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Eneva aposta em diversificação das ofertas de gás e em preço mais competitivo para ganhar mercado

Usina termelétrica no Complexo Parnaíba, da Eneva
Usina termelétrica no Complexo Parnaíba, da Eneva | Eneva

A aquisição da Centrais Elétricas de Sergipe (Celse) pela Eneva, anunciada nesta terça-feira, 31 de maio, vai dar acesso à companhia à infraestrutura de importação de gás natural liquefeito (GNL) na região, o que deve permitir a companhia a ter preços de gás mais competitivo no mercado brasileiro, com um mix entre molécula importada e produzida diretamente no país. 

“Acreditamos que um portfólio mais diversificado vai fazer com que sejamos mais competitivos”, disse Marcelo Cruz Lopes, diretor de Marketing, Comercialização e Novos Negócios da companhia, em teleconferência sobre o negócio realizada com investidores e analistas de mercado.

A Celse, que foi adquirida da New Fortress Energy e da EBrasil Energia por R$ 6,1 bilhões pela Eneva, é dona da termelétrica a gás natural Porto do Sergipe, de 1,6 GW de potência. O negócio não incluiu a compra do terminal de regaseificação, mas ele continuará afretado pela companhia até 2044. Também está vigente o contrato de fornecimento de GNL com a Ocean LNG por 25 anos.

O negócio abre oportunidades para a Eneva, já que o terminal afretado tem capacidade de regaseificação de 21 milhões de m³/dia, e a termelétrica utiliza 6 milhões de m³/dia quando despachada. Segundo Lopes, a Ocean, que é uma joint venture entre a ExxonMobil e a QatarEnergy, não tem preferência na futura contratação do gás adicional que poderá ser processado no terminal.

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Além disso, a companhia pode utilizar gás nacional, devido à proximidade da usina com as reservas da Bacia do Sergipe. Há uma unidade de processamento de gás natural instalada ao lado da usina. É esse mix de gás nacional e GNL que tem a aposta da Eneva para aumentar sua competitividade, ajudando a atingir mais clientes no segmento.

Segundo Marcelo Habibe, diretor financeiro da Eneva, como a termelétrica existente já remunera 100% dos custos do terminal de regaseificação afretado, novos projetos que aumentem o consumo do terminal vão “levar carona” e ser mais competitivos, assim como a demanda do gás para comercialização.

Mais termelétricas na carteira

O excedente de gás poderá ser aproveitado em outras termelétricas a serem construídas na região, cujos projetos também foram adquiridos pela Eneva no negócio, ou com a venda da molécula para consumidores finais e distribuidores, que terão o acesso por meio de gasoduto que deve ficar pronto em abril de 2024, conectando a região à malha da TAG. 

A carteira de 3,2 GW em projetos de geração termelétrica adquirida com a Celse deve ser desenvolvida para os próximos leilões de geração, segundo Lopes. Como esse pipeline está dividido em cinco projetos, alguns de maior porte e outros menores, isso dará à Eneva flexibilidade para se enquadrar na demanda dos leilões futuros, disse o executivo.

“Os projetos já possuem as licenças necessárias para participarem dos leilões, parte do pipeline já tem acesso a conexão, com margem de escoamento. A ideia é participar dos próximos leilões que teremos a partir do ano que vem”, disse Lopes. 

A companhia não deve entrar, contudo, dos leilões das termelétricas previstos pela Lei 14.182/2021, da privatização da Eletrobas, já que Sergipe não foi um estado contemplado pelas regras. 

O negócio

Além do desembolso de R$ 6,1 bilhões, a Eneva também vai assumir a dívida líquida da Celse, que era da ordem de R$ 4,1 bilhões ao fim do ano passado. O negócio depende ainda do aval de órgãos reguladores, inclusive pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o que deve acontecer no último trimestre deste ano. Como o pagamento será feito após essas aprovações, no fechamento definitivo do negócio, a Eneva ainda está negociando as condições do financiamento.

Segundo Habibe, a estrutura de capital será divulgada “em breve”, e pode contar com aporte de equity pela companhia. “Por maior que seja a transação, ela ajuda na desalavancagem da companhia”, disse o diretor.

Isso acontece porque a Celse tem uma expectativa de geração de Ebitda (sigla em inglês para resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 1,2 bilhão neste ano, ao mesmo tempo em que a dívida está sendo gradualmente reduzida, conforme o caixa é gerado. Segundo Habibe, a Celse deve fechar este ano com uma relação entre dívida líquida e Ebitda de 3,5 vezes, abaixo da relação da própria Eneva, que estava em 3,8 vezes no fim de março. 

“Ao juntar uma companhia com alavancagem menor, na média ponderada pós deal a alavancagem tende a ficar menor. De forma geral, o processo de desalavancagem da Eneva se acelera ainda mais”, disse.

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