As empresas AES Brasil, Cesp e Aliança Geração de Energia (joint venture entre Vale e Cemig) são as mais expostas à crise hídrica enfrentada no país atualmente, de acordo com relatório da agência de classificação de riscos Fitch Ratings. Na semana passada, a agência rebaixou o rating de crédito da AES de “AA+” para “AA”, diante da expectativa de aumento da alavancagem financeira associada aos maiores custos com compra de energia.
No caso de Aliança e Cesp, não houve mudança no rating, já que, segundo a Fitch, a queda na redução de caixa das empresas é gerenciável. A Cesp ficará pressionada em 2022, caso as condições hidrológicas sejam piores que as do cenário da Fitch e se a empresa não buscar proteções adicionais.
O novo cenário da Fitch considera um GSF médio de 25% em 2021 e de 20% em 2022. Novas compras de energia a partir desta data, considerando PLD e contratos bilaterais, devem ter como preço médio R$ 400/MWh em 2021 e R$ 200/MWh no ano que vem, segundo a agência de classificação de riscos.
O impacto previsto para este ano já foi absorvido pela Cesp, segundo a Fitch, que estima que a agência já tenha feito compras superiores a 360 MW médios para o ano, ao preço médio de R$ 232/MWh. Para o próximo ano, a agência estima um déficit de 74 MW médios.
O relatório da Fitch aponta ainda que empresas como Engie, Light, CPFL e Copel devem sofrer com o GSF, mas que os resultados positivos de outros segmentos devem compensar os eventuais impactos do cenário hidrológico. No caso da Engie, a empresa tem energia disponível para venda, e os preços altos devem beneficiar a companhia.
Estruturantes
No contexto da reavaliação do cenário hídrico, a Fitch colocou os ratings de créditos de cinco hidrelétricas em observação negativa. São três pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) – Quevedos, Rincão dos Albinos e Rincão de São Miguel – e mais as estruturas Santo Antonio Energia, concessionária da hidrelétrica de mesmo nome no rio Madeira (RO), e Norte Energia, concessionária de Belo Monte, no rio Xingu (PA).
Atualmente, Santo Antonio tem rating de longo prazo “BBB-“, com perspectiva estável, e a Norte Energia tem rating “AA”, com perspectiva negativa.
Segundo a Fitch, o risco hidrológico aumentado e a elevação dos preços de energia poderão impactar a liquidez desses projetos e as métricas de crédito esperadas, principalmente se outras medidas não forem tomadas para mitigar os riscos.
Santo Antonio e Norte Energia contrataram o seguro GSF para cobrir a parcela da energia vendida no mercado regulado, mas ambos os projetos comprometeram energia no mercado livre, no qual estão sujeitos ao GSF.
A observação negativa será resolvida quando a Fitch concluir a avaliação do impacto das novas premissas de GSF e PLD em cada emissão. A agência também vai considerar a estratégia de cada projeto para mitigar os riscos.