Com mais de 100 anos de história no setor de energia brasileiro fortemente alicerçados na distribuição, a Energisa se prepara para uma guinada estratégica, na qual os negócios não regulados ganharão cada vez mais importância a medida em que a abertura do mercado de energia avança.
A (Re)Energisa será a nova marca que vai englobar os negócios não regulados do grupo, incluindo geração distribuída, geração de renováveis para o mercado livre, comercialização de energia e serviços de valor agregado. “O movimento está alinhado com nossa visão de grupo, que é ser protagonista na transição energética, conectando os clientes à melhor solução”, disse Roberta Godói, vice-presidente de Soluções Energéticas e líder da nova divisão.
Neste primeiro momento, a nova marca vai reunir em uma só unidade de negócios atividades já existentes no grupo, como a Alsol, de geração distribuída, a Energisa Soluções, e a empresa de comercialização e gestão no mercado livre. A mudança, contudo, vai além disso, uma vez que envolve a destinação de cifras volumosas para esses negócios. “Esses negócios passam a ser a nova locomotiva de crescimento do grupo”, disse Godói.
Em 2021, os negócios não regulados representaram cerca de 8% do Ebitda (sigla em inglês para resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da companhia. Com os novos investimentos, a meta é que a (Re)Energisa atinja 25% do Ebitda da companhia em 2026.
No período de 2022 a 2026, o grupo vai investir em total de R$ 30 bilhões. No ano passado, 84% dos investimentos totais da companhia foram nas distribuidoras, restando 16% para os negócios não regulados. Em 2026, a participação subirá para 47%. “Esse percentual demonstra nossa visão de que temos que investir para alavancar os novos negócios que são promissores para o crescimento do grupo”, afirmou Godói.
Apenas em geração renovável, centralizada e distribuída, serão investidos cerca de R$ 2,3 bilhões até 2024.
Geração distribuída
Em geração distribuída, a Energisa já tem 77 MWp em projetos da fonte solar fotovoltaica, e pretende ampliar em mais 460 MWp nos próximos três anos, com a adição de 150 novas usinas. Nesse pacote, estão incluídos os 136 MWp em ativos recentemente comprados da Vision.
“Em 2021, construímos 15 usinas fotovoltaicas, e agora vamos construir outras 150. É outra dimensão, outro negócio, que ganhou um peso e importância bastante importante dentro do Grupo Energisa”, disse Godói. De acordo com a executiva, a meta é quintuplicar os 2 mil clientes de GD do grupo, chegando a 10 mil nesse horizonte de tempo.
Esse crescimento se dará tanto pelo desenvolvimento de projetos em casa, quanto por fusões e aquisições no mercado, segundo a executiva. Além disso, a companhia avalia parcerias em biogás, podendo diversificar também para biometano, CO2, biofertilizantes e outros derivados possíveis do biogás.
Como as distribuidoras da Energisa têm áreas de concessão que coincidem com o agronegócio, está no radar desenvolver projetos que possam transformar dejetos animais, resíduos do agro ou descartes da indústria em biogás.
Nova soluções
A intenção é capacitar o grupo para o momento de abertura do mercado de energia, por meio de soluções que o cliente poderá optar dependendo do seu momento. Um pequeno negócio, por exemplo, que seja cliente em GD, poderá posteriormente migrar para o mercado livre sem buscar novo provedor, se mantendo com a Energisa.
Para isso, a Energisa já tem uma varejista e alguns clientes atendidos no modelo, a fim de “aprender e dominar as variáveis”. “Percebemos que o trabalho da comercializadora varejista é muito mais parecido com a geração distribuída, quando falamos em aquisição do cliente e relacionamento, do que é da comercializadora no atacado”, afirmou Godói.
“Quando nos posicionamos como uma empresa de soluções, deixamos de vender o produto em si e passamos a ouvir a necessidade do cliente, qual seu desafio. E aí eu busco no meu portfólio o que é melhor para ele”, disse a executiva.
A empresa também pretende robustecer as soluções oferecidas hoje aos clientes, com planos que envolvem a combinação da geração renovável ao armazenamento por meio de baterias de lítio, por exemplo. O avanço do 5G no Brasil também abre possibilidades, ao permitir o desenvolvimento de tecnologias para monitoramento de consumidores ou otimização das linhas de transmissão, que antes não eram viáveis pela falta de conexão.
Aposta nas renováveis
O crescimento da comercialização de energia no grupo será apoiado por investimentos expressivos em novos projetos de geração renovável centralizada. Até 2026, a companhia pretende investir R$ 6,7 bilhões, chegando a 1,2 GW de potência. “Essa energia toda vai para a carteira da comercializadora, o que vai nos possibilitar acelerar o crescimento dela”, disse Godói.
Com os investimentos, a companhia espera subir dos atuais 2% de fatia do mercado livre para 12% em 2026.
Até o final de 2022, um parque solar de 78 MW de potência entra em operação comercial, na Paraíba. A companhia tem mais 240 MW em projetos de eólica na Bahia com as autorizações solicitadas, e muitos outros em estudo.
“Do total, 570 MW serão de empreendimentos próprios, e a diferença vamos buscar de outras formas, como M&As”, disse Godói, se referindo à sigla em inglês para fusões e aquisições.