A Enauta, que no começo de abril fez proposta de combinação de negócios com a 3R Petroleum, pretende concluir as diligências da transação até junho, quando acaba o período de exclusividade acertado entre as partes, segundo disse o presidente da Enauta, Décio Oddone. Ele voltou a mencionar que vê como méritos da transação a criação de uma empresa com escala e diversificação de portfólio, além do aproveitamento de sinergias entre as sócias.
Além da conclusão das diligências, os próximos passos seriam a finalização da estruturação do negócio e a submissão para os acionistas das duas empresas para então solicitar aprovação ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Segundo Oddone, a empresa vem executando seus planos de gás e energia de forma independente à negociação com a 3R, mas que tais ações seriam fortalecidas e ficariam “bem mais robustas” com a concretização do acordo. A proposta atravessou negociação que estava em andamento entre a 3R e a PetroReconcavo.
No contexto de combinação, a Enauta comprou 3,2% das ações da 3R. “A companhia gerou um fluxo de caixa livre nesse trimestre. Dentre as estratégias desenhadas para a integração com a 3R, passou a aquisição de ações ao mercado”, explicou o diretor financeiro da Enauta, Pedro Medeiros.
Medeiros também explicou que as tratativas com a 3R desaceleraram o programa de recompra de 20 milhões de ações da Enauta (7,5% do capital), que foi aprovado pelo Conselho de Administração.
“Quando a gente olha para 12, 24 meses, eventualmente a recompra pode ser um canal interessante para remunerarmos o nosso acionista, mas dado o andamento da nossa proposta de integração com a 3R, esse programa está sendo avaliado diariamente e de forma um pouco mais oportunística no curto prazo”, disse o diretor financeiro em teleconferência sobre os resultados do primeiro trimestre de 2024 realizada nesta terça-feira, 7 de maio.
Nova estratégia de comercialização para óleo com baixo enxofre
A Enauta informou que vem trabalhando em um novo formato de comercialização do óleo de Atlanta, que tem baixo teor de enxofre e por isso pode ser atrelado a um prêmio quando usado na produção de combustíveis marítimos. O novo modelo comercial deve ser implementado ao longo do segundo semestre.
A chegada do FPSO Atlanta, que tem chegada prevista para o segundo trimestre deste ano com capacidade de armazenamento de 1,6 milhão de barris, oferecerá “atributos logísticos muito superiores”, segundo o diretor financeiro Pedro Medeiros. O FPSO também deve proporcionar mais consistência operacional de produção e um fluxo superior em Atlanta. Neste contexto, a empresa avalia ser mais interessante aproveitar os ciclos de mercado para o produto em vez de fixar um preço de longo prazo.
O baixo teor de enxofre também seria encontrado no óleo de Parque das Conchas, que teve participação de 20% adquirida pela Enauta em dezembro, em uma transação ainda não concluída. “Quando a gente combina isso com a nossa participação societária no Parque das Conchas, a gente acredita que faz mais sentido desenvolver uma solução de comercialização que esteja mais associada a essa flexibilidade de atendimento ao mercado”, conclui o diretor.
Para Medeiros, a estratégia teria ainda sinergias com a 3R Petroleum, caso a combinação de negócios se concretize, já que a empresa também produz combustível marítimo de baixo teor de enxofre, que escoa pelo Polo Potiguar. “A gente está construindo uma estratégia à luz do que Atlanta e Parque das Conchas representam e, eventualmente, do que a integração com a 3R representa”, disse.
Westlawn
Em março, a Enauta fechou acordo com a Westlawn Americas Offshore para a venda de 20% da participação dos campos de Atlanta e Oliva. Para o presidente Décio Oddone, o negócio proporcionará fortalecimento do balanço e parceria para as próximas fases dos projetos. “É uma empresa com gente muito experimentada que vai agregar experiência também nessas próximas fases de Atlanta, especialmente de Oliva”, disse Oddone.
O executivo ponderou que o mais comum na indústria petroleira é que os principais campos sejam operados em consórcio, para reduzir o risco das empresas e possibilitar diversificação de portfólio. Era o caso de Atlanta, que acabou ficando 100% com a Enauta após arbitragem em função da falência da OGX.
“A Enauta era muito concentrada do ponto de vista de portfólio. A atração de um parceiro é desejável, normalmente. Agrega recurso, agrega reconhecimento e reduz risco”, avaliou Oddone, que não quis comentar sobre eventuais futuras parcerias com a Westlawn.
Resultados e operações no primeiro trimestre
No primeiro trimestre de 2024, a Enauta teve lucro líquido de R$ 209 milhões, montante 77,1% maior do que no mesmo período do ano passado. O fluxo de caixa livre, que foi negativo em R$ 223 milhões no primeiro trimestre de 2023, passou para R$ 46 milhões nos três meses encerrados em março deste ano.
O Ebitdax (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês, mais custos com as baixas de poços secos ou sub-comerciais ou baixas de blocos) foi de R$ 618 milhões no período, um aumento de 81,2% na comparação anual.
A produção passou de 15,8 mil barris de óleo equivalente por dia no primeiro trimestre de 2023 para 25,5 mil barris de óleo equivalente por dia no último trimestre. A produção líquida foi de 2,3 mil barris de óleo equivalente por dia, com aumento de 62,9% na comparação anual.
Com a concretização da aquisição de 23% em Parque das Conchas, que tem data efetiva de julho de 2023, a produção do primeiro trimestre de 2024 poderá chegar a 31,9 mil barris de óleo equivalente por dia. A produção do terceiro e quarto trimestres de 2023 também deverá ser revisada para cima com a concretização da negociação.
Segundo Décio Oddone, os resultados são reflexo dos esforços da companhia para estabilizar a produção do sistema antecipado de Atlanta e também de um período com preços “sólidos” de petróleo.
Para o segundo e terceiro trimestres de 2024, a Enauta espera maior intensidade em investimentos relacionados à instalação do FPSO Atlanta, incluindo entrega de equipamentos submarinos. Mesmo assim, os valores devem estar consistentes ao orçamento aprovado no início do projeto, em 2022, segundo Pedro Medeiros.
De acordo com os executivos, a data de primeiro óleo do sistema definitivo de Atlanta está mantida para agosto de 2024. A companhia já tem as licenças ambientais, faltando apenas a licença de operação.
“A gente já tem o campo em operação e o plano de emergência, que é a principal preocupação do Ibama quando um campo entra em produção, já está vigente pelo sistema antecipado. [Então] a gente acredita que esse é um processo relativamente rápido”, disse Décio Oddone.