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Governo mineiro avalia privatizar Cemig antes da federalização avançar

Durante o evento, empresa falou da importância da privatização para destravar valor, criticou operação e destacou a importância da regulamentação do setor, da expansão da rede e das baterias.

Cemig/ Divulgação
Cemig/ Divulgação

A privatização da Cemig continua sendo um dos objetivos da gestão atual da estatal mineira, mesmo diante das tratativas para regularizar a dívida de Minas Gerais com a União, que podem envolver a federalização da companhia como contrapartida do estado.

Durante o Cemig Day, evento realizado pela empresa nesta terça-feira, 20 de agosto, com investidores e analistas para discutir os rumos da empresa, o secretário de Desenvolvimento Econômico do governo mineiro, Fernando Passalio, defendeu a privatização da empresa antes da sua federalização. A ideia é seguir os passos da Eletrobras e da Copel, que não tiveram o controle estatal vendido a um novo sócio privado, mas tiveram o controle diluído por meio de oferta de ações no mercado. Assim, se tornaram “corporations”, ou empresas sem controle definido.

“Uma outra opção que está sendo aventada, e que a gente vê com muito bons olhos, é a transformação da Cemig em uma corporation. Vamos colocar em um cenário hipotético, se nós fizéssemos a federalização depois de ela ser uma corporation. Todo o discurso que fiz aqui, de manter uma gestão mais técnica, ele será assegurado, uma vez que no controle difuso da corporation a gente passa a ter a União detendo as ações, acredito que até mais valorizadas, a gente faz um abatimento até maior da dívida, e a Cemig continua dando esse ‘show’ em investimentos e na promoção do desenvolvimento”, disse o secretário.

A fala veio após Passalio ser questionado sobre o andamento das conversas sobre a federalização da estatal. Para ele, o mecanismo pode ser um caminho para quitar a dívida do estado, estipulada em cerca R$ 160 bilhões, porém, se for confirmado, será um processo com um longo caminho para percorrer, sendo o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) “a melhor opção”.

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“O regime de reparação fiscal é a única opção que nós temos, por quê? O projeto [da federalização] já está sendo discutido no Congresso, que ainda não decidiu se vai ter veto. Entrou um bicho lá e não sabe que bicho que vai sair. Nós já estamos no regime de recuperação fiscal via liminar do Supremo. A nossa ideia é tirar essa insegurança de estar no regime por liminar e entrar no regime da forma regular, que é a autorização legislativa”, disse o secretário.

Fernando Passalio falou ainda que os direitos de tag along dos demais acionistas da Cemig poderiam desestimular o governo federal a assumir o controle, uma vez que isso implicaria o pagamento pela União de valores elevados nesse processo. “A gente não tem ainda essa página dois sendo construída, a federalização depende muito disso, dos valuations que serão feitos, se chegar nessa etapa”, destacou o secretário.

Privatizar a Cemig pode destravar valor

Durante o evento, o presidente do conselho de administração da Cemig, Márcio Luiz Simões Utsch, afirmou que a sua privatização faz parte da  visão de longo prazo da direção da empresa, como parte da estratégia para destravar valor. O executivo citou que o tema já foi uma meta do governador Romeu Zema tanto no primeiro quanto no atual mandato, que deveria “ir atrás” da ideia.

“Ele já falou isso várias vezes, e nós que estamos na Cemig concordamos com ele, se não concordássemos não estaríamos lá. Achamos que é uma boa saída e é um movimento importante, que depende do acionista controlador, que é o governo. Estou colocando esse ponto, porque é um ponto importante, para quem investe na Cemig, saber que há, realmente, essa visão de longo prazo.”, falou Utsch.

Segundo o presidente do conselho, hoje, a empresa enfrenta questões pragmáticas e não consegue, por exemplo, encontrar profissionais qualificados para suas necessidade e fornecedores com preços mais baixos, já que precisa fazer concursos e licitações todas as vezes.

“O que ganharíamos aqui dentro se eu puder contratar exatamente cada um para cada vaga e não contratar no atacado por um concurso? O que não quer dizer que as pessoas aqui são ruins, elas passaram em concursos, são geniais. Mas, precisamos alocar pessoas que pensem diferente nos lugares certos. Quais melhorias poderíamos ter?  Podemos destrava esse valor, que vai para a companhia”, afirmou o executivo.

O Distribution System Operators, baterias e a expansão das solares

Em seu painel, Afonso Henriques Moreira Santos, conselheiro de Administração e coordenador do Comitê de Inovação e Transição Energética da Cemig, criticou o modelo de operação centralizada por meio do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e defendeu a criação de uma regulamentação no setor elétrico, que seja capaz de alocar todas as fontes e tecnologias responsáveis pela descarbonização.

“O modelo ONS é bonito, durou bem, mas está na hora de mudar. Está na hora de nós descentralizarmos e a distribuidora ter o papel relevante na nova operação que é a chamada Distribution System Operators”, afirmou Santos.

O executivo ainda ressaltou que a expansão da fonte solar está estagnada por falta de expansão da rede, sendo o armazenamento de energia uma das soluções para destravar o mercado e ajudar na transição energética do país, mas a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o governo precisam avançar com a regulação.

Por sua vez, Reynaldo Passanezi, CEO da Cemig, aproveitou para destacar que baterias ainda não estão no planejamento estratégico da companhia, que pretende, eventualmente, avançar na questão para lidar com a intermitência em suas operações. Ele também falou sobre o papel das redes na transição energética, afirmando que se o Brasil quer trazer ampliar a instalação de data centers em seus estados é preciso investir na modalidade.

“Nós queremos, por exemplo, atrair data centers para o Brasil, mas é preciso muita rede. Hoje, vemos o ONS com problema de rede e o aumento do curtailment. Então, além do fato da rede estar depreciada, precisamos garantir qualidade e resiliência”, disse Passanezi.

Desinvestimentos, financiamento e concessões da Cemig

Enquanto os sistemas de armazenamento não entram no plano, a Cemig mantém a estratégia de vender seus ativos não estratégicos, incluindo o capital social na Taesa, segundo Marco Soligo, vice-presidente de Participações e de Geração e Transmissão.

Com um plano de investimentos de mais de R$ 6 bilhões em 2024, Leonardo Magalhães, vice-presidente de Finanças e Relação com Investidores, ressaltou que, apesar de estar com a alavancagem baixa, a companhia pretende acessar o mercado de capitais para poder financiar esses investimentos e não “sacrificar” a remuneração dos acionistas.

“Queremos manter uma alavancagem de 2,5% até 2027, o que pode permitir a companhia, eventualmente, participar de alguma fusão e aquisição.

Sobre a renovação das concessões das hidrelétricas Sá Carvalho, Emborcação e Nova Ponte, o CEO da Cemig disse que a empresa mantém uma interlocução com o Ministério de Minas e Energia para seguir com as plantas, por meio de cotas.

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