado livre é muito mais dinâmica e complexa e depende da análise de diversos fatores, como tendências de hidrologia, expectativas sobre oferta e demanda, comportamente histórico de preços e variáveis do mercado”, diz a Eletrobras no documento.
Segundo a empresa, as condições hidrológicas boas de 2022, combinadas ao aumento da capacidade instalada no país, levaram à queda nos preços de energia no curto e médio prazo. “Na época da nossa privatização, esperávamos um certo nível de preços nos próximos anos, o que não se materializou por conta do impacto das condições hidrológicas favoráveis de 2022”, explicou a empresa.
Ainda no documento, a Eletrobras destacou que sua estratégia de comercialização de energia busca manter um nível de energia contratada, a fim de maximizar o valor das vendas para que a exposição no mercado de curto prazo em períodos como esse seja “residual”.
Reestatização
A Eletrobras destacou ainda que seu processo de privatização está sendo questionado judicialmente, e que a reestatização é outro risco do qual os investidores precisam ter conhecimento.
Na data de publicação do documento, em 20 de abril, a Eletrobras contava com 23 processos judiciais questionando seu modelo de privatização, e a empresa não descarta ser alvo de um número ainda maior de ações nessa linha.
A antiga estatal lembrou ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem falado em acionar a Justiça para questionar a privatização e a mudança no estatuto social da companhia que colocou um limite em 10% do direito ao voto dos acionistas.
“Se nossa privatização for questionada, podemos ter dificuldade para levantar capital e manter nossos investimentos. Além disso, isso teria efeitos negativos em nossos ratings e nos preços de nossas ações”, alertou a companhia.
Calote no Amazonas
Outro risco relevante é o possivel calote da dívida devida pela companhia contra a Amazonas Energia. Ao fim de 2022, a Amazonas Energia devia R$ 7,6 bilhões à Eletronorte, e a empresa tinha R$ 7,3 bilhões provisionados no balanço.
Essa dívida vem da época em que a Amazonas Energia era subsidiária da Eletrobras. Quando a distribuidora foi privatizada, a dívida foi reestruturada e assumida pela Eletrobras.
Ao longo de 2022, segundo a Eletrobras, o risco de calote da Amazonas se agravou, uma vez que a empresa deve a deterioração das suas condições operacionais e financeiras.
“Apesar das interações constantes entre nós, a Eletronorte e a Amazonas Energia, falhamos em chegar a um acordo. Desde dezembro de 2021, não recebemos o pagamento de principal ou dos juros dos sete acordos de dívida com a Amazonas, o que levou ao aumento do provisionamento para a dívida”, explicou a empresa.
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