
A Eneva avalia que há “boa chance” para despacho térmico por demanda energética no segundo semestre do ano, além do acionamento das plantas para atendimento de potência na ponta da carga. A avaliação é do diretor de Marketing, Comercialização e novos negócios da companhia, Marcelo Cruz Lopes, durante teleconferência de resultados do quarto trimestre realizada nesta sexta-feira, 21 de março.
Ele lembra que o preço de energia já subiu neste mês de março, com a reversão do período úmido. “É bom sempre lembrar que nesse ano a gente teve a entrada do modelo Newave Híbrido e mais do que isso teve um aumento no fator de segurança do modelo que o ONS [Operador Nacional do Sistema Elétrico] utiliza”, disse. Para os próximos meses há, ainda, o fim do período úmido no Norte do país.
Assim, o preço da energia deve continuar em patamares elevados, com possibilidade de aumento. “Deve-se acentuar a questão da necessidade de complemento para atender a potência. Então a gente acredita sim num cenário de geração térmica, pelo menos para potência, mas com boa chance também para ter alguma demanda energética a partir do segundo semestre”, disse Lopes.
Por outro lado, Lopes vê tendência de redução no curtailment de geração renovável em função da entrada em operação de novos ativos de transmissão.
Curtailment no parque Futura
“Precisamos encarar de frente, a gente teve um ano de 2024 muito ruim em Futura”, avalia o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Eneva, Marcelo Habibe, sobre o parque solar da companhia, localizado na Bahia com 837 MWp e adquirido pela companhia em 2022.
Segundo o executivo, depois de um primeiro semestre de estabilização, Futura teve curtailment de quase 20% no terceiro trimestre. No quarto trimestre, os cortes caíram “para menos da metade”, mas um problema no transformador do parque deixou metade da capacidade desligada por mais de um mês.
“E aí a gente pegou um período que precisou comprar energia, indenizar os nossos contratos bilaterais, e acabou gerando esse resultado infelizmente negativo, um Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês] negativo no quarto trimestre de 2024”, concluiu.
Hub Sergipe e Complexo Parnaíba
Em outubro, a Eneva enfrentou outro problema no ativo Hub Sergipe, que teve falhas no riser da FSRU. A companhia avalia que conseguiu eliminar os impactos financeiros no resultado consolidado a partir da atuação de diferentes áreas.
A mesa de comercialização de gás conseguiu suprimento alternativo para a UTE Porto de Sergipe, da própria Eneva e que faz parte do Hub, evitando penalidades por indisponibilidade, enquanto o gás natural liquefeito (GNL) que seria utilizado pela usina foi comercializado. As atividades do Hub Sergipe foram retomadas em janeiro de 2025.
Em relação ao Complexo Parnaíba, que teve sua capacidade de liquefação totalmente contratada no início de 2025, a diretoria da Eneva voltou a afirmar os interesses de expansão do complexo para ampliar a capacidade de atendimento a clientes fora das redes de gasoduto.
Resultados impactados por impairment de usinas a carvão
No quarto trimestre de 2024, a Eneva teve prejuízo líquido de R$ 962,6 milhões, ampliando o resultado negativo de R$ 290,6 milhões registrado um ano antes. O Ebitda foi de R$ 607,9 milhões, com queda de 41,3% em um ano.
Segundo a Eneva, o resultado se deve a impairment (depreciação) de ativos a carvão, que devem ficar descontratadas sem perspectivas de recontratação no próximo leilão, que deve admitir apenas usinas a gás natural ou biocombustíveis. “Reforço aqui que esse efeito é puramente contábil”, disse Habibe na teleconferência. “Desconsiderando o efeito do impairment no carvão, o Ebitda consolidado cresceu 20% na comparação dos trimestres, atingindo R$ 1,243 no quarto trimestre de 2024”, concluiu.
Outros fatores que impactaram o resultado foram as menores margens na comercialização de energia, a indisponibilidade do parque solar Futura com consequente necessidade de compra de energia no mercado e ressarcimento para atendimento a contratos bilaterais e gastos com a troca do riser do Hub Sergipe. A diferença cambial também foi um dos fatores que tiveram reflexos nos resultados da Eneva, já que a FSRU é arrendada em dólares.